A desigualdade regional do desenvolvimento brasileiro

Jornal GGN – Um dos maiores desafios do Brasil é conseguir distribuir de maneira menos desigual os investimentos para o desenvolvimento de todas as regiões.

Com 44 milhões de habitantes, o estado de São Paulo representa 34% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Enquanto isso, o nordeste, com mais de 56 milhões de habitantes, produz apenas 13% do PIB.

Para fazer frente apenas à cidade de São Paulo é necessário juntar as três maiores cidades do nordeste: Fortaleza, Recife e Salvador.

É uma diferença difícil de combater. Pela lógica privada, a tendência é que novos investimentos, nacionais e estrangeiros, favoreçam o desenvolvimento das regiões que já são mais desenvolvidas.

Daí a importância dos investimentos públicos como, por exemplo, do Banco do Nordeste, empresa estatal com foco no desenvolvimento regional.

O assunto foi abordado por Alexandre B. Cabral, gerente geral do Banco do Nordeste, que apresentou alguns números da instituição no 65º Fórum de Debates Brasilianas.org.

“O Brasil, como vocês sabem, é um país continental, com 200 milhões de habitantes. E se a gente deixar que simplesmente o mercado comande as coisas, tudo converge para o mesmo local”, disse.

De acordo com Cabral, 86% dos US$ 66 bilhões de investimentos estrangeiros no Brasil vão apenas para São Paulo e Rio de Janeiro. “O próprio orçamento do BNDES. Por mais que ele faça um esforço monumental, ele vai aplicar lá os 13% no nordeste. Então, o papel do banco é justamente tentar mitigar, diminuir esse gap”, explicou.

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A distribuição desigual dos investimentos no desenvolvimento no Brasil

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“O Brasil é um país continental, com 200 milhões de habitantes. E se a gente deixar que simplesmente o mercado comande as coisas, tudo converge para o mesmo local. Por exemplo, o estado de São Paulo representa 34% do PIB com uma população de 44 milhões de habitantes. Para vocês terem uma ideia, a população do nordeste hoje é de 56 milhões de habitantes, com PIB de 13%. Então, o papel que o banco procura fazer é justamente buscar essas falhas de mercados e induzir ao crescimento”.

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A importância do turismo para o nordeste do país

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“O banco tenta fazer o seu papel. Por exemplo, nós construímos um programa no passado recente com o Banco Interamericano de Desenvolvimento [BID]. Foi batizado de PRODETUR (Programa de Desenvolvimento do Turismo) e o banco financiou para os estados os aeroportos do nordeste. Hoje, o nordeste desponta no turismo graças a esses aeroportos, que deram um bum de crescimento fantástico. Quando a taxa do dólar vai para R$ 4 o pessoal deixa de ir para Miami e vai para o nordeste. E a gente agradece”.

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O mercado de capitais ainda é muito pequeno

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“A questão do venture capital, por mais que o BNDES queira, também não há um deslocamento equânime por todo o país. Porque é muito mais fácil você achar um investimento de private equity, ou de venture capital, aqui no sul e sudeste do que no nordeste. Nós chegamos a montar um primeiro fundo de venture capital no nordeste, junto com o FOMIN (Fundo Multilateral de Investimentos). E investimos R$ 40 milhões. Dava aproximadamente seis ou sete investimentos, foi um sucesso muito grande. Mas isso é muito pequeno. Eu adoro mercado de capitais, mas mercado de capitais é um negócio muito, muito pequeno. Se você pegar o IBOVESPA, não sei se tem 70 empresas no hoje, não passa de 70 empresas dentro do índice. A discussão sobre mercado de capitais e como financiar o desenvolvimento através de mercado de capitais, faz 30 anos que eu escuto, não mudou muito. Melhorou, melhorou bastante. Mas a acessibilidade para fazer IPO, isso é retórica. Você conta nos dedos as empresas, ano a ano, que foram acessar mercado desse tipo de financiamento”.

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Catador de latinhas e vendedora da Avon: o foco em microfinanças

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“A gente contrata operações com o ticket médio muito pequeno. Para se ter uma ideia, em 2015 já contratamos três milhões de operações. O custo de transação para você contratar três milhões de operações é muito alto. Então, nós fomos pegar a tecnologia que foi desenvolvida no início com o Banco Mundial. E hoje nós transformamos no maior programa de microfinanças da América Latina. Começa com R$ 300 e vai ao máximo de R$ 15 mil. Nós estamos falando da base da base da pirâmide. Nós estamos financiando o cara que cata latinha de alumínio, a mulher que vende o produto da Avon. Ah, e por que o produto da Avon? Porque ela perdia muita venda. Entre comprar, receber e entregar ela perdia a venda. Então, com isso, ela montou o capital de giro e consegue chegar”.

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Os desafios conhecidos da infraestrutura nacional

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“Lá atrás, na década de 80, quando se falava nas Zonas de Processamento de Exportação, a Coréia estava começando. A Coréia hoje é uma potência global. E naquela época não era. O patamar era igual ou inferior ao Brasil. E nós ficamos na discussão, na briga tarifária, se vai ou se não vai. Perdemos o bonde e até hoje estamos fazendo lei para fazer ZPE. Até hoje, todo ano é notícia a questão do engarrafamento para escoamento da soja. Quando você olha o mapa do Brasil, a distribuição de ferrovias é completamente desigual. Quando se fala no programa de concessões, as concessões que estão feitas são nas estradas onde já tem fluxo, né? E onde ainda não tenha a estrada ou que a estrada não é boa? Como escoar a safra do Piauí? A safra de soja da Bahia? Como escoar a safra de soja de balsas do Maranhão? Então, assim, eu acredito que tem muito por fazer. Eu acho que, inclusive, o papel dos bancos públicos deveria ser não só fortalecido como ampliado”.

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O papel do Banco do Nordeste de mitigar as desigualdades

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“Nós, aqui, estamos focando no discurso do desenvolvimento nacional equilibrado, que precisamos melhorar a distribuição de renda, não só inter-regional, mas dentro das próprias regiões. Existe todo um espaço que a gente precisa atuar. Então, o banco atua, notadamente, com empresas, procurando chegar às regiões mais distantes. Porque o BNDES – adequadamente, aqui não há nenhuma crítica, é apenas uma constatação -, a sede fica no Rio de Janeiro. E a partir do Rio de Janeiro ele tenta atuar em todo o Brasil. Mas as distâncias do Brasil são imensas, né? A gente sai de Fortaleza para o Rio de Janeiro dá três horas de vôo. Com isso aí você corta a Europa todinha. As realidades são diferentes”.

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A questão ambiental e as operações voltadas para o clima

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“Há toda uma preocupação com as mudanças climáticas. No Protocolo de Kyoto havia financiamentos voltados para mecanismos que pudessem compensar as emissões de gases. Isso está sendo discutido novamente agora. E é um negócio que o país precisa discutir. Não vão ser os bancos privados que vão bancar isso. Por exemplo, sequestro de carbono, tem toda uma linha de atuação que os bancos públicos podem fazer. Quando fala assim: ‘a China fez sequestro de carbono’. O que ela fez? Fez dez mega hidrelétricas. Aí cada hidrelétrica dessa inundava milhares e milhares de hectares. Então, ela faz um mega programa e tem escala e consegue fazer. Para a gente fazer isso vai ser muito mais difícil. Tem todo um processo de desertificação acontecendo, por exemplo, no nordeste brasileiro. Porque qualquer cidade dos dois mil municípios do nordeste tem uma pizzaria e essa pizzaria queima lenha e essa lenha não é certificada, não tem manejo florestal”.

Redação

6 Comentários

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  1. Em todos os países do mundo. . .

    Em todos os países do mundo existe regiões mais desenvolvidas e outras menos desenvolvidas e os investimentos acabam sempre se concentrando nos locais de maior desenvolvimento porque lá estão também via de regra as maiores rendas per capita e melhores condições de se investir em comércio e indústria. Só o estado de São Paulo tem um PIB maior do que a Argentina.

    O que se precisa fazer é incentivar as políticas de combate a miséria absoluta, tipo Bolsa Família e também oferecer recursos para atividades que tem vantagens comparativas, como a fruticultura de clima tropical e o turismo no nordeste.

    Quanto à indústrias poderia haver maiores incentivos para que novas indústrias automobilísticas se instalem no nordeste e centro oeste, já que a região norte fica muito distante dos centros consumidores e das siderúrgicas.

  2. Golpe militar
    Como todos sabemos, o golpe militar foi patrocinado pelo EUA.

    Sao Paulo foi o unico estado que apoiou o golpe. Traíra.

    Os EUA pra compensar, investiram bilhões de dólares em SP explodindo o tamanho da população do estado.

    Agora fica essa desigualdade colossal devido a trairagem dos paulistas.

    1. Porque acha que a Coréia do

      Porque acha que a Coréia do Sul explodiu economicamente de uma hora para outra e hoje tem um cargo de fantoche na ONU? Nda é por acaso! Abaixaram o juros e tiveram um enorme investimento interno em educação e tecnologia.

  3. De acordo com o que o Ciro

    De acordo com o que o Ciro diz, na minha concepção, se dimuir a taxa de juros aumenta o crédito para o mercado interno e por conseguinte o fortalecimento da economia interna (indústria). Então a saída é um juros quase zero. Haverá assim aumento dos pedidos de empréstimo para a economia interna e o fomento da industria interna e a consequente diminuição do dólar e aumento do real. Ou seja, se o país é voltado somente para exportação de commodities é aconselhável juros altos para que o dólar seja alto e o real baixo; pois assim aumenta-se a exportação das commodities privilegiando meia dúzia de empresários e sucateando a indústria. E se o país é voltado para o mercado interno, ou seja, para a população inteira; diminui-se o juros para que se aumente os pedidos de empréstimo interno e consequente aumente a industria. Como o país quem manda são os meios de comunicação e os exportadores de commodities; fazem de tudo para manter o dólar alto afim de que consigam ganhar dinheiro com as exportações com o real baixo, sacrficando todo o país e sua industria. Ouseja, o país está refém de uns gatos pingados que vendem milho, ferro, alumínio e café para outros países. Então, a única saída para o desenvolvimento do país é a diminuição da taxa de juros e o consequente aumento das industrias e o mercado interno mesmo que isso tenha por consequência a diminuição do valor do dólar frente ao real e prejudique a exportação de commodities de meia dúzia; pois não podemos depender de commodities o resto da vida e vivermos todos reféns de fazendeiros donos de televisão com uma indústria sucateada e um mercado interno quase nulo para agradá-los e destruirmo-nos. Facilitando a entrada das multinacionais no país e a total destruição da indústria interna por já nascer comprometida por uma concorrência desleal. Despois disso que explanei podemos explicar a criação de bancos estatais, principalmente em países que mantêm a taxa de juros alta para beneficiar a exportação como a China. 

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