Como pessoas marcadas por opressões podem se posicionar contra aquilo que as liberta?, por Márcia Tiburi

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A filósofa Márcia Tiburi publicou um artigo no site da revista Cult, no último dia 9, lançando um convite à reflexão sobre o discurso da meritocracia e como este aumenta o número de oprimidos influenciados pelos opressores.
 
No artigo, a filósofa questiona: “como é possível que pessoas marcadas por opressões de raça, classe, gênero e sexualidade possam se posicionar contra aquilo que as liberta e, em contradição consigo mesmas, favorecerem em suas posições aqueles que agem de maneira opressiva contra elas?”
 
Segundo Tiburi, “a adesão dos oprimidos à ideologia do opressor continua sendo um mistério, mas podemos e devemos pensar no que realmente pode estar por trás disso.”
 
Por isso, é importante refletir sobre o que vem sendo chamado de meritocracia.
 
Tiburi argumenou, no texto, que a meritocracia, na prática, tem ajudado a justificar porque ricos estão cada vez mais ricos. A ideologia também forjou alguns modelos a serem seguidos. Cada classe social olha para a classe que está logo acima e tenta alcançar as mesmas posses, seja uma casa em Miami ou um tênis de marca.
 
“Há quem ria dessas pessoas com maldade. Mas não se deveria rir daqueles que, na verdade, escondem um profundo sofrimento no seu ensejo de parecer, no tempo presente, algo que não foram no passado.”
 
Na visão de Tiburi, “a classe média baixa”, especificamente, “é fruto do paradigma capitalista que oprime e seduz ao mesmo tempo.” 
 
O “medo de perder” o pouco que conquistou relativamente aos mais ricos “coloca muitas pessoas inconscientemente a serviço da ideologia meritocrática, ela mesma uma forma de autodefesa simbólica para quem tem poucas chances concretas de ascensão econômica ou social.” 
 
“A vergonha de se ser pobre convoca a essa ideologia.” 
 
“Podemos então culpar as pessoas pela miséria espiritual em que vivem e que ajudam a fomentar se ela é a própria lógica do sistema? Não teríamos que mudar o sistema para mudar esse modo de ser das pessoas?”, indaga a escritora.
 
Leia a coluna completa aqui.
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

12 Comentários

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  1. Márcia

    Saudações petistas e lulistas.

    Márcia está sendo uma gratíssima surpresa no mar de lama, de merda mesmo, em que transformaram o Brasil.

    Refletiu e se posicionou no único espaço que é o nosso, do Brasil e dos brasileiros nascidos do estupro.

    Fincou o pé.

    Abraços fraternos, de coração.

    1. Eu gostaria de entender

      Eu gostaria de entender porque questionar o ponto chave da questão, ou seja, a superestrutura, não chama atenção…(https://jornalggn.com.br/blog/spin-ggnauta/estrutura-e-superestrutura-nos-dias-atuais): incareditável como um video tão bom, de 2012 e tão atual, tenha sido visto por tão pouca gente….

      Diante disso, me lembro de uma fala de Paulo Freire, onde ele diz que “o pior ignorante é aquele que resiste em aprender,” ou seja, que foge do esclarecimento como o diabo foge da cruz, o que nos remete ao mito da Caverna de Plantão sic Platão….vai ver que é Plantão mesmo…..

      ..o que rola por ai de de ex-coxinha levando na xinxa não tá no gibi…. mas eles não dão o braço a torcer nem que a vaca tussa…melhor assim, que aprendam na própria pele, aliás, a ficha já está caindo, uma vez que estão perdendo financeiramente por causa do golpe…..

      …se o manifestoche  reconhecer que que se equivocou isso seria, do ponto ideológico, um recuo…e isso eles não farão ….

      ..,,…como a vida é curta, vai morrer dentro de poucos anos, como nós também iremos morrer: ai virá nova geração pronta para ser novamente manipulada  para, quando voltar um governo progressista, ser bucha de canhão para novo golpe….aliás, a nova geração está ai: a maioria dos votos de Bolsonora vem dessa gente que não sofreu na própria pele a censura, a corrupção abafada, os assassinatos autorzados pelos presidentes militares….eita nóis….

      1. Sobre a ignorância
         

        Oi, José Carlos,

        Vou dar o meu palpite pela ordem de entrada das idéias trazidas

        Sobre “o pior ignorante é aquele que resiste em aprender”

        PRIMEIRAMENTE,

        todos os seres nascem ignorantes sobre a face da terra.

        Cada um dos responsáveis pela sua existência é que lhes vai condicionar para a continuidade de suas tarefas.

        SEGUNDAMENTE

        todos os seres nascem num ambiente (próprio ou  impróprio) ao desenvolver de suas potencialidades e continuidade das tarefas intrínsecas de sua espécie.

        SÍNTESE

        Conjugando-se condicionamento e meio ambiente teremos a estrutura do ser, que determinará os graus de IGNORÂNCIA DE CADA UM

        1-Se o condicionamento e meio ambiente forem favoráveis, o nascido sobreviverá com o suficiente e só aprenderá no limite do necessário

        2-Se o condicionamento for satisfatório mas o meio ambiente for inóspito, o nascido terá que aprender coisas novas para compensar as adversidades do ambiente para manter-se vivo.

        Teremos aí um ser vivo menos ignorante que o seu semelhante do meio ambiente desfavorecido.

        3-Se o condicionamento não é satisfatório e o meio ambiente é inóspito e ainda assim o ser conseguir sobreviver, ele desenvolverá um fator a mais além do condicionamento e da adaptabilidade – a resistência.

        Ele então se colocará em vantagem sobre os demais.

        O que acontece então quando esses seres se multiplicam exponencialmente?

        Pela ordem

        o do grupo um – em circunstâncias normais vai querer manter os seus privilégios de condicionamento satisfatório e espaço ideal juntando forças .

        o do grupo dois  – mais experiente, vai reivindicar mais espaços ideiais ou, pelo menos vai saber melhorar e administrar melhor o espaço que conseguiu

        o do grupo três  -mais inteligente, mais adaptável e mais resistente vai atacar os dois grupos em busca da sobrevivência ideal.

        Chegando a eles, se estabiliza, volta ao estado natural de ignorância estável , adaptabilidade, resistência e uma força maior por já ter sobrevivido às adversidades, com habilidades de dominio sobre os outros grupos,  quando passa a controlar em seu favor o nível de conhecimento e a qualidade de sobrevivência de sua espécie.

        É um círculo vicioso?

        Neste mundo, somos todos sujeitos, embora o ser humano “se ache”.

        É a natureza quem nos permite estar aqui, embora sejamos seu inimigo público número um.

        Agimos como parasitas e como tal, não passamos de nós mesmos.

        Nossa qualidade é a característica do vírus – só vai manifestar vida quando tiver o que parasitar.

        Enfim, nós não resistimos em aprender e nem há ignorante pior que o outro.

        É a necessidade que nos move.

        Alguns de nós, movidos pela necessidade, precisamos saber mais que a média, e então percebemos com pesar

        que “a ignorância, mais que o saber, traz a convicção”, dando-nos impressão de “o pior ignorante é aquele que resiste em aprender”

        Ora, ele não precisa aprender mais nada quando está acomodado e convicto.

        Claro que todo o meu raciocínio pode estar equivocado, mas uma coisa a gente não pode perder de vista:

        “A ignorância é uma bênção

        tanto para quem está mergulhado nela

        quanto para quem a explora.”

          

  2. Stockholmssyndromet

    “Surge nesse contexto uma questão: como é possível que pessoas marcadas por opressões de raça, classe, gênero e sexualidade possam se posicionar contra aquilo que as liberta e, em contradição consigo mesmas, favorecerem em suas posições aqueles que agem de maneira opressiva contra elas?”

    Ora, a resposta a esta pergunta está na caracterização da Stockholmssyndrome. A Síndrome de Estocolmo é um estado psicológico em que o intimidado passa a ter simpatia pelo intimidador e até afeto quando passa, temporariamente, a intimidação, após o intimador conseguir  parcial ou inteiramente o seu objetivo. Em casos patológicos, o intimidado passa até a desejar a continuidade da ação intimidadora. É quando o intimidador obtém a máxima satisfação de sua patologia.

    Conhecedor da Stockholmssyndromet, é assim que o torturador obtém confissões do torturado. O intimidador obtém delações do intimidado. O homofóbico desperta o desejo de homossexuais alienados. O machista consegue a submissão de mulheres alienadas. O racista submete permanentemente o negro à escravidão psicológica. O capitalista obtém a submissão e até a admiração de trabalhadores explorados.

    “Podemos então culpar as pessoas pela miséria espiritual em que vivem e que ajudam a fomentar se ela é a própria lógica do sistema? Não teríamos que mudar o sistema para mudar esse modo de ser das pessoas?”

    Não conheço nenhum método que consiga mudar o sistema pelo voto, em uma democracia, por eleições livres que permitam obter maioria no executivo e/ou no parlamento a não ser a luta de classes.

    É possível, mas não é garantido, que, neste processo, o oprimido se livre da ilusão da meritocracia e deixe de lado a vergonha de ser o que ele pensa que é e passe a ter orgulho de ser o que ele realmente é.

    Somente o empoderamento do trabalhador, das mulheres, dos negros e negras, pardos e pardas, dos lgbt’s permitirá a paridade de armas para mudar o sistema e colocar no seu devido lugar o opressor e o antigo sistema na lixeira da história.

    Haja trabalho duro. Sangue, suor e lágrimas

     

    1. Pai, quanto a síndrome de

      Pai, quanto a síndrome de Stocolmo, diria que é uma síndrome continuar falando de síndromes. Abracemos nossas doenças, e sigamos singularizando nossas potências, na dor, e na alegria que é viver.

      Quanto à democracia, o voto não é a única forma de exercê-la. Existe no cotidiano da existência, de uma forma um tanto invisível, algo que escapa pelas brechas falhas do sistema.

      Por esses buracos falhos, a gente consegue pela arte, pelo afeto, pela educação informal, penetrar os espaços que ainda se abrem para a criação de potências, e assim, juntos, reconectar corpos e vidas.

      Não vamos desistir.

  3. Vergonha de ser pobre
     

    Poder, manipulação das massas e empatia.

    Nada me chamava mais atenção do que o contentamento do FHC quando era homenageado “pela ai” como um governante que falava no idioma do colonizador fosse ele qual fosse, enquanto um terço da população que ele governava comia do lixo e estava abaixo da linha da pobreza.
    Ele era o dono do Brasil.

    Ultrapassado seu tempo e superado por Lula, esse (FHC) continua sendo um cidadão honorável.
    Por outro lado, Lula, não mais homenageado mas, reverenciado, reconhecido internacionalmente, em vez de se orgulhar chorava publicamente pela sorte da população que ele governava, cuidando para que esse um terço voltasse à condição mínima de humanidade.
    Lula não era o dono do Brasil,
    Lula era brasileiro.
    Essas as diferenças entre a vergonha de ser pobre e o quanto a pobreza alheia importa.

     

     

    1. Respondeo ao outro seu

      Respondeo ao outro seu comentário, sobre a relação entre ambiente e aprendizado….

      Lá pela década de 80, quando o spin falava aos favelados através dos classificados de um jornal que chegava por lá, tanto que spin virou sinônimo de mulher spin – nervosa…etc…já falei sobre isso né…

      Naquela época o spin falou sobre a relação entre gravidade e aprendizado…ele disse que as crianças precisavam de ambiente sem gravidade, ou seja, sem coisas graves, como por exemplo, arma na cara…

      Ai, tempos atrás, viu uma foto de crianças felizes numa escola em Cuba….ai se lembrou

      Também esta imagem fez-se lembrar da relação entre gravidade e aprendizado

      Uma criança criada na ausência de gravidade, o Luciano Hortêncio, spin músico

      https://jornalggn.com.br/blog/lucianohortencio/lembrando-mamae

  4. Ao reproduzir o comentário na

    Ao reproduzir o comentário na página do Luciano Hortêncio, spin músico, humano, notei alguns erros, supressão de palavras, etc…fiz o conserto…ou seria concerto….segue;

    Muito obrigado pela gentileza amigo Luciano, spin músico, humano…

    Vou repetir aqui um comentário que fiz a partir da sua foto

    …..sobre a relação entre ambiente e aprendizado….

    Lá pela década de 80, quando o spin falava aos favelados através dos classificados de um jornal que chegava por lá, tanto que spin virou sinônimo de mulher spin – nervosa…etc…já falei sobre isso né…

    Naquela época o spin falou sobre a relação entre gravidade e aprendizado…ele disse que as crianças precisavam de ambiente sem gravidade, ou seja, sem coisas graves, como por exemplo, arma na cara…

    Ai, tempos atrás, viu uma foto de crianças felizes numa escola em Cuba….ai se lembrou

    Também esta imagem fez-se lembrar da relação entre ausência de gravidade e aprendizado

    Uma criança criada na ausência de gravidade, como foi o caso do  menino Luciano Hortêncio, spin músico, humano

    https://jornalggn.com.br/blog/lucianohortencio/lembrando-mamae

  5. Não consigo ser tão inocente

    Não consigo ser tão inocente assim. O oprimido que se sujeita ao opressor o faz porque gosta de opressão, tanto faz o lado. Algo como:

    “Hoje sou oprimido, amanhã serei opressor.”

    Ou ainda:

    “Em relação a esse sou oprimido mas em relação àquele, sou opressor.”

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