Não quer ajudar, não atrapalha, por Gregorio Duvivier

Da Folha

Não quer ajudar, não atrapalha

Gregorio Duvivier

É sempre a mesma coisa. Primeiro todo o mundo põe um filtro arco-íris no avatar. Depois vem uma onda de gente criticando quem trocou o avatar. Depois vem a onda criticando quem criticou. Em seguida começam a criticar quem criticou os que criticaram. Nesse momento já começaram as ofensas pessoais e já se esqueceu o porquê de ter trocado o avatar, ou trocado o nome para guarani kayowá, ou abraçado qualquer outra causa.

Toda batalha pode ser ridicularizada. Você é contra a homofobia: essa bandeira é fácil, quero ver levantar bandeira contra a transfobia. Você é contra a transfobia: estatisticamente a transfobia afeta muito pouca gente se comparada ao machismo. Você é contra o machismo: mas a mulher está muito mais incluída na sociedade do que os negros. E por aí vai. Você é de esquerda, mas não doa pros pobres? Hipócrita. Ah, você doa pros pobres? Populista. Culpado. Assistencialista.

Cintia Suzuki resumiu bem: “Você coloca um avatar coloridinho, aí não pode porque tem gente passando fome. Aí o governo faz um programa pras pessoas não passarem mais fome, e aí não pode porque é sustentar vagabundo (…). Moral da história: deixa os outros ajudarem quem bem entenderem, já que você não vai ajudar ninguém”.

Todo vegetariano diz que a parte difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar a reação dos carnívoros: “De onde você tira a proteína? Você tem pena de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar quinoa e estão morrendo de fome?”

O estranho é que, independentemente da sua orientação em relação à carne, não há quem não concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto de vista dos animais, ou do meio ambiente, ou da saúde, ou de tudo junto. O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho.

Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada —melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha. 

Redação

25 Comentários

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  1. Tá difícil

    No Brasil muitos se acham no direito de dizer ao outros como ele deve viver. É uma intromissão à vida alheia sem precedente. 

    Uma pessoa vivendo na rua vem à mesa da padaria, onde me encontro, e pede algo para comer. Encomendamos o que ele pediu (um lache com café). A lanchonete foi extremamente preconceituosa com o pedido para o homem mal vestido. Demorou para servir o lanche e não serviram o café, até cobrarmos várias vezes que descem à pessoa, o que nós estávamos pagando. E é claro, reclamam do governo corrupto e da violência do outro.

    1. Exatamente isso, Maria Luisa!

      Meu filho vive dizendo que 90% dos problemas do mundo acontecem porque sempre tem alguém querendo mandar na vida dos outros…

  2. É isso aí…

    Artigo muito bom, pena que as pessoas a quem ele se dirige não võ ter a capacidade de refletir sobre o assunto e com certeza vão partir de cara para a agressão.

    Gostei, achei pertinente e apóio o que está no texto.

  3. Como tem gente que critica a

    Como tem gente que critica a crise econômica, a corrupção no governo, a justiça envolvida, a PF e MP consoantes a reter toda grandeza em abundância; mas executar o poder escrito para sentenciar o dinheiro, que será a honra para todos eles, ninguém se habilita.

  4. Os outros quinhentos da moral

    Caros debatedores,

    eu também gostei do texto do rapaz famoso. Ele escreve bem e nos trouxe aqui alguns dilemas da atualidade. 

    Mas, notemos bem, estes problemas só “existem” ou são publicados , digamos assim, numa  sociedade que se diz democrática. 

    Sempre haverá teses contrárias, contraditórias, mesmo diante de um mesmo fato.

    Mas, voltando-me ao texto em si, sem querer ser o chato e contrário a tudo, ultimamente tenho estado assim( rsrsrs) –  eu acho que, das duas uma: ou o autor se equivocou ou tentou mascarar o seu viés conservador. Senão vejamos.

     

    Com devido respeito à sua avó, mas essa de não quer ajudar não atrapalha, NÃO COLA.

    Isso é conservadorismo dos brabos, em minha opinião.

    Eu diria de outra forma: não quer concordar comigo, então não , por favor, caia fora. Sua opinião não me interessa pois ela “atrapalha”.

    Ora, atrapalha em relação a que? O que “é” certo e o que “é” errado?

    Por que o fato de não “ajudar” uma tese qualquer você deve ser enquadrado no conjunto dos que “atrapalha”?

    Notem que a proposíção usada no título nos leva a uma FALÁCIA. E uma falácia corroborada pelo “costume”, vez que essas orações  , “não quer ajudar, não atrapalha”, a gente escuta mesmo de nossas avós. Porém, elas  não são completas. Não são exaustivas. Não encerram, portanto, TODO o pensamento de uma sociedade livre justa e democrática. Vejamos porque.

    O fato de uma pessoa não querer ajudar não pode nos levar a conclusão de que ela quer ou vai atrapalhar.

    E ainda: o fato da pessoa desejar ajudar não quer dizer que ela vai realmente ajudar. Ao contrário, pode até atrapalhar.

    Nem mesmo o fato de a pessoa querer atrapalhar vai realmente atrapalhar. Ao contrário, pode até ajudar. 

    O fato de uma ou várias pessoas criticarem não quer dizer, necessariamente, que estarão atrapalhando. 

    Aliás, cabe até uma pergunta: de que tipo de crítica o autor tentou falar? Pergunto porque a gente sabe que tem crítica que é “construtiva” ( no fundo todo mundo fica meio puto, mas a crítica acaba sendo “construtiva” rsrssr)

    Por fim, digo-lhe que o autor revelou-se neste texto um viés conservador. Reforço-lhes que essa minha percepção se prende apenas a este  texto.  Não estou aqui concluindo com uma  análise taxativa e determinante que o autor “é” um conservador. E por favor, podem atrapalhar a minha análise querendo ou não ajudar. É para isso que serve o debate.

    Voltando ao autor, digo-lhes que se ele é um conservador, não pode sobreviver numa democracia pensando  democraticamente. Pelo menos não deveria, já que para ele, se você não quer ajudar então, você atrapalha.

    Democracia, se existe, é algo que se prende à transformação. Ao que muda, portanto.  E , nesse sentido, se não quiser ajudar, atrapalhe, pois será democrático, desde que respeite  as REGRAS SOCIAIS DE CONDUTA DEVIDAMENTE POSITIVADAS. ( essa foi a forma que escolhemos para viver numa “democracia”)

    Mas, aí alguns vão perguntar:  E a moral? E a ética? 

    Bom, aí, já são  “outros quinhentos”.

     

    Saudações  

     

    1. Entendi de outra forma…

      Meu entendimento do texto vai por outro viés.

      Penso que o que o autor colocou poderia ser definido assim:

      “Eu não quero ouvir sobre o que você é contra, quero ouvir sobre o que você é a favor.”

      É fácil ser contra, apontar defeitos e criticar sem se comprometer com nada.

      Como nada é perfeito, sempre você encontra um defeito. Mas quem está procurando defeitos nos outros compromete-se com o quê? Propõe o quê? Defende o quê.

      Se você é contra o claro então é a favor do escuro. Mas tem gente por aí que xinga o claro hoje, xinga o escuro amanhã e nos dois dias xinga o meio-termo, ou seja, uma posição incoerente.
       Fica fácil assim. O cara xinga os outros pelo que eles defendem e não se compromete a defender nada, por isso pode ser incoerente cobrando dos outros aquilo que ele mesmo não faz.

      Por esse motivo não entendi o texto como conservador, meuito pelo contrário, é profundamente progressista já que não se pode progredir em nada sem se comprometer com posições construtivas e ser propositivo. Tudo bem ir contra uma coisa, mas tem que ir a favor de outra para não ser oportunista.

      É isso quer eu entendi.

      1. Olá caro debatedor Ruy,
        acho

        Olá caro debatedor Ruy,

        acho que entendi o que você quis dizer e estou de acordo com a forma que você escolheu para interpretar o texto.  Trata-se de uma interpretação e merece todo o respeito.

        Mas, ainda assim, mesmo compreendendo o que você disse ( suponho uma visão positiva, construtiva, que busca uma solução, que tenta somar pelo lado bom, positivo, certo?) ainda assim, eu não seguiria com essa interpretação.

        E não seguiria também com o pensamento binário ( parece-me que v. tocou nesse assunto) do tipo , sim ou não, verdadeiro ou falso, 0 ou 1. Ou, como você mesmo disse:

        Se você é contra o claro então é a favor do escuro.

        Não se trata disso. Não sigo apenas  essa lógica indiana ( ou aristotélica)   para chegar a uma conclusão razoavelmente válida em matéria de âmbito social.  Note que eu coloquei outras possilibildades:

        você pode querer atrapalhar, ter a intenção para isso, e, mesmo pensando nisso, ajudar.

        Note que a intenção é uma. O resultado é outro. Ou: você desejou o escuro, contrariando o claro, mas,mesmo assim, chegou no claro. E poderia chegar num claro mais escuro, ou num escuro mais claro e por ai vai contrariando a forma binária de pensar.

        Contudo, a proposição que o autor usou nos passou também um  caráter exaustivo:  Se não quer ajudar , não atrapalha.

        Julguei infeliz essa proposição, mesmo sabendo que a intenção do autor pode não ter sido essa.

        Mas, como tentei dizer, eu me prendi ao que ele inseriu no texto. E ele escreveu isso.

        Não vou aqui ficar especulando se ele teria outra intenção etc.

        Mas, a minha perceção do mundo, ai sim, traz outros elementos. Ou seja, após ler o que ele escreveu eu inseri o meu viés , obviamente, carregado de “pré conceitos” ( não o preconceito, mas sim o pré conceito, compreende?) 

        Portanto, nessa linha não posso concordar que se trata de um texto “progressista” que já na lagarda coloca: se não quer ajudar não atrapalha. Ora, é preciso , ao menos, aceitar as trapalhadas e tentar refutá-las. Na pior das hipóteses, vencer pelo voto mas respeitar o direito das minorias, o que é também pilar de uma “democracia”.

        Fnalmente, acho que vamos ter ainda um bom tempo de “debates” para alcançarmos algum avanço razoável, proporcional, respeitador de direitos humanos etc.

        Saudações 

      2. Entendi da mesma forma,

        Entendi da mesma forma, ruyacquaviva, em vez de criticar os outros, apresente sua alternativa. E da mesma forma concordo com o texto, embora muitas vezes me pegue criticando os outros…

    2. Concordo muito com você.

      Concordo muito com você. Acredito que a filiação a discursos (de ordem política, moral etc.) não resolve o problema do sujeito. É necessária a mínima coerência entre o discurso e a prática. Porém é fato que a intolerância e a dificuldade dos brasileiros em aceitar as diferenças (eu não disse concordar!), imprime uma série de reações conservadoras, quando não agressivas a posições contrárias. Penso que isso se deve à nossa jovem democracia. 

      1. Olá debatedora Ana,
        estou de

        Olá debatedora Ana,

        estou de acordo com o seu pensamento, sem ficar aqui descendo às profundezas das interpretações. ( embora sejam muitíssimos importantes)

        Coerência entre discurso e a realidade, certo? 

        O poeta já disse: suas ideias não correspondem aos fatos. E mais que isso: ele via um “museu de grandes novidades”…

        Quanto à intolerância que você se referiu, sobretudo, hodiernamente,  estou também de acordo. É claro que a gente vê por ai esse intolerância de alguns brasileiros.

        Mas a gente não vê a intolerância dos brasileiros. A gente vê a intolerância de algumas condutas que chegam a até nós. Nesse sentido, não sabemos se ela representa os “brasileiros”. Suspeito que não. 

        Basta viajar por ai e ver que nós brasileiros, digamos assim, tendemos mais para a paz à intolerância.

        É claro que a gente percebe o contrário também. Mas estou aqui me referindo àquele sentimento comum, de uma pessoa normal. Compreende?

        Quanto à questão da jovem democracia, tenho muitas dúvidas a esse respeito. 

        Aliás, penso que não se trata de uma Jovem democracia, vez que ela ainda não nasceu, efetivamente. Está ali na “barriga da mãe grávida”. Tem acompanhamento e tudo mas, pode nascer morta. 

        O pior é que a “democracia” pode ser apenas um vocâbulo, sem mudança  efetiva de condutas humanas, de relações humanas. 

        Quer saber: acho nossa democracia representantiva com financiamento privado, sulfrágio universal de meia tigela, proporcional onde se vota num e o voto vai pra outro,  uma  tremenda FALÁCIA!

        Aliás, nossa “democracia” parece que agora tenta “arma” mais um golpe, mesmo que lá de dentro do útero.

        Brincandeiras a parte. Em suma, estou de acordo com o seu comentário no sentido amplo. Numa análise desprovida de aprofundamento de uma possível “realidade brasileira”. De fato, temos observado essas condutas autoritárias por ai. 

        Saudações 

         

         

  5. Nossa elite econômica está

    Nossa elite econômica está ocupada demais cuidando dos próprios interesses e não tem tempo para resolver questões de interesse público. 

     

    1. O texto é bom, mas o mundo

      O texto é bom, mas o mundo não seria melhor se todo mundo fosse vegetariano.

      E nem o vegetarianismo é uma causa como a luta contra a homofobia ou contra o racismo. É só uma dieta diferente, não uma opinião política.

      1. TODA CAUSA É UMA BOA CAUSA, INCLUSIVE O VEGETARIANISMO

        Acredito que o amigo foi infeliz ao citar o vegetarianismo. Não é só uma dieta, e sim um ideal. Aqui quem vos fala é uma mulher, que sim, AINDA come carne, mas sabe como isso não é legal com o mundo em que vivemos. Te convido a pesquisar sobre todo um universo que existe por trás disso. Questões como: poluição, desmatamento, uso da água na agropecuária e mais n coisas.

  6. texto ruim

    O que que vc queria? Unanimidade total ?! Uma massaroca politicamente correta? Tá criticando o que? A dialética ? Isso é falta de conhecimento da natureza humana…e mais: Não dar espaço pro outro , prá controversa é puro autiritarismo obscurantista .

    Texto reacionário

  7. Concordo discordando

    Meu título é apenas brincadeira. Concordo com as colocações dos colegas acima, mas o texto parece mais direcionado àqueles que mais parecem gostar de “causar” do que efetivamente tomar providências. Hoje em dia é muito comum nas redes sociais aquele chato que gosta de por defeito em tudo e não participar ou tomar alguma iniciativa que produza mudanças na sociedade.

    Alías as redes sociais têm sido mais um espaço para as pessoas chamarem a atenção para si mesmas do que para desenvolver soluções que auxiliem a sociedade como um todo.

  8. Para dar uma corroborada ao

    Para dar uma corroborada ao texto contarei algo que aconteceu hoje comigo.

     

    Estava eu, como de costume, alimentando meus 10 gatos de rua que todos os dias as 23h me esperam no terreno do lado de casa. Neste momento passa um senhor e me pergunta se todo dia os alimento nesse horario. Respondo que sim. Ele pergunta se eu compro a raçao. Respondo que sim. 

    Ele, entao, me pergunta porque ao inves de alimentar os gatos de rua eu nao uso meu dinheiro para alimentar um morador de rua ou outra pessoa necessitada qualquer.

    Olhei para ele e agradeci a sugestao e perguntei lhe perguntei onde ele costumava levar comida. Ele me respondeu que nao doava comida.

    olhei novamente e disse: “entao vc nao faz nenhuma caridade e quer me dizer o tipo de caridade que devo fazer? vamos fazer o seguinte. Ja que voce acha que eu poderia fazer caridade a uma pessoa, que tal se eu continuasse a fazer pros gatos e vc pra alguma pessoa, assim todo mundo sai ganhando”

    Ele deu uma risadinha sem graça e seguiu o caminho dele.

    repito o que o autor disse: nao quer ajudar, nao atrapalha.

  9. Texto de Gregório Duvivier

    Angu sim… E de caroço.

    Cada qual entendeu como lhe convem entender.Gregorio….como você não ajudou nada com esse texto, então não atrapalha, vai. Obedeça sua avó!

    1. Acho que você nãpo leu o

      Acho que você nãpo leu o titulo, então vou repetir.

       

      Não vai ajudar então não atrapalha.

      Entendeu agora?

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