As lições de Chernobyl

De Chernobyl a Fukushima: Segurança Nuclear?

From Voa News – Russia Watch – James Brooke

 

Há muito tempo atrás os soldados praticavam tiro com animais selvagens ferozes. Hoje, o único som na Avenida Lênin é do vento frio soprando folhas mortas. No Verão, uma vegetação espessa obscurece os blocos de apartamentos com seis andares, que foram as residências dos cinquenta mil moradores da cidade. Uma vez uma comunidade modelo soviética construída para atender a estação de energia nuclear de Chernobyl, Pripyat agora se parece com um local de filmagem pós-apocalíptico.

Turistas, alguns usando máscaras no rosto seguem com cuidado seu caminho através de corredores mal iluminados, as botas rangendo em vidro quebrado. Eles andam em calçadas lotadas de detritos espalhados, mantendo um olho onde pisam, tomando cuidado contra a possível falta de algum tampão do esgoto. Ruas cercadas por construções se estreitaram formando túneis com arbustos e árvores que cresceram à vontade por um quarto de século.

Alex, o guia, diz que visitas são proibidas após escurecer. Bandos de javalis e lobos cinzentos passeiam nas ruínas. Eu corro meus olhos com ceticismo. Então, eu vejo riscos feitos recentemente por porcos selvagens rasgando a terra para encontrar alimentos depois de um longo inverno.

Como arqueólogos explorando a cidade perdida dos soviéticos, visitantes espiam através da vegetação para divisarem as estátuas heróicas e monumentos, construídos quando Chernobyl foi projetada para ser a maior estação de energia nuclear na Europa.

Vinte e cinco anos depois da explosão nuclear de Chernobyl, a cidade Pripyat é testemunho mudo do lado “negativo” da energia nuclear. No coração da Europa Central, uma extensão de terras equivalente a um quarto do estado do Sergipe – cerca de quatro mil e trezentos quilômetros quadrados – está fora dos limites de condições para habitação humana.

Esta área não era uma tundra vazia da Sibéria. Para criar a zona de exclusão de Chernobyl, as autoridades, forçosamente, moveram trezentos e trinta mil pessoas de uma região que sobrepõe partes da atual Ucrânia, Bielorrússia e Rússia.

Poucos retornaram. Uma vez por ano, as famílias de Russos Ortodoxos e de Judeus são autorizadas para visitas aos túmulos de seus ancestrais. Registros da habitação humana nas terras que foram férteis de Chernobil ao longo do Rio Pripyat datam desde o ano 1.000 DC. Esta história humana parou em Maio de 1986.

Dado aos atuais limites do conhecimento científico, ninguém pode prever com confiabilidade quando o assentamento humano poderá retomar com segurança. O trabalho está começando em um novo “sarcófago” de isolamento com custo de dois bilhões de dólares para envolver a usina explodida. O objetivo é manter as 200 toneladas de material altamente radioativo selado – por mais um século.

As lições de Chernobyl parecem claras ao Japão, Rússia e Estados Unidos.

Uma atrás da outra, a segurança nuclear é sacrificada para corte de custos.

Na primeira parte da década de 2000, eu morei em Tóquio. Desfrutei alegremente da eletricidade barata fornecida pelos reatores da Tokyo Electric Power Company da costa em Fukushima. Relatórios (alguns escritos por mim) de curtos cortes na segurança, de acidentes de radiação, de má manutenção dos envelhecidos reatores projetados por americanos, nunca gozaram de grande interesse.

O tsunami da véspera de Natal de 2004 que devastou a costas marítimas da Indonésia e da Tailândia deveria ter enviado um alerta claro sobre a fragilidade das estruturas construídas às margens da zona de terremoto, a “Linha de Fogo” do Pacífico. Uma semana após o tsunami de 2004, eu procurava algo interessante nas ruínas de hotéis da praia destruída em Phuket, na Tailândia. Nas proximidades, profissionais da televisão japonesa filmavam longos relatórios para os shows de notícias que seriam enviados para casa.

Em outra visita para reportagem, desta vez em Shimoji Shima, uma das ilhas mais ao sul do Japão, eu observava em uma linda praia, estranhamente cheia de pedras do tamanho de uma Toyota. Um morador local explicou: “Isto veio com o tsunami Yaeyama de 1771. Ele matou doze mil pessoas”.

Com este tipo de memória coletiva entre as pessoas que inventaram a palavra tsunami, é estranho que os críticos da segurança de energia nuclear sejam condenados ao ostracismo como palermas. – Imbecis que correm ao redor se esgoelando que o céu está caindo, o céu está caindo.

Com Chernobil parecendo-se, cada vês mais, a uma cidade misteriosamente abandonada dos Maias, fica claro que a tecnologia realmente falha. Que a chuva radioativa realmente cai.

Se engenheiros russos, americanos e japoneses – sem dúvida, cientificamente entre os mais sofisticados do planeta – não conseguem gerar uma segurança nuclear correta, quem pode?

Veja a série da Discovery Channel, apresentada em 2009, sobre Chernobyl em nove capítulos, total em noventa minutos, o primeiro tem 10 minutos:

Luis Nassif

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