Há uma novidade no jornalismo, mas falta a linguagem

Por Gilberto .

Comentário ao post “A nova linguagem do jornalismo”

Concordo que há uma novidade, mas falta a linguagem. É como uma retomada da câmara na mão, faltando ainda desenvolver, uma ideia na cabeça. Considerei aqui a linguagem no contexto de sua significação mais específica: Um sistema complexo de comunicação. A imagem em estado bruto, no calor da hora, num preciso instante (por mais longo que seja este instante), não traz mais ou menos “verdade” sobre um fato do que uma imagem editada, não possui complexidade. É necessário contextualiza-la, e não há como fazer isto sem reflexão, sem a ideia na cabeça, sem linguagem.

Os vários terabytes de vídeo podem, sem dúvida, trazer uma grande contribuição para análise dos fatos recentes. Até agora, porém, não serviram para muito mais que as câmaras de vigilância nas ruas. Elas ajudam a resolver coisas muito simples, a identificação de pessoas, por exemplo. Não creio que sirvam para que, somente através das imagens, possamos fazer a síntese de um acontecimento.

Tanto é verdade, que ainda estamos distantes de captar a integralidade dos acontecimentos ocorridos em junho. Mesmo as análises que mais se aproximaram disto, não fizeram (fortemente) uso das imagens produzidas pela midia Ninja.

Recorro a um trecho de Marshall Berman:

“Existe um tipo de experiência vital – experiência de tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida – que é compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo, hoje. Designarei esse conjunto de experiências como “modernidade”. Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos.” 

A “nova linguagem” portanto, não está na notícia crua. O vídeo ou a transmissão em tempo real,  não é a experiência de tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida.  Há uma evidente necessidade de  fazermos a síntese desta notícia para chegar a uma linguagem. A imagem, em seu estado bruto, não é “a verdade”, e antes que me perguntem “o que é a verdade?”, me antecipo. Ela é para mim a busca constante de tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. Não é por acaso que utilizamos tanto a expressão “dá um tempo”… Tempo este que não nos damos.

Luis Nassif

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O que…

    Walter Cronkite, já no final da vida, deu uma resposta pra essa pergunta: “o que, quando, como, onde, por que….” Sempre que um texto trouxer respostas pra estas perguntas será um bom texto jornalístico.

    Temo que a  “busca pela linguagem” muitas vezes esteja a serviço de quem procura alguma satisfação, por assim dizer artística, e menos a de contar uma história direito e, portanto, ser repórter, jornalista. Já vimos isso. Chamo de jornalismo literatura. O perigo é quando é muito mais literatura do que jornalismo.

  2. Penso em um ponto de inflexão

    Penso em um ponto de inflexão para as notícias e o editor, que será uma pessoa que vai selecionar o conteúdo de uma quantidade de informações nunca antes experimentada na história das reportagens.

    Novas lentes que captam tudo ao mesmo tempo, assim como melhores microfones, colocarão instantâneamente uma quantidade exuberante de possibilidades para quem irá definir o produto final, artigo, reportagem, etc…

    A tecnologia mudou o mundo mais depressa do que o mundo muda, e a velocidade das mudanças está aumentando.

    O entendimento será individual, cada um selecionando o que lhe interessa, com isto novas técnicas de depuração e de verdade terão de ser aperfeiçoadas a uma velocidade nunca antes experimentada também.

    Mudanças nas duas pontas, nos aparelhos tecnológicos de noticias e no consumidor destas.

    Vivemos em tempos interessantes.

    1. “A tecnologia mudou o mundo

      “A tecnologia mudou o mundo mais depressa do que o mundo muda, e a velocidade das mudanças está aumentando.”

       

      O mundo tem um esqueleto todo alquebrado, comprometendo toda a estrutura da chamada vida moderna. A tecnologia, hoje sabemos por intermédio de Snowden, está se tornando, conforme o discurso de Dilma na ONU, arma de guerra. Precisamos urgentemente de proteção, a nova linguagem da qual nos fala o post necessita ser criada logo, sob pena de perdemos a guerra e nossa liberdade. A união faz a força e precisamos nos unir rapidamente para impedir que sejamos marionetes dos poderosos. No futuro, creio que ouviremos a expressão “Guerrilha virtual” a todo momento. Os “posts” do nosso comentarista Wilson Ferreira estão repletos de sentido, precisamos estar atentos porque ainda nos faltam informações valiosas sobre como a tecnologia de ponta está a serviço dos poderosos. Talvez estejamos sendo ingênuos, pois parece existir uma rede poderosa que desconhecemos, controlando muito mais do que imaginamos.

       

    2. Metade dos empregos estão ameaçados por novas máquinas

       

       

      Tue Sep 24, 2013 1:26 am (PDT) . Posted by:

      “Robert Karl Stonjek” r_karl_s

      Machines on the march threaten almost half of modern jobs
      September 23rd, 2013 in Electronics / Robotics

      “Oh hi, Mike from accounts. I believe we have a 10.30 strategy briefing?”. Credit: Honda News

      Computers have been an important part of many industries for decades already and have replaced humans in many jobs. But a new wave of technological development means that even positions that we once saw as immune to computerisation are now under threat.

      In 1930, as the Great Depression spread across the Atlantic, John Maynard Keynes famously predicted that the discovery of technological means would outrun the pace at which we can find new uses for labour, resulting in widespread technological unemployment. Keynes, however, was optimistic and predicted that this would only be a temporary phase. In the long-run, he argued, technological progress will solve mankind’s “economic problem”, that is our need to work, and release us from our traditional purpose of subsistence.

      Commentators today are less optimistic. How Technology Wrecks the Middle Class, a recent New York Times Column by David Autor and David Dorn, captures an observation made by several commentators: technology has turned on labour.

      In the modern world of work, low income service jobs have expanded sharply at the expense of middle-income manufacturing and production jobs. There are many more security guards and pharmacy aides while the rate of growth has slown in professions such as chemical plant operators and fabric patternmakers. Meanwhile, computers have increased the productivity of high income workers, such as professional managers, engineers and consultants. The result has been a polarised labour market with surging wage inequality. Research has shown that this polarisation between “lousy” and “lovely” jobs is happening in Britain as well as the US, implying that there has been a hollowing-out of the middle class.

      The threat of computerisation has historically been largely confined to routine manufacturing tasks involving explicit rule-based activities such as part construction and assembly. But a look at 700 occupation types in the US suggests that 47 per cent are at risk from a threat that once only loomed for a small proportion of workers.

      The likelihood of a job being vulnerable to computerisation is based on the types of tasks workers perform and the engineering obstacles that currently prevent machines from taking over the role.

      These technological breakthroughs are, in large part, due to efforts to turn non-routine tasks into well-defined problems. The automation of these occupations is made possible by big data and advanced sensors, giving robots enhanced senses and dexterity, allowing them to perform a broader scope of non-routine manual tasks. For the first time, jobs in transportation and logistics are at risk. Take the autonomous driverless cars being developed by Google. They are the perfect example of a new way in which a human worker, such as a long-haul truck driver, could be replaced by a machine in the modern age.

      Desk dwellers are no longer immune either. Algorithms for big data are now rapidly entering domains reliant upon pattern recognition and can readily substitute for labour in a wide range of non-routine cognitive tasks. Those working in fields such as administration could once feel comfortable that a computer would never be able to do their job but that will no longer be the case for many.

      More surprisingly, the bulk of service occupations, from fast food counter attendants to medical transcriptionists, where the most job growth has occurred over the past decades, are also to be found in the high risk category. This reflects technological development too. The market for personal and household service robots is already growing by about 20% annually. As the comparative advantage of human labour in tasks involving mobility and dexterity will diminish over time, the pace of labour substitution in service occupations is likely to increase even further.

      This first wave of computerisation in the big data era marks a turning point. Nineteenth century manufacturing technologies largely substituted for skilled labour in jobs, such as weaving and the production of tools, by simplifying the tasks involved. Next, the computer revolution of the twentieth century caused a hollowing-out of middle-income jobs. The next generation of computers will mainly substitute low-income, low-skill workers over the next decades.

      So, if a computer can drive as well as you, serve customers as well as you and track down information as well as you, just who is safe in their job these days?

      Careers at low risk of computerisation are generally those that require knowledge of human heuristics and specialist occupations involving the development of novel ideas and artifacts. Most management, business, and finance occupations, which are intensive in generalist tasks requiring social intelligence, are still largely confined to the low-risk category. The same is true of most occupations in education and healthcare, as well as arts and media jobs.

      Engineering and science occupations are also less susceptible to the phenomenon, largely due to the high degree of creative intelligence they require. It is, however, possible that computers will fully substitute for workers in these occupations over the long-run.

      This means that as technology races ahead, low-skill workers will need to train in tasks that are less susceptible to computerisation – that is, tasks requiring creative and social intelligence. If you want to stop a computer taking your job, you’ll have to hone your creative and social skills. Mercifully, it will be quite a while before the machines outpace us in that respect.

      Source: The Conversation

      This story is published courtesy of The Conversation (under Creative Commons-Attribution/No derivatives). 

  3. o novo

    A busca frenética pelo novo esconde subliminarmente a necessidade mercadológica para a superação dos oponentes que já estão instalados na mídia . Não basta ser diferente ,  progressista ou de vanguarda, pois importante no final da contas é conseguiur seguidores, simatizantes, audiência.Todos os elogios embutem segunda intenções, pois não? Po que? é a economia, estúpido…

  4. Três elementos, câmera, mão e

    Três elementos, câmera, mão e cabeça. Me parece que a análise fica muito presa ao elemento mão, o feitor, a direção, quando o que mais importa nestes casos é exatamente as câmeras de telefones fazendo o papel da câmeras que controlam os movimentos, as ações nas ruas, a vigilância. São elas que têm o poder de impedir a “editada versão oficial” dos “fatos”. Não há qualquer preocupação com linguagem, é tudo “pá e pimba”.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador