Como as domésticas enxergam a regulamentação da profissão

Enviado por Tamára Baranov

Da Agência Pública

Minidoc: Como se fosse da família

Áurea e Vander, domésticas a vida inteira, refletem sobre a nova lei que regulamenta a sua profissão 

Por Alice Riff e Luciano Onça | Pública

Como se fosse da família - Áurea

Aos 64 anos, Áurea é aposentada por problemas nos joelhos, que dificultam sua locomoção. Vinda de Feira de Santana, na Bahia, passou a maior parte da sua vida trabalhando para uma única família – foram 24 anos – em São Paulo. Cuidava dos afazeres domésticos e da criação dos filhos dos patrões, desde muito pequenos. Hoje, longe da família que a empregava, mora em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

Vanderlea, conhecida como Vander, começou a trabalhar como doméstica aos 14. Com o consentimento de sua mãe, que veio com ela de Juazeiro, na Bahia, foi servir à família Marcondes, em Jundiaí, no interior de São Paulo. Em pouco tempo começou a dormir no trabalho, e logo estava morando na residência. Trabalhava como babá e ajudava nas outras tarefas domésticas – o que faz até hoje. Aos 40 anos, é a governanta da casa, coordenando as outras duas empregadas, sempre uniformizadas.

Essas duas mulheres dedicaram a maior parte das suas vidas ao trabalho doméstico – profissão que foi regulamentada apenas este ano – servindo a patrões que as tratavam “como se fossem da família”. A emenda constitucional Nº72/2013, conhecida como PEC das domésticas, regularizou pela primeira vez a profissão, garantindo que elas tenham os mesmos direitos que os demais trabalhadores brasileiros, no regime da CLT.

Agência Brasil

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Deputada Federal Benedita da Silva, autora da PEC das Domésticas

Redação

5 Comentários

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  1. Uma nova versão da síndrome de Estocolmo

    Como se fosse da família, é uma versão diferente da síndrome de Estocolmo, onde a empregada seria a “sequestrada” e os patrões os “sequestradores”.

    Há 2 ou 3 anos era comum eu ouvir no trabalho colegas conversando, ah, tens alguém pra me indicar pra trabalhar lá em casa? E algumas respostas eram assim: passa na cidade do interior tal, tem meninas ótimas lá, e elas dormem inclusive (significa que dormem na casa da patroa). 
    Essas empregadas domésticas que dormem na casa da patroa, estavam disponíveis 24 horas por dia, sempre que alguém na residência precisasse. E depois de alguns anos, 10, 15 anos depois, eram tratadas como da família, ou seja, os filhos tinham um grande afeto por elas, deixavam inclusive de vez em quando comer na mesma mesa. Na hora de dormir, pediam um suquinho na cama, que somente ela podia levar, tal o carinho deles. E depois que se aposentam, como a senhora desta reportagem, os “da família” vão visitá-la ou a chamam em datas especiais? ligam no aniversário? ah um contato frequente? ou é como aquelas famílias que filhos, parentes em geral se falam a cada 3 ou 5 anos quando se encontram ao acaso.

    Isso é balela para não assumirem essa distorção que existia em maiores proporções antes da legislação e hoje um pouco menor.

    Toda a sociedade foi formatada sob esse parâmetro de que todos da “classe média” deveriam ter uma empregada doméstica, os apartamentos até então, praticamente todos, têm o famoso “quarto de serviço”, no mínimo 2 banheiros, mas não é estranho um apartamento de 3 quartos com 4 banheiros, ou até mais. O porquê disso? Porque simplesmente não é o proprietário que tem de fazer a limpeza, não é ele que cuida dos afazeres domésticos, não arruma a própria cama, não limpa o apartamento, não lava os banheiros, e um pouco mais além, sequer cuida dos pequenos problemas rotineiros em uma casa, um pequeno vazamento, uma repintura, tudo é terceirizado, novamente, Por que? Porque nossa mão de obra é muito, mas muito barata.
    Supervalorizam sua hora e subvalorizam a hora alheia, uma triste realidade brasileira.

     

  2. A questao e outra, o que

    A questao e outra, o que farao as domesticas quando a profissao for extinta pela regulamentaçao, o que fatalmente acontecera?

    O Estatuto do Trabalhador Rural ao proteger em excesso o colono de fazenda criou o boia fria e as favelas em torno das pequenas cidades do interior. A vida na colonia era mais saudavel porque o tempo de transporte era poupada, a comida era melhor (a comida da roça), hoje ha fazendas com dezenas ou centenas de casas de colonia vazias, graças ao Estatuto do Trabalhador Rural, bela proteçao.

    Com as domesticas a medio prazo vai ocorrer o mesmo, acabara a profissao, sera que a Deputada benedita da Silva pensou nisso a usar e abusar dessa lei para seu discurso demagogico?

    Ha no Congresso duzentos projetos de lei para criar mais proteçao a categorias. Os portos brasileiros se tornaram os mais caros do mundo e uma das grandes causas do custo Brasil por causa de grande quantidade de normas que criam direitos impeditivos de qualquer aumento da competividade, como por exemplo os “ternos” de estivadores, do tempo em que se carregava saca de csfe nas costas, hoje com a conteneirazçao onde precisa 8 um e suficiente mas a lei exige os mesmos 8. Com isso a eficiencia dos portos esta congelada e dificilmente sera melhorada. Quem paga e o consumidor brasileiro, porque alguem tem que pagar pela ineficiencia, depois ninguem sabe porque aqui tudo e mais caro.

    1. Essa regulamentação era inadiável, chegou tarde, inclusive!

      A questão dos portos é completamente diferente da questão das empregadas domésticas, enquanto no caso dos portos se defende uma reserva de mercado, onde trabalhadores, ainda que sejam pessoas de poucas instrução, ganham muito dinheiro, no caso das empregadas domésticas o que se buscou foi a regulamentação da profissão, a exigência do efetivo cumprimento dos direitos trabalhistas, e isso não é mérito desse governo não, era um dever, desse ou de qualquer um governo. Essa conversa de que a situação das empregadas irá piorar, de que não terão o que fazer de se forem demitidas, é típico de um discurso de quem não tem argumento para manter essa aberração, o tempo de semi-escravidão acabou, às vezes alguns perdem, para todos ganharem lá na frente, assim será nesse caso, mas ainda nesses casos, há mecanismos governamentais para apoiar financeiramente esse pessoal.

      Estamos no século XXI meu caro.

    2. As empregadas domésticas não

      As empregadas domésticas não querem mais esse emprego meu caro, elas estão buscando outros horizontes. Elas descobriram o Pronatec. Elas descobriram o quanto valem. Eu trabalho no PAT (Programa de Atendimento ao Trabalhador) da cidade onde moro, e sou a responsável pelo Seguro Desemprego. E sei muito bem dos horrorres que estava sujeita esta categoria. Sem FGTS, sem recolhimento de INSS e muito menos sem direito a Seguro Desemprego. 

      A profissão de empregada doméstica não acabará não, ela será uma profissão digna de gente digna. 

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