Trabalhadores de Apps em Cena, por Daniele Barbosa

A construção desta coluna teve o propósito de fazer com que as vozes das trabalhadoras e dos trabalhadores de aplicativos comparecessem à cena principal, colocando em questão o enquadramento comumente produzido pela grande mídia.

Trabalhadores de Apps em Cena

por Daniele Barbosa

Durante dois meses, a coluna Trabalhadores de Apps em Cena ocupou o Jornal GGN aos sábados. Foram sete entrevistas, em que motoristas e entregadores de plataformas digitais, ao afirmarem as suas existências, produziram um importante saber sobre a uberização do trabalho no Brasil de hoje.

A construção desta coluna teve o propósito de fazer com que as vozes das trabalhadoras e dos trabalhadores de aplicativos comparecessem à cena principal, colocando em questão o enquadramento comumente produzido pela grande mídia¹. Participaram desta primeira etapa do projeto as professoras e os professores Daniele Barbosa, Joel Birman, Luis Carlos Fridman, Márcio Túlio Viana, Pedro Cunca Bocayuva, Ricardo Festi, Simone Oliveira e Wilson Ramos Filho. A proposta foi a de formular apenas uma única pergunta para a construção coletiva das entrevistas que se seguiriam. Assim nos dividimos em diferentes campos temáticos: “empreendedorismo de si mesmo”; “condições de subjetivação”; “solidariedade social”; “cooperativismo e relação de emprego”; “cidade e questão racial”; “luta dos movimentos sociais”; “gênero” e “pandemia e trabalho”. Numa aliança entre as várias áreas do conhecimento, fomos nos interdisciplinarizando com o intuito de ampliar o debate acerca das relações de trabalho uberizadas.

Os acadêmicos, que frequentemente são convocados a falar, ao formularem as perguntas, passaram ao lugar do não saber e ao da escuta. As trabalhadoras e os trabalhadores, por sua vez, ao serem aqui entrevistados, escreveram esta coluna. A reflexão é deixada às leitoras e aos leitores.

Voltaremos em breve! Novas participações, outros olhares e novas questões serão incorporadas à coluna, numa resistência à uberização, que, cada vez mais, vai dizendo respeito a todos nós. Desde já agradecemos às trabalhadoras e aos trabalhadores Paulo Teixeira Jr., Maria Eldeane de Sena, Lívio Luna, Abel Santos, Juliana Iemanjara, Joyce Travassos, Rennan Resende e ao importante apoio do Jornal GGN. Para quem não conseguiu acompanhar todas as entrevistas, os links podem ser acessados abaixo. Não deixem de conferir:

PAULO TEIXEIRA JR. (Paulinho da App)

Motorista de plataforma digital. Presidente da Associação de Profissionais por Aplicativo (APP).

“O pensamento geral, o pensamento mais amplo dos profissionais é que eles são empreendedores, que eles têm autonomia, quando, na verdade, eles trabalham dentro de regras que não foram criadas por ele.”

MARIA ELDEANE

Entregadora da Cooperativa Despatronados, atualmente.

“Eu sou uma mulher negra, nordestina, ex-moradora de rua e passei para a universidade pública. Então, para mim, deixar de estudar era impossível, intragável e impensável. Então, a gente começou catar. Ele conseguiu um quadro. Depois a gente conseguiu dois pneus. E a minha primeira bike de entrega, ela foi do lixo sim.”

LIVIO LUNA (LIVIO, O UBER DE ESQUERDA)

Motorista de plataforma digital. Dirigente da Associação de Profissionais por Aplicativos, Plataformas Digitais e Geral e Afins (APP).

“E aí eu vou falar agora daquilo que eu tenho propriedade para falar, que é o fato de eu ser uma pessoa periférica, morar no subúrbio. Eu não gosto de viajar pela Zona Sul. Eu não gosto de fazer viagem pela Zona Sul, porque é ter certeza de que você vai ouvir alguma gracinha escrota, sabe. É ter certeza que você vai ouvir alguém querendo te colocar no seu lugar.”

ABEL SANTOS

Entregador de plataforma digital. Presidente da Organização Associativa de Profissionais por Plataforma Digital – OAPP.

“Hoje a maior dificuldade que nós temos, as lideranças, as associações e aquelas entidades que lutam contra essa precarização, é literalmente valor monetário, dinheiro, porque os aplicativos, eles fazem um marketing muito grande. Só a Ifood gastou mais de um bilhão com a TV Globo. E eles empregam isso, né, dentro da mente do entregador, de que ele é o próprio patrão, é um microempreendedor, que essa forma é o futuro. E eles querem tornar essa precarização, essa exploração real. Realmente algo que é solução para o futuro, né. E a gente sabe que não é. E a gente não consegue atingir, da mesma forma que eles. A gente não consegue fazer com que todos os entregadores escutem a voz, da mesma forma que os aplicativos, as plataformas e até o próprio governo, que hoje é a favor desse tipo de precarização, de exploração, né.” 

JULIANA IEMANJARA

Entregadora Antifascista. Atualmente, trabalha no modo cooperativo dos Entregadores Antifascista.

“eu acho que todas as militâncias, elas tentam correr atrás disso, né. Mostrar pras pessoas o quão importante elas são, né. Olha, não deixem te calar! Querem te calar, mas não deixem te calar! Se junte aqui a nós, que a nossa luta é essa, essa e essa. Vamos junto?”  

JOYCE TRAVASSOS

Motorista de plataforma digital. Membra da Diretoria da Associação de Motoristas Particulares Autônomos– AMPA-RJ.

“às vezes, o cara até está com a esposa ou com a namorada, mas ele quer ir na frente. Tem uma grande parte que eu percebo, porque não se sente bem em andar atrás, sendo conduzido por uma mulher.” 

RENNAN RESENDE

Entregador de plataforma digital. Diretor de mobilização da Associação de Profissionais por Aplicativos– APP.

“sem a ajuda dos consumidores, das pessoas que realmente usam da plataforma, nós não vamos ser capazes de conseguir o êxito que a gente quer. Então, a minha consideração seria que, além de toda a luta que a gente faz diariamente trabalhando, que as pessoas tenham em mente e olhem pra gente como um problema social no futuro, que está começando agora. E a gente precisa de ajuda pra resolver isso.”

¹ BARBOSA, Daniele. A precariedade politicamente induzida e o empreendedor de si mesmo no caso Uber: Sob uma perspectiva de diálogo entre Butler, Dardot e Laval. RJ: Lumen Juris, 2020, p. 100.

• Participantes:
Daniele Barbosa: Professora na pós-graduação lato sensu em Direito do Trabalho e Previdenciário (CEPED/UERJ). Professora Substituta de Direito do Trabalho na UERJ (2017/2019). Autora do livro A precariedade politicamente induzida e o empreendedor de si mesmo no caso Uber: Sob uma perspectiva de diálogo entre Butler, Dardot e Laval. Advogada.

• academia
https://jornalggn.com.br/destaque-secundario/trabalhadores-de-apps-em-cena-por-daniele-barbosa/
Redação

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