Mais relatos sobre os desmandos que atingiram Alfredinho, do BipBip

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Mais dois relatos sobre o episódio de ontem no BipBip, envolvendo o proprietário Alfredinho, de 74 anos, e um policial rodoviário federal de folga. Os relatos de Facebook mostram bem a situação. O arbítrio se instala e as pequenas autoridades crescem no desmando. Leia, a seguir, os relatos.

Essa foto, muito mal tirada, é do Alfredinho saindo da delegacia do Leblon às 2:27. Foi a terceira delegacia da noite onde ele foi conduzido a mando de um agente da Polícia Rodoviária Federal que, 4 horas antes, apareceu no Bip-Bip armado ameaçando as pessoas por uma agressão que teria recebido ao ser totalmente insensível com uma homenagem a Marielle. Isso aconteceu por volta das 22:00. Alfredo em seus tradicionais discursos fez homenagem a Mari e convidou todos para o grande ato de amanhã. O cidadão, que teria consumido pelo menos 4 cervejas no bar, começou com aquele discurso provocador de “e homenagem aos policiais mortos”… Foi vaiado e, na confusão ao sair, teria levado um chega pra lá de alguém. 
O que ele deveria fazer? Chamar a Polícia e registrar queixa por lesão corporal contra quem o agrediu.

O que fez? Voltou meia hora depois mostrando a arma por dentro da calça, entrou no bar dizendo que estava com o “caralho no corpo”, começou a ameaçar atirar se fosse necessário e ficou fazendo discurso político. 

A PM chegou rápido. Foram 3 carros. Não desarmaram o sujeito e ficou aquela situação de conversa dali, conversa de lá. Pela parte do Alfredo e dos frequentadores, apesar da tensão, a gente teria até resolvido a situação ali e vida que segue. 

Porém, o sujeito, super grosso e querendo demonstrar autoridade e machismo sobre a guarnição da PM, que ali era comandada por uma tenente, EXIGIU que o Alfredo fosse o SEU conduzido para delegacia. Se recusou a dar voz de prisão ao Alfredo mas, passando por cima da PM, exigia aos gritos levar o Alfredo à Delegacia.

Resumindo, depois de passarmos pela 12ª, 13ª (onde chegou em pouco tempo uma guarnição da PRF com policiais fortemente armados), onde não havia delegado para o valentão registrar a queixa, paramos na 14º.

Conseguimos contato, e, claro agradecemos muito, com o valoroso advogado Rodrigo Mondego, que rapidamente chegou à DP e foi com o Alfredo acompanhar o depoimento. Mas, para a nossa surpresa, o delegado de plantão cagou e andou para o que o Alfredo disse no depoimento (ele apenas leu o que o escrivão relatou) e se recusou a receber o advogado. Assim, o registro feito na delegacia foi simplesmente de Lesão Corporal por parte do agente e o Alfredo como testemunha. No registro, inclusive, o sujeito potencializa sua vitimização dizendo que foi vítima de socos, chutes e empurrões, o que não foi verdade. Mesmo com todo o relato do Alfredo no depoimento, e que eu disse acima, o único “crime” no BO foi de lesão corporal. 

A repercussão nas redes está grande já, a imprensa está procurando. A PRF Brasil vai ter que responder se um agente seu pode, armado, ameaçar pessoas dentro de um bar depois de consumir bebida alcoólica. A Polícia Civil tem que responder sobre o fato do delegado não ter lavrado o abuso de autoridade do agente que exigiu levar o Alfredo sem nenhum motivo e nem ter ouvido Alfredo e seu advogado. E o mundo precisa responder o motivo de tanto ódio e ameaças. 

Tá foda. 
#Mariellepresente

 
 
 

O ARBÍTRIO CALA O BIP-BIP

Meu grande amigo Jean Marc Schwartzenberg estava ontem no Bip-Bip, bar e pólo de resistência cultural do Rio de Janeiro que tanto ele quanto eu frequentamos há anos. A roda de samba ontem homenageou Marielle Franco. E o que aconteceu depois disso foi gravíssimo. LEIAM O RELATO DO JEAN, ESPALHEM.

“Hoje a alegria e a boa música do Bar Bip-bip foram interrompidos por um sujeito que começou a gritar provocações quando alguns músicos e o Alfredinho, dono do bar, prestaram uma rápida homenagem à Marielle. O sujeito gritou ‘E os 200 policiais mortos, como é que ficam?’. Sob vaias, continuou suas provocações por um longo tempo até que foi embora, contrariado.

Poderia ser apenas uma história de um bêbado chato querendo atrapalhar a vida dos outros. Mas a coisa se complica quando o cara volta, meia hora depois, de banho tomado, exibindo uma pistola na cintura e ameaçando Alfredinho e todos os presentes. O sujeito se disse policial e que estava “disposto a dar uns tiros e o cacete”. Armou a confusão, obrigou a parar a roda de samba, até que a polícia chegou. Nós, que numa sociedade normal deveríamos ficar aliviados pela chegada da polícia, vimos logo que estes dariam “preferência” ao colega. Corporativismo flagrante. O provocador se fez de vítima, ficou muito tempo conversando com os policiais – a esta altura já eram três viaturas – e no final exigiu que o Alfredinho fosse até a delegacia: “Eu sou policial rodoviário federal e o dono do bar é o meu conduzido”. O sujeito virou toda a história ao avesso e se colocou no papel de vítima de ameaças (ele chegou, sim, a levar um tapa de um dos frequentadores, mais cedo, quando ele insistia nas agressões verbais).

E o Alfredinho, uma das pessoas mais generosas que eu conheço (e que é ao menos 20 anos mais velho que o sujeito), se viu obrigado a ir até a 12a. delegacia. Ainda não sei como terminou.

Parece só um incidente isolado, mas não é. É parte de um contexto maior, muito grave. É mais uma tentativa de intimidar, de calar as vozes dissonantes, por gente que tem certeza da impunidade.

Tá difícil, Brasil.”

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Atualização de Cláudia Lamego – “Ficaram até 3h da manhã na delegacia. O delegado nem quis ouvir o advogado de Alfredinho. Registraram queixa de agressão contra o policial.” Alfredinho está no processo como testemunha, por ser dono do bar, e não como réu.

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Não tá fácil não.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

11 Comentários

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  1. A prf, a escalada de militarização e as cruzadas morais!

    Repito aqui o comentário que fiz no outro “post” sobre o tema:

    O que acontece com a prf não é um sintoma isolado, e nem a ação desse boboca também!

    A prf sempre foi um ente clássico de mediação da classe mé(r)dia com o Estado e seus agentes, o que vulgarmente chamamos de corrupção!

    Historicamente os “guardas de trânsito das rodovias” sempre foram rotulados como passíveis de “conversa”, e em se tratando de “suas majestades”, donos de veículos e condutores de atividades profissionais, o “jeitinho” sempre foi a “melhor saída”.

    Não à toa ostentamos (“inocentemente”, claro, não somos bandidos) números de impunidade nos crimes de trânsito que remetem a dados assustadores:

    Mata-se tanto no trânsito quanto por homicídios dolosos (com intenção de), considerando ainda mais grave o fato de que os crimes de trânsito se dão como efeito da culpa (sem intenção de).

    Ainda assim, ninguém imagina proibir a venda de combustíveis e a fabricaçãod e carros, obviamente!

    Mas eu temo imaginar que se usássemos a mesma hipocrisia que usamos para proibir certas drogas (outras podem, é claro), teríamos um ambiente muito mais selgavem de motoristas em abstinência que de adictos em drogas ou um tráfico (de gasolina) bem mais articulado!

     

    Bem, voltando a vaca fria, eis que depois de amargar a pecha de instituição corrupta, a prf aderiu com gosto a cruzada moralista, bem como assumiu para si parte do esforço miilitarizante que contaminou o aparato policial brasileiro, nesse caso específico, as polícias federal e rodoviária federal, secundados pela mílicia nacional chamada de força nacional.

    Claro que a exposição de débeis mentais anabolizados e “concurseiros”, atraídos por bons salários e perspectivas de carreira (sim, na prf você pode chegar ao topo da carreira por progressão e “bons serviços”, além, é claro de bons contatos), leva a essa mistura explosiva que derramou o “caldo” ontem no boteco aludido (o bipbip).

    É o clima de “guerra”!

    Como vimos, não teve “conversa”, nem a “cerveja do guarda”.

    Seguiu-se o roteiro “tropa de elite”, que confere ao Brasil um dilema que é resultado de sua fatal desigualdade: Ou é na “mediação” (grana) ou na porrada!

    A honestidade aqui se impõe pelo autoritarismo!!!!

    O que aconteceu ontem na zona sul acontece todos os dias nas zonas pobres.

    O ruído é porque os atores estavam nos “lugares errados”.

     

  2. O guarda da esquina

    O golpismo e todo seu autoritarismo de exceção chegaram ao guarda da esquina.

    Ele tem poder , de arma em punho, para calar as vozes que ainda buscam Justiça e Democracia !

    O próprio sistema não tem mais poder para  controlar o meganha …

    Como aconteceu bem antes, com o AI-5….

    A próxima etapa são as covas clandestinas e as execuções sumárias !

    Ou melhor, a execução de Marielle foi sumária, portanto a ” próxima etapa ”  já chegou….

     

    1. Quem come e(o) guarda come duas vezes?

      Deixe-me gentilmente discordar de Vossa Mercê:

      O guarda da esquina, o guarda da delegacia, dos batalhões, os guardas de toga e do mp sempre tiveram o poder de coerção anti-democrático!!!

      Nunca houve nem justiça nem democracia nesses cantos setentrionais.

      Desde sempre o judiciário sempre se acoitou com as elites, assim como desde 1889 foram raros os suspiros democráticos (favor não confundir com eleições, por favor!).

      Eles (os guardas) sempre agiram sob o consenso cúmplice e assassino nosso!

      As covas clandestinas e execuções sumárias não desapareceram como método, a gente é que se engana achando que acabou (sei lá, deve fazer bem para aplacar nossa culpa, ai, esse cristianismo latino)

      Que o digam os amarildos…

       

      PS: Outro engano seu, o sistema sempre controla seus meganhas, até quando parecem fora de controle! Essa é a natureza do “sistema”!

  3. Quendo Moro gravou e liberou
    Quendo Moro gravou e liberou a fala da Presidenta da República em atividade, e não foi punido, essa atitude foi um divisor de águas.

    Depois disso, qualquer autoridade passou ter o direito de fazer o que quiser.

    E fazem, pois sabem que não serão punidos.São todos Moro.

  4. PRF tambem ?

    Chiiiiiiii ? A PRF agora aderiu ao autoritarismo reinante no pais. Sera inveja da PF.? Isto eh muito grave porque eh inimaginavel o numero de arbitrariedades que ela pode fazer com os motoristas do Brasil: (multas, apreensoes,alegacao de desacato de autoridade, achaques,e ate prisoes, tudo de ilegalidade que voce possa imaginar)

  5. „Parece só um incidente

    „Parece só um incidente isolado, mas não é. É parte de um contexto maior, muito grave. É mais uma tentativa de intimidar, de calar as vozes dissonantes, por gente que tem certeza da impunidade.“

    Perfeito! É exatamente isso! Eu já vi esse filme antes. Quem viveu os anos da ditadura sabe! 

  6. Eu achava que a PRF tinha outro nível

    A PF para mim está com a imagem muito feia, desde a LJ. Mas a PRF até agora me dava a impressão de ser bem profissional, imparcial, longe de política partidária. A credibilidade é muito importante para as instituições.

  7. Onde vamos parar, um

    Onde vamos parar, um comerciante de 74 anos de idade vitima de um abuso de autoridade, ontem um Padre também foi ofendido, me corrijam se estou errado, mas uma rápida pesquisa, muito fácil de fazer no facebook nota-se que o perfil de quem parte com estas ofensas são eleitores de bolsonaro, alias todo ódio disseminado nas redes sociais tem partido de quem tem simpatia ou vem fazendo campanha para o tal bolsonaro. Não duvido que tanto esse policial como quem ofendeu o padre também não seja.

  8. estamos vivendo o que as

    estamos vivendo o que as periferias do país sempre viveram.. e não estamos gostando.. que bom.. mas é preciso lembrar que justiça, se for de verdade, tem que ser prá todo mundo..

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