Violência policial nos EUA e no Brasil, diferenças e paralelismos

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Só nos últimos dias vi e compartilhei no Facebook as seguintes notícias sobre violência policial na gringolândia:

http://rt.com/usa/261737-us-oakland-protests-arrested/

http://thefreethoughtproject.com/infant-responsible-grenade-thrown-face/#kHC2LWURkOTKeMJO.01

https://www.facebook.com/19ActionNews/photos/a.250725389442.137081.248731454442/10151558166299443/?type=1&theater

http://www.ifyouonlynews.com/racism/wtf-cleveland-police-charged-12-year-old-tamir-rice-with-inciting-panic-and-aggravated-menacing-a-week-after-killing-him-images/

https://www.youtube.com/watch?v=M4eFidcouCc&feature=youtu.be

Nós estamos acostumados à “violência policial no Brasil”. Tanto, que o Google já registra 773.000  resultados para esta expressão. A expressão “brutalidade policial no Brasil” tem 542.000 resultados. A expressão “police violence in US” tem estonteantes 109.000.000 resultados. A expressão “police brutality in US” tem 15.300.000 resultados.

Estes são resultados significativos, mas podem ser enganosos. É difícil dizer se há mais violência policial nos EUA do que no Brasil ou se os norte-americanos falam mais sobre violência policial do que os brasileiros. As explicações oficiais para a violência policial, porém, parecem ser semelhantes.

No Brasil ficou famosa a explicação que um policial deu para o tiro de fuzil que matou um carioca que estava usando sua furadeira: o objeto era parecido com uma metralhadora Uzi. Nos EUA a polícia culpou um garoto de colo de não ter se desviado da trajetória de uma granada lançada por um policial. Nos dois casos a culpa foi da vítima.

Culpar a vítima é fácil. Punir um policial é difícil. No Brasil os policiais são geralmente absolvidos com base nos seus próprios relatórios. Nos EUA alguns deles sequer chegam a ser denunciados.  A julgar pela avalanche de violência policial cá e lá o fenômeno é uma tendência histórica. E tende a piorar antes que seja revertida. 

No Brasil a violência policial é quase sempre praticada na periferia e nas favelas. Nos EUA o fenômeno parece ter um viés claramente racial, pois os negros são as vítimas preferenciais dos policiais brancos. 

Num dos casos referidos acima os policiais norte-americanos dispararam mais de uma centena de tiros contra os ocupantes de um carro. Impossível não qualificar aquilo como uma execução a sangue-frio das vítimas com requintes de sadismo cinematográfico. O episódio lembrou-me a primeira invasão do Morro do Alemão pelo BOPE, quando publiquei o texto Nazismo à Carioca no Observatório da Imprensa: http://observatoriodaimprensa.com.br/interesse-publico/nazismo-a-carioca-com-apoio-da-imprensa/

Um caso semelhante ocorreu algum tempo depois e o chamei de Nazismo à Carioca 2: http://observatoriodaimprensa.com.br/caderno-da-cidadania/nazismo-a-carioca-2/

O padrão de conduta dos policiais norte-americanos não é muito diferente do que tem sido utilizado no Brasil. Portanto, já podemos falar de um Nazismo Policial “made in US”. A única pergunta que fica sem resposta é se a brutalidade policial nos EUA está influenciando os policiais do Brasil ou se ocorre exatamente o oposto. Já defendi a tese de que está em curso uma latino-americanização da gringolância https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/a-latino-americanizacao-dos-eua . Não seria o caso dos especialistas começarem a estudar o fenômeno da violência policial levando em conta as influências mutuas e bilaterais entre EUA e Brasil? 

Fábio de Oliveira Ribeiro

8 Comentários

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  1. “Não seria o caso dos

    “Não seria o caso dos especialistas começarem a estudar o fenômeno da violência policial”.

    Exato.

    Tema tão complexo assim não deveria nem ser  levantado por amadores, especialistas em tudo, portadores de “ranseníase” esquerdopata.

     

    1. O esgotífero Free Walker quer

      O esgotífero Free Walker quer limitar meu Freedom of speech. Muito apropriado, sempre suspeitei que ele é apenas mais um filho-da-puta autoritário a serviço da gringolândia. 

       

  2. Rsrsrs esses
    Rsrsrs esses comunistas.

    Agora a violência policial é influenciados EUA?

    Tá de sacanagem com a.minha cara?
    Não sabia quem é o Brasil?

  3. Isto se chama contenção social!

    Fica claro pelos dados econômicos norte-americanos que a disparidade de renda aumenta dia a dia, ao mesmo tempo com a diminuição dos empregos no setor industrial, transferindo-os para setores de serviços mal remunerados e sem a mesma participação pública na construção na sociedade norte-americana. As antigas classes médias operárias estão se transformando numa classe pobre dependente do Estado e revoltada contra ele, ou mesmo tempo que questionam o seu modo de vida.

    Com este caldo de cultura para um processo de mudança, as forças conservadoras tentam reagir com a criminalização dos movimentos de revolta ou mesmo de desobediência civil espontâneo sem talvez uma noção clara do que ele representa.

    Para contrapor isto se cria um Estado Policial, separando o povo em duas categorias, os bons e os maus dentro da mais velha tradição mocinho-bandido. Para agravar isto, a indústria de entretenimento gera personagens de policiais acima da lei que vingam os bons dos maus que conseguem pelo “laxismo da lei” fugir da punição desta.

    Temos um bom caldo de cultura para qualquer coisa, agora só um reparo, poderemos modificando um pouco escrever sobre o Brasil sem que necessariamente um copie o outro.

    1. O processo de deterioração

      O processo de deterioração econômica e social da classe média nos EUA é um fato. Bem lembrado. Esta também foi uma das razões pelas quais afirmou há alguns anos que há um processo de “latino-americanização” dos EUA. Afinal,  na América Latina a disparidade social e a contenção violenta da população pobre era uma realidade ainda mais evidente e gritante há algumas décadas. 

      Não vou dizer aqui que ocorreu uma equalização entre os dois hemisférios, ou que o empobrecimento dos norte-americanos de classe média equivale ou estimula ao enriquecimento dos miseráveis brasileiros. Nem mesmo a tradicional “classe média brasileira” foi tão rica e tão influente politicamente quanto a “classe média norte-americana” na década de 1950. O sindicalismo lá nos anos 1950 era mais forte e coeso do que já foi ou é no Brasil neste momento. Além disto, a “classe C” supostamente criada por Lula não passava de uma “classe baixa alta”, que havia começado a respirar. 

      A violência policial também existia nos EUA, mas creio que não era tão evidente e tão disseminada quanto tem sido nos últimos anos. A escalada armamentista policial que ocorre na gringolância também é assustadora. Os caras estão colocando tanques nas ruas e a própria população norte-americana já começou a ficar incomodada com a crescente militarização da vida cotidiana.

      Há uma diferença fundamental entre Brasil e EUA. Lá a legislação parece acompanhar e legitimar a crescente invasão da vida privada pela vigilância policial e dificulta a repressão aos abusos cometidos pelos policiais. No Brasil a CF/88 proibe tortura e pena de morte, mas as PMs torturam e matam diariamente e nenhum partido político parece muito disposto a lutar contra este lixo tóxico deixado nas nossas ruas pela Ditadura Militar. 

      Grato pela sua colaboração. Ao contrário dos outros comentaristas você veio aqui discutir idéias e não fazer ataques pessoais. 

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