O escritor, ensaísta e dramaturgo Oswald de Andrade foi um dos promotores da Semana de Arte Moderna de 1922. Seu nome está associado do modernismo brasileiro, que inspirou os Tropicalistas, como podemos comprovar em “Geleia geral”, de Torquato Neto e Gilberto Gil.
“Geleia geral” (Torquato Neto/Gilberto Gil) # Zé Renato/Verônica Ferriani.
um poeta desfolha a bandeira
e a manhã tropical se inicia
resplandente cadente fagueira
na geleia geral brasileira
que o jornal do Brasil anuncia
ê bumba iê, iê boi
ano que vem mês, que foi
é bumba iê, iê, iê iê
é a mesma dança, meu boi
“a alegria é a prova dos nove”
E a tristeza é teu porto seguro
minha terra é onde o sol é mais limpo
e mangueira é onde o samba é mais puro
tumbadora na selva-selvagem
pindorama, país do futuro
ê bumba iê, iê boi (refrão)
é a mesma dança da sala
no canecão na TV
e quem não dança não fala
assiste a tudo e se cala
não vê no meio da sala
as relíquias do brasil:
doce mulata malvada
um elepê de Sinatra
maracujá mês de abril
santo barroco baiano
superpoder de paisano
formiplac e o céu de anil
três destaques a Portela
carne seca na janela
alguém que chora por mim
um carnaval de verdade
hospitaleira amizade
ê bumba iê, iê boi (refrão)
plurialva contente e brejeira
miss linda brasil diz bom dia
e outra moça também Carolina
da janela examina a folia
salve o lindo pendão dos seus olhos
e a saúde que o amor irradia
ê bumba iê, iê boi (refrão)
um poeta desfolha a bandeira
e eu me sinto melhor colorido
pego um jato viajo arrebento
como roteiro do sexto sentido
voz do morro, pilão de concreto
tropicália, bananas ao vento
iê bumba, iê boi (refrão)
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Fontes:
– Torquato Neto ou a carne seca é servida, de Kenard Kruel. – Teresina: Ed. Zodíaco, 2008.
– Site YouTube.
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Aquele abraço
Do modernismo à tropicalia, uma reinvenção da poesia e literatura na musica.
Respondendo
Maria Luisa, assino embaixo do seu comentário. Tomo a liberdade de deixar um link sobre a vida e obra do piauiense Torquato Neto. Espero que goste. Abraços. Link AQUI.
A carne seca
Tropicália é Tropicalismo. As letras do piauiense e dos baianos (incluindo Capinan) se mesclam aos parangolés de Helio Oiticica, e o quadro se delineia. Lembrei agora que a nova edição de Torquato Neto e a Carne Seca é Servida já está ficando velha, e nada. O livro é muito bom, não se justifica cercear o acesso ao público. Que nosso compadre Kenard tome as providências.
Beijos.
Respondendo
Pois é Gregório, tá passando do ponto. Está pra fazer quase um ano que você, heroicamente, fez a revisão do livro e nada. Nosso compadre só quer saber de Tutóia, no Maranhão.
Beijos.
Tropicalismo baiano inspirado
Tropicalismo baiano inspirado no Modernismo de 1922? Pode ser , mas o Modernismo foi um movimento intelectual e artistico muito maior, um repensar do Brasil nas circunstancias da época, o Tropicalismo é algo bem menor.
O Modernismo tinha raizes europeias que inspiraram seus pensadores que conheciam muito bem a Europa , tambem tinha muito a ver com a elite paulista da época do café, representada por dona Olivia Guedes Penteado, uma das líderes do movimento que ao que me parece tem pouca coisa a ver com Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Respondendo
Motta Araujo,
Pelo título – “Oswald de Andrade e a inspiração dos Tropicalistas” – já fica claro que o “Modernismo” inspirou o Tropicalismo. E foi justamente essa a minha intenção. Vou tentar explicar pegando apenas a música “Geléia Geral” que selecionei para ilustrar este post.
Você deve ter percebido várias referências literárias inseridas nas estrofes da canção. Torquato Neto (autor da letra) faz referência ao “Manifesto Antropófago” (“alegria é a prova dos noves”), faz alusão à mesma fonte (‘Pindorama, país do futuro… roteiro do sexto sentido’) e cita o romance de Oswald de Andrade “Memórias Sentimentais de João Miramar (‘Brutalidade Jardim’). Outros versos conotam, sarcasticamente, “Canção do Exílio” – ‘Minha terra, onde céu é mais limpo / E a Mangueira onde o samba é mais puro” – e o Hino à Bandeira – “salve o lindo pendão de seus olhos’ – que está ligado à imagem de abertura da canção.
Toda canção justapõe o tropical (rústica, folclórica, ‘as relíquias do Brasil’) e o industrial / urbano, parodiando o ufanismo e caráter pomposo do discurso dos beletristas, à maneira de Oswald de Andrade.
Quanto à questão das “biografias” cada um tem o direito de pensar/divulgar o que considera certo. Como é bom vivermos num país democrático, não é mesmo?
Grata pela participação no post. Abraços.
Os tropicalistas lideram o
Os tropicalistas lideram o movimento ANTI BIOGRAFIAS, os modernistas jamais praticariam semelhante contrasenso eram libertarios e a essencia do movimento era a liberdade artistica e intlectual. Sobre os modernistas há excelentes biografias, especialmente de Tarsila, varias de Oswald e de Pagu, de Anita Malfatti, Del Picchia, etc.
È extremamente importante a
È extremamente importante a contribuição da autora do post na chamada Historia comparativa, o correlacionar de ideias e escolas de pensamento, é um campo muito pouco explorado na historiografia brasileira. Há sem duvida uma area fertil para relacionar o Modernismo de 1922 com a Revolução de 30, o contraponto politico aos sacudidos de renovação artistica dos Modernistas, que por sua vez inspiraram em certo sentido renovador a nova arquitetura brasileiro dos anos 40, com Oscar Niemayer à frente.
A morta
No livro o Rei da Vela está a peça a Morta, onde o Oswald narra a morte da Poesia, justo ela que o homenageia nos versos de Torquato, fina ironia.