Uma vontade basta, por Janio de Freitas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Janio de Freitas

Da Folha de S. Paulo
 
Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Previsto para hoje e tido como início do processo de votação da reforma política, seja o que for que se passe na Câmara será o ponto culminante, por ora, do período mais desrespeitoso da maioria dos deputados com o país nos anos sem ditadura.

O que está para ser votado são escolhas tão importantes como o sistema eleitoral para compor a própria Câmara. De onde e como deve vir o dinheiro para financiar as campanhas eleitorais. A validade ou extinção das coligações de partidos. A duração do mandato de senador. O número de eleitores necessários para apresentação de um projeto de iniciativa popular, e ainda mais. Questões todas muito importantes para melhoria ou maior degradação da política e da democracia por aqui.

Foi feito um relatório a ser votado, como resultado de mais de três meses de discussões em uma comissão especial. Algumas conclusões não coincidiram com o desejo pessoal do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O relator Marcelo Castro fez alterações obedientes, mas sobrou alguma coisa inalterada.

Eduardo Cunha não admitiu que a comissão votasse o relatório, levando-a a adiar a decisão. Já que o relator se recusava aos gestos finais de servidão, Eduardo Cunha fez saber que iria substituí-lo. Logo, porém, optou por outra exorbitância: levaria o projeto para votação direta do plenário, com a já conhecida manipulação de sua tropa, desprezando o relatório e a opção final da comissão sobre os temas nela discutidos.

Nada do que tenha sido negociado ontem, sobre o encaminhamento a prevalecer, merece confiança até hoje. A vontade de Eduardo Cunha, já se viu bastante, não tem admitido concessões mais do que aparentes.

O PT, boquiaberto, tem dois ou três deputados em luta contra o presidente da Câmara, e o restante com participação, no máximo, pela distante periferia. O PSDB, com indigestão de impeachment, não se mexe, mas, como em expectativas anteriores, dirige a Eduardo Cunha acenos de simpatia significativa. A divergência começou entre peemedebistas, e peemedebistas vão fazer o número para decidi-la. Nele, Eduardo Cunha não opina: manda na maioria. Como se dá com quase todas as bancadas pequenas.

E pronto. Temos um instantâneo da republiqueta que, desse modo, define a cara de sua democracia.

PALOCCI

Joaquim Levy acrescentou, ao seu diga ao povo que fico, a informação de que considera estar o corte de R$ 69,9 bilhões do Orçamento “na medida adequada” e “sem risco para o crescimento econômico”.

Se essa é a medida adequada, por que batalhou pelo corte de R$ 80 bilhões, no início, e “entre R$ 70 e R$ 80 bilhões”, depois? E que crescimento econômico? Só se não tem risco porque não existe, nem em perspectiva.

No Brasil, a hipocrisia é uma forma de governar a economia. Joaquim Levy: uma saudade de Palocci.

QUE JUSTIÇA

O ministro Luiz Fux reivindica, para si e para seus pares no Supremo Tribunal Federal, vencimentos (no funcionalismo não se chamam salários) e benefícios que restauram um multissecular: nababesco. Mas os acompanha de uma razão solene: “a necessidade de valorização institucional da magistratura”. Não, é mesmo e só de valorização financeira e patrimonial.

Institucional talvez seja esta outra reivindicação: se condenados por improbidade, magistrados não perderiam o cargo. Ou seja, continuariam magistrados para condenar também acusados de improbidade. 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Eduardo Cunha, Presidente da

    Eduardo Cunha, Presidente da República de Bananas do Brasil, está apenas fazendo o serviço que atende a determinados grupos e pessoas. Não importa seu futuro político, a Lava Jato ou qualquer coisa. Ele sabe que nenhum mal lhe alcançará até o fim de seus dias. Fica a pergunta: como será possível consertar este estrago todo? Se é que isto seja possível de ser feito algum dia.

  2. (Ia por no Fora de Pauta, mas acho que tem a ver c/todos nós)

    ” 408 Onde È Necesária Muita Doçura : Certas naturezas não têm outra escolha senão de serem malfeitores públicos ou secretos carregadores de cruz ” – Aurora, de F. N., um pensador alemão. — A nossa vergonhosa Omissão, desde a intelectualidade, ao jornalismo, às esquerdas (em diversos graus ) quanto à URGENTÍSSIMA, de longo tempo, PROFUNDA REFORMA NO SISTEMA PRISIONAL, CARCERÁRIO. Mais importante do que a questão maior ou menor maioridade penal. E nem precisa ser como uma Noruega ou Suécia, p.ex.

  3. Ao Imperador Cunha não

    Ao Imperador Cunha não interessa a opinião dos seus vassalos, muito menos de idiotas eleitores. Onde passa a sua majestosa capa ele arrasa.

    Se o Levy queria 70 bi e acabou sendo 69,9 bi, por quê ele brigaria por causa de 100mi? Não entendi a briga por causa dessa ninharia.

    Também não entendo por que quando o governo diz que temos que poupar, por que o Congresso aprova aumento para eles, a Câmara aprova shopping, o Fux se acha melhor que os brasileiros que pagam suas mordomias…?

    Acho que ultimamente não estou entendendo nada de nada.

     

  4. Não me convidaram pra essa festa pobre…

    Pensava eu que a musica de Cazuza, Brasil, estava démondé. Mas eis que surge “O Horror!” A Câmara de Eduardo Cunha e o Senado de Renan Calheiros em sua fase 2015, e então a musica se reatualizou!

    Quanto aos vencimentos dos prezados ministros, faz-se necessario! Como manter o padrão de um ” Barra Golden Green” e outras mumunhas, se não aumentarem os vencimentos dos sinhozinhos?! Eita republica velha!

     

  5. clube dos homens pequenos

    Da peça” 3 mulheres altas” foi feita uma parodia chamada “3 homens baixos” Não vi nenhuma delas mas gostaria muito. quando penso no congresso penso sempre nessa parodia. sera que Freud explica!!!

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