Figura de Mandela é usada para disfarçar racismo no Brasil, diz ministra

Da Rede Brasil Atual

Para ministra, figura de Mandela é usada para tentar disfarçar racismo no Brasil
 
Luiza Bairros, da Seppir, avalia que morte simboliza ‘fim de uma era’ na luta contra o racismo. Problema ainda não está superado, nem entre sul-africanos, nem entre brasileiros

São Paulo – A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, era ativista do Movimento Negro Unificado, na década de 1970, quando se passou a debater mundialmente as violações cometidas durante o apartheid, regime que segregava brancos e negros na África do Sul, privando de direitos a maior parte da população.

Hoje (6), ao comentar a importância da figura maior surgida da resistência à violência, a gaúcha de Porto Alegre, que sentou raízes no movimento negro em Salvador, recorda que a figura do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, morto ontem (5), aos 95 anos, foi muitas vezes usada para tentar atenuar a gravidade dos fatos ocorridos em todo o resto do mundo. “O apartheid na África do Sul sempre foi utilizado como exemplo de racismo que, comparativamente às condições nacionais, fazia com que o racismo praticado por cada país parecesse algo muito brando”, avalia, em entrevista concedida hoje por telefone à RBA.

Para Luiza, tanto na África do Sul como no Brasil há um largo caminho a recorrer para romper com as diferenças entre negros e brancos. Se no caso brasileiro não houve um aparato institucional oficial no século 20 a cometer violações de toda ordem, o Estado pós-abolição da escravidão encontrou formas de provocar diferenças. E, agora, este mesmo Estado precisa encontrar caminhos para superá-las, mas se depara com resistências dentro e fora dele.

Com isso, a luta de Mandela ainda tem um duplo aspecto. “A notícia da morte é recebida com muita tristeza. Com ele também vai uma certa era da luta contra o racismo no mundo. Vai demorar algum tempo para que se produza uma referência negra internacional tão forte como ele foi”, diz a ministra, avaliando que, por outro lado, seu exemplo seguirá a ser necessário na superação de dificuldades.

Como Mandela influenciou o movimento negro brasileiro?

O movimento brasileiro reemergiu na década de 1970, quando a luta contra o apartheid era muito forte. Existe essa coincidência histórica. Circulavam muitas informações sobre as lutas sul-africanas. Isso influenciou bastante nossas formas de pensar a discriminação que os negros sofriam no Brasil. Embora o apartheid fosse um sistema racista diferente do racismo brasileiro, no fim das contas, tanto lá como cá as consequências do racismo eram as mesmas: países com maioria negra onde os negros estavam em sua maioria submetidos a condições de pobreza, sem acesso aos espaços de poder. Da nossa parte, aqui, construir uma luta contra o apartheid também era uma forma de denunciar as condições internas do país. Nos anos 1980 se formaram no Brasil comitês anti-apartheid, bastante ativos, e que contribuíram muito com o rompimento das relações do Brasil com a África do Sul naquele momento. Era uma demanda importante do CNA naquele momento, para enfraquecer o regime.

Incomoda o movimento negro o fato de Mandela ter se transformado numa unanimidade, elogiado inclusive entre racistas?

O fato de ser unanimidade não incomoda nem é visto com bons olhos. A unanimidade revela outra coisa, que no Brasil sempre foi muito evidente. Nos países onde o racismo tem efeitos negativos na população negra, o apartheid na África do Sul sempre foi utilizado como exemplo de racismo que, comparativamente às condições nacionais, fazia com que o racismo praticado por cada país parecesse algo muito brando. No Brasil é bastante evidente. Sempre se insistiu na existência do racismo na África do Sul, mas não aqui. Toda essa unanimidade em relação a Mandela, em alguns casos, envolve pessoas, autoridades que olham para África do Sul para poder negar as condições em que o racismo opera em seus próprios países, como no Brasil.

A luta de Mandela terminou quando chegou ao fim o apartheid?

A luta de Mandela ainda não terminou. O apartheid foi instituído em 1948. Até acabar, nos anos 1990, deixou sequelas na sociedade sul-africana extremamente fortes. A polícia foi formada para reprimir os negros. São marcas muito fortes. O fato de o país viver desigualdades sociais profundas faz com que ainda haja parcela significativa da população negra morando nos bairros negros. São bairros afastados dos centros urbanos, às vezes 50, 60 quilômetros. Isso ainda não foi completamente eliminado. Você tem contingente muito grande de pessoas que sofrem muito para sobreviver naquela sociedade, em situações muito parecidas com as que vivem os negros no Brasil.

Existe algum tipo de apartheid no Brasil?

Não dá pra dizer que existe apartheid no Brasil no sentido de um sistema legal. Mas os defeitos do racismo, em qualquer lugar, com ou sem lei, são a existência de diferenciais profundos, em prejuízo dos negros. A lição que a gente aprendeu analisando a forma como o racismo opera no Brasil, nos Estados Unidos e na África do Sul, é que no Brasil a inexistência de leis racistas não impediu a sociedade de criar outros mecanismos de exclusão da maioria negra. Por exemplo, o fato de hoje estarmos tentando organizar políticas de promoção da igualdade racial resulta exatamente desse longo trajeto histórico. Você precisa da participação ativa do Estado brasileiro no sentido de criar mecanismos fortes, consistentes, que forcem uma inserção mais vantajosa dos negros na sociedade.

Dá para dizer que houve avanços no combate ao racismo no Brasil?

Avanços no combate ao racismo devem ser pensados em dois níveis. Um nível, a promoção da igualdade racial. Nessa direção é que a Seppir opera dentro do governo federal: como criar determinadas iniciativas para acelerar a melhoria das condições de vida da população negra. Dadas as condições gerais, o Brasil tem demonstrado uma decisão política muito forte. O governo de uma maneira geral. Mas, do ponto de vista do combate ao racismo, isso é outra coisa. As atitudes racistas, as práticas racistas no Brasil hoje são muito mais evidentes do que já foram há 20 anos. Exatamente pelo fato de os negros acessarem determinados espaços e lugares sociais onde antes não estavam provoca nas pessoas uma reação a essa presença. Então você tem, paralelamente aos avanços na Seppir, manifestações de racismo mais frequentes e mais explícitas. Um dos casos mais recentes foi o daqueles jovens que entraram em um shopping em Vitória para se proteger de uma batida policial no baile funk e foram dentro do shopping confundidos com jovens que estariam lá para fazer arrastão ou coisa parecida. A reação da PM foi arbitrária e violenta. As fotos lembram os quadros de negros sendo caçados e apreendidos pelos capitães.

Quais as principais barreiras no combate ao racismo?

Elas se colocam principalmente a partir daqueles setores que sempre operaram usando o racismo como um recurso. Você tem hoje debates fortes dentro do governo, iniciativas para conter as mortes violentas entre jovens negros, que é um fenômeno nitidamente influenciado pelo racismo. Tantas vidas que se perdem num país que não está em guerra, você só pode imaginar que são vidas que não têm valor. Trabalhar essa questão do racismo desse ponto de vista tem sido uma dificuldade muito grande. Não conseguimos adentrar com esse debate nas instituições policiais, no sistema de justiça, que tem papel muito importante na modificação desse quadro das altas taxas de homicídio dos jovens negros. Outro espaço importante para que essa discussão se afirme são os meios de comunicação. Ainda há um processo de veiculação de imagens negativas dos negros que o tempo todo reforça essas suposições de inferioridade.

 

Redação

12 Comentários

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  1. O Mandela pouco conhecido

     

    Por Atilio A. Boron *  (No Conversa Afiada)

     

    La muerte de Nelson Mandela precipitó una catarata de interpretaciones sobre su vida y su obra, todas las cuales lo presentan como un apóstol del pacifismo y una especie de Madre Teresa de Sudáfrica.

    Se trata de una imagen esencial y premeditadamente equivocada, que soslaya que luego de la matanza de Sharpeville, en 1960, el Congreso Nacional Africano (CNA) y su líder, precisamente Mandela, adoptan la vía armada y el sabotaje a empresas y proyectos de importancia económica, pero sin atentar contra vidas humanas.

    Mandela recorrió diversos países de Africa en busca de ayuda económica y militar para sostener esta nueva táctica de lucha. Cayó preso en 1962 y poco después se lo condenó a cadena perpetua, que lo mantendría relegado en una cárcel de máxima seguridad, en una celda de dos por dos metros, durante 25 años, salvo los dos últimos años en los cuales la formidable presión internacional para lograr su liberación mejoraron las condiciones de su detención.

    Mandela, por lo tanto, no fue un “adorador de la legalidad burguesa”, sino un extraordinario líder político cuya estrategia y tácticas de lucha fueron variando según cambiaban las condiciones bajo las cuales libraba sus batallas.

    Se dice que fue el hombre que acabó con el odioso “apartheid” sudafricano, lo cual es una verdad a medias. La otra mitad del mérito les corresponde a Fidel y la Revolución Cubana, que con su intervención en la guerra civil de Angola selló la suerte de los racistas al derrotar a las tropas de Zaire (hoy, República Democrática del Congo), del ejército sudafricano y de dos ejércitos mercenarios angoleños organizados, armados y financiados por EE.UU. a través de la CIA.

    Gracias a su heroica colaboración, en la cual una vez más se demostró el noble internacionalismo de la Revolución Cubana, se logró mantener la independencia de Angola, sentar las bases para la posterior emancipación de Namibia y disparar el tiro de gracia en contra del “apartheid” sudafricano. Por eso, enterado del resultado de la crucial batalla de Cuito Cuanavale, el 23 de marzo de 1988, Mandela escribió desde la cárcel que el desenlace de lo que se dio en llamar “la Stalingrado africana” fue “el punto de inflexión para la liberación de nuestro continente, y de mi pueblo, del flagelo del apartheid”.

    La derrota de los racistas y sus mentores estadounidenses asestó un golpe mortal a la ocupación sudafricana de Namibia y precipitó el inicio de las negociaciones con el CNA que, a poco andar, terminarían por demoler al régimen racista sudafricano, obra mancomunada de aquellos dos gigantescos estadistas y revolucionarios. Años más tarde, en la Conferencia de Solidaridad Cubana-Sudafricana de 1995 Mandela diría que “los cubanos vinieron a nuestra región como doctores, maestros, soldados, expertos agrícolas, pero nunca como colonizadores. Compartieron las mismas trincheras en la lucha contra el colonialismo, subdesarrollo y el “apartheid”… Jamás olvidaremos este incomparable ejemplo de desinteresado internacionalismo”. Es un buen recordatorio para quienes hablan de la “invasión” cubana a Angola.

    Cuba pagó un precio enorme por este noble acto de solidaridad internacional que, como lo recuerda Mandela, fue el punto de inflexión de la lucha contra el racismo en Africa. Entre 1975 y 1991, cerca de 450.000 hombres y mujeres de la isla pararon por Angola jugándose en ello su vida. Poco más de 2600 la perdieron luchando para derrotar el régimen racista de Pretoria y sus aliados. La muerte de ese extraordinario líder que fue Nelson Mandela es una excelente ocasión para rendir homenaje a su lucha y, también, al heroísmo internacionalista de Fidel y la Revolución Cubana.

    * Director del PLED, Centro Cultural de la Cooperación Floreal Gorini.
     

  2. Helicóptero com 1/2 tonelada de coca

    Minha gente, meia tonelada de cocaína não é muita coisa. No máximo é suficiente para uma campanha eleitoral. Para que se fazer um escarcéu danado e mudar de assunto se nós temos o Genoíno e o Dirceu ainda nas paradas de sucesso? Não sejam ridicularmente exigentes. A mídia sabe selecionar as notícias que deixam os seus leitores/ouvintes felizes. Cocaína em festa de parlamentar granfino não dá ibope. E mais ainda: ninguém sabe de quem é a cocaína, embora se conheça o dono do helicópetero que a carregava. Mas e daí? Não sejam injustos.

    Que perseguição implacável!

  3. Noventa por cento  dos que

    Noventa por cento  dos que estão compartilhando loas ao Mandela nas redes sociais não tem a mínima moral para fazê-lo.

    Se Mandela fosse Brasileiro, teria sido caluniado, difamado e combatido por essa mesma gente e a mídia que eles lêem e assistem.

     

  4. Pois é, Mandela defendeu a

    Pois é, Mandela defendeu a luta armada quando a minoria branca linchava e matava sem pudor. Mandela precisa passar por uma “pasteurização” para que oprimidos e humilhados de toda a espécie não tomem o destino com as próprias mãos. Outro exemplo que deve ser lembrado é de um “homem terrível”, Frantz Fanon.

  5. Nada que essa senhora fale

    Nada que essa senhora fale deve necessariamente ser algo isento de contaminaçao onirica né?

    A loucura ja começa no nome da secretaria dela, uma secretaria que se diz lutando por igualdade a partir do reconhecimento de raça…rs

    oras raça é SINONIMO de DIFERENÇA rsrsrsrsr

    Onde há diferença nao pode haver igualdade…rs

    só jesus na causa mesmo…

  6. Mandela

    Quem não sabia que Nelson Mandela organizou a luta armada contra o Apartheid ? Claro que organizou e os alvos eram os certos,quem estava envolvido com o regime racistas. Morreram muitos negros? Sim. Porém ninguém fugiu da luta,pelo contrário aumentava mais e mais .

     

    Aluta armada é valida quando há necessidade e tem que atingir os alvos . Revolução sem luta não é legitima!

    1. Golbery mostrou ao contrário,

      Golbery mostrou ao contrário, sendo possível o regime criar sua própria direita e  esquerda para fazer abertura lenta e gradual

  7. Caro Nassif e demais
    Não é só

    Caro Nassif e demais

    Não é só o racismo que impera, mas também suas lutas sociais.

    Os meio de comunicação, falaram em tom elogioso várias vezes do Mandela, isso por ser na África do Sul, no Brasil eles criminalizam, e ainda lutam, para prender, os que apoiam as mudanças sociais.

    É pura hipocrisia.

    Saudações

  8. A mídia não é a única

    A mídia não é a única responsável, mas é ela que, dia apos dia, recalca exaustivamente o preconceito através de matérias rídiculas, capas de revistas irreais e programas de televisão vexatórios. Não há necessidade de pesquisar muito para se comprovar tal situação.

    Pobre Brasil, o qual se “auto-pensa” um país moderno e democrático, mas que, no fundo, é tão ou ainda mais reacionário que a África do Sul.

     

     

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