Coronavírus: Bolsonaro usa Prevent Senior para exaltar cloroquina

Presidente usa live do CEO da empresa com Itaú BBA para insistir na aplicação indiscriminada de medicamento, sem atentar às exigências para uso clínico

Jornal GGN – O presidente Jair Bolsonaro voltou a exaltar os resultados do uso da cloroquina no tratamento do coronavírus. Desta vez, Bolsonaro usou como gancho uma live realizada pelo Itaú BBA com o CEO da Prevent Senior, Fernando Parrillo.

Na ocasião, Parrillo apresentou o protocolo usado pelos profissionais da rede para o tratamento da doença, afirmando ter encontrado uma forma de gerenciar o tratamento, e que já deram mais de 400 altas.

Bolsonaro fica restrito apenas aos números apresentados e não apresenta outras informações, exaltando apenas a eficácia do uso do remédio e insinuando que ele pode ser adotado de qualquer maneira, como é possível verificar abaixo em print do Facebook:

Contudo, Bolsonaro não se atentou a outros detalhes: durante a live, realizada na última sexta-feira (17/04), Parrillo explicou que a hidroxicloroquina era administrada nos pacientes a partir do sétimo dia de diagnóstico, mas que ele continuava entubado por 14 dias.

Agora, a empresa começou a utilizar o medicamento no segundo dia de diagnóstico, o total de pacientes internados e entubados registrou uma queda drástica. Médicos do grupo hospitalar chegaram a elaborar um paper a respeito do uso da hidroxicloroquina e da azitromicina para casos suspeitos de covid-19, que pode ser acessado aqui.

A íntegra da live foi publicada no YouTube, e pode ser vista abaixo:

(com informações do Poder360)

 

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Redação

7 Comentários

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  1. Porque não se deve duvidar dos números da Prevent Senior.

    A operadora de plano de saúde detém 25% dos idosos de São Paulo em sua carteira de clientes. Isso dá 450 mil pessoas. Não é uma empresinha da esquina. É um grupo econômico forte e seria um suicídio empresarial. Não acho que os caras seriam idiotas neste nível.

    É um grupo com história, que virou case em universidades dos EUA, por conseguirem fazer um plano de qualidade e mais barato que outros.

    Os donos aplicaram o medicamento na própria mãe deles, com coronavírus.

    Se hoje eles estivessem com filas de carros funerários em suas portas e clientes brigando entre eles por leitos de UTI, todos achariam, dentro da tragédia, algo normal, porque isso tem ocorrido no mundo todo. Ou seja, eles não precisariam mentir para justificar nada.

    Eles estão usando a descoberta de Didier Raoult, médico francês, de aplicar precocemente hidroxocloroquina e azitromicina, antes de piorar. Didier é cientista reconhecido no mundo todo. Um dos astros do ramo e é o cabeça do hospital/centro de pesquisa, que trabalha, em Marselha.

    Outros médicos, em diversas partes do mundo, também tem usado o medicamento, e também fazendo seus relatos, mas não divulgando números, como Didier e a Prevent fazem.

    Teria que ser, portanto, uma rede de mentiras gigantesca, onde diversas pessoas fariam seus respectivos suicídios de reputação, e no caso da Prevent, de faturamento. Não acredito nessa possibilidade.

    Seria gente demais, por 15 minutos de fama, arriscando tudo, até possivelmente a liberdade, por estarem ou escondendo cadáveres ou falsificando atestados de óbitos. Além disso, é gente demais que precisaria ser mobilizada para uma conspiração deste nível, desde médicos, parentes dos atendidos, até enfermeiras e faxineiras. Algo difícil de se conseguir.

    Outra possibilidade seria a pandemia, tanto em São Paulo, como em Marselha, não ter funcionado, ou já ter passado e estar acabando. Não é o que vemos nos números de mortos no Brasil, cada dia crescendo mais, e mesmo com subnotificações, porque não temos exames o suficiente.

    Repito mesmo sem precisar: não são estudos científicos completos, impecáveis, randomizados, com grupo controle e tudo mais, dentro dos mais rigorosos procedimentos científicos. São testes clínicos no front de batalha e contagem de cadáveres.

  2. Devido ao brilhantismo do coronavírus, patógeno que, diferentemente das bactérias, dribla até antibióticos, o Trump jogou a toalha da cloroquina, deixando o Bolsonaro sozinho.
    Merda pura.

  3. Esqueçam o Bolsonaro e se concentrem na doença.

    A notícia e excelente.

    Parabéns aos profissionais da Prevent Senior pelas vidas que salvarão milhares, talvez milhões de seres humanos no mundo todo.

  4. Consultei na Plataforma Brasil (http://plataformabrasil.saude.gov.br/login.jsf) os números do CAAE e do parecer indicados no paper disponibilizado aqui na matéria. Tal como dito ali, a pesquisa teve parecer favorável do CONEP, e está registrada na plataforma em nome do segundo autor, Rafael Souza da Silva.

    Há na consulta uma informação interessante: lá são indicadas as datas de início e fim do cronograma que, imagino, seja o cronograma da pesquisa. Tais datas são, respectivamente, 06/04/2020 e 28/06/2020. Se assim é, a pesquisa se iniciou há 13 dias e só se encerrará no final de junho.

    Não parece estranho que com menos de duas semanas e faltando dois meses para a conclusão da pesquisa seus autores anunciem resultados promissores da combinação medicamentosa em questão, afirmando também que já submeteram artigos para a avaliação por pares, em revistas científicas conceituadas, sendo que a pesquisa mal começou e ainda está longe de acabar?

    Então, penso eu, talvez seja melhor ir mais devagar com esse andor. Ao invés de dar tanto espaço para os acenos destes mercadores da saúde (porque, seja a Prevent Senior um case de sucesso internacional, um novo paradigma dos planos de saúde a assombrar seus concorrentes, é isso que ela é, uma empresa, que responde ao mercado dos planos privados de saúde), por que GGN não dá mais espaço para sabermos das pesquisas clínicas em andamento sobre o uso do medicamento em instituições públicas, estaduais e federais, com reputação mais que conhecidas e comprovadas em pesquisas médicas? Por exemplo, poderia pedir para que algum pesquisador de um destes centros públicos avaliasse este paper disponibilizado pela Prevent Senior e se é possível sustentar as perspectivas tão promissoras que seus autores vêm anunciando. Ouvir o outro lado, fomentar o contraditório, dar espaço a opinião de especialistas e por elas se guiar… não é isso que define o bom jornalismo?

    1. Tomo a liberdade aqui para colar a conclusão da análise citada pelo Fábio, que traz também inidicação de outras críticas ao trabalho de pesquisa feito com os pacientes da Prevent Senior.

      Summary of problems
      It is unclear how many of the enrolled patients actually had COVID-19. No PCR test was performed, and on average, study subjects did not have a lot of the typical coronavirus-associated symptoms.
      The study was not randomized; patients could pick their group themselves
      Even though the 2 groups were similar in age, gender, etc., they differ in their symptoms. On average, the Treatment group had a higher percentage of COVID-19 symptoms and COVID-19 suggestive CT scans than the Control group. The Control group might have had a higher percentage of another disease that was not coronavirus related.
      Time intervals between onset of symptoms and enrollment, or between enrollment and endpoint measurement are not clear
      Reason for hospitalization or deaths are not disclosed. Since this is a senior population with underlying diseases, and because people could chose their own group, this should be provided.
      The reported p-values (measure of significance) do not match with the reported data. The significance is not as high as the authors claimed.
      A large additional problem with the study (see links below) was that the study got ethics approval after the patients had already been treated.

      Additional problems and reading
      Here is are some other critical evaluations of this study (will update list if needed):

      A twitter thread by Gaetan Burgio @GaetanBurgio , done earlier today: https://twitter.com/GaetanBurgio/status/1251476181989208066

      Uma aula de como não se deve testar um medicamento – Natalia Pasternak and Carlos Orsi – Revista Questao de Ciencia (in Portugese)

      Crítica ao Estudo da Prevent Senior – Notes On Covid – Ricardo Parolin Schnekenberg

      1. A análise da Natalia Pasternak e Carlos Orsi aponta que o estudo da Prevent Senior, mesmo afirmando querer fazer o “melhor possível” em tempos pandêmicos, não respeitou os “princípios básicos de ética médica”!

        Como havia sugerido em comentário anterior (acima), talvez Natalia Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, pudesse ser convidada pela TV GGN para falar dos problemas – técnicos e éticos – que eles viram na pesquisa do grupo médico em questão, fomentando o contraditório e permitindo aprofundar a discussão sobre o uso da cloroquina no tratamento de COVID-19.

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