Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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Cristina Kirchner retoma centralidade no tabuleiro da política argentina, por Maíra Vasconcelos

Manifestação de apoio à vice-presidente é reprimida pela polícia de Buenos Aires

Cristina Kirchner retoma centralidade no tabuleiro da política argentina

por Maíra Vasconcelos

Há uma semana, o Partido Justicialista (PJ) declarou “alerta e mobilização” por Cristina Kirchner. O pedido de prisão à vice-presidente da Argentina, pelo Ministério Público local, abriu um novo cenário com a mandatária reposicionada no centro do debate político do país. No último sábado, a militância concentrada em “vigília K”, nas imediações do seu apartamento, no bairro portenho de Recoleta, foi reprimida pela polícia com um caminhão hidrante e gás lacrimogêneo.

O prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, da coalizão de oposição ao governo “Juntos pela Mudança”, mandou colocar barreiras nas proximidades do edifício onde mora Cristina. Isso teria provocado os manifestantes, que tiraram as cercas e entraram em confronto direto com a polícia. No sábado, algumas agrupações de militantes tinham previsto concentrar-se em outra parte da cidade, mas com as ações do governo portenho de colocar as cercas, mudaram a rota e foram para a porta do edifício onde mora a vice-presidente. Os meios locais falam em doze policiais feridos e quatro manifestantes presos. Também aconteceram manifestações em repúdio ao avanço do processo judicial contra Cristina Kirchner em várias cidades do país.

Uma das leituras possíveis, que circula nos meios argentinos, é que após o episódio de repressão da militância em Recoleta, Rodríguez Larreta poderia ser o representante da oposição em confronto direto com Cristina Kirchner. Este lugar, hoje, é ocupado pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), que governou o país após dois mandatos de CFK. Além do mais, Larreta e a vice poderiam, desde já, se posicionar como os dois principais candidatos às presidenciais no próximo ano. Nesse caso, Cristina se aventuraria a seu terceiro mandato.

Após o ocorrido, no mesmo dia, foi armado um palco de improviso em frente ao edifício de Cristina Fernández, que falou à multidão e ressaltou o “ódio aos peronistas”. Antes do ocorrido entre os manifestantes e a polícia, a vice-presidente enviou uma carta ao prefeito Larreta, onde menciona o tratamento desigual do governo diante das manifestações. Os vizinhos de Cristina são, em sua maioria, eleitores do PRO, partido de Larreta e Macri, e houve momentos de manifestações dos vizinhos contra a vice, em Recoleta, que não receberam a mesma reação do governo de Buenos Aires.

Também cogita-se que os últimos acontecimentos em torno à Cristina Kirchner possam unir o peronismo da coalizão do governo “Frente de Todos” e diluir o atual conflito entre a ala peronista de Alberto Fernández e o campo kirchnerista. No início deste ano, foi notícia na imprensa que o presidente e a vice chegaram a ficar dois meses sem se falar. Alberto é criticado por sua falta de autoridade e incapacidade para resolver a crise inflacionária do país.

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A causa judicial contra CFK

Cristina é acusada de chefiar um esquema de associação ilícita e fraude ao Estado, ocorrido durante o seu governo, de 2007 a 2015, que teria favorecido o empresário Lázaro Báez, amigo do seu marido Néstor Kirchner, morto em 2010. O promotor Diego Luciani também entrou com pedido de inabilitação perpétua para concorrer a cargos públicos. Sobre a acusação, Luciani afirmou que foi a “maior manobra de corrupção que este país já conheceu”.

Enquanto Kirchner tem a difícil tarefa de explicar a relação contratual de 12 anos, do empresário Baez com o Estado, o promotor Luciani também deve buscar as provas que ainda não apresentou. Como disse o jornalista Sebastián Lacunza, comentarista de política no programa “Desiguais” da TV Pública argentina, “O promotor teve tudo menos o fundamental: um documento, uma testemunha, uma senha bancária, um Panamá Papers, alguma pista real de um suborno. No entanto, a Luciani lhe sobram auto-elogios e algumas partidas de futebol no sítio de Mauricio Macri ”, escreveu Lacunza em artigo no “El DiarioAR”.

Maíra Vasconcelos é jornalista e escritora, de Belo Horizonte, e mora em Buenos Aires. Escreve sobre política e economia, principalmente sobre a Argentina, no Jornal GGN, desde 2012. Cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina (Paraguai, Chile, Venezuela, Uruguai). Escreve crônicas para o GGN, desde 2014. Tem publicado um livro de poemas, “Um quarto que fala” (Urutau, 2018) e também a plaquete, “O livro dos outros – poemas dedicados à leitura” (Oficios Terrestres, 2021).

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

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