Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Essequibo, por Angelita Matos Souza

Parece que o mundo todo está sob o comando de lideranças apegadas ao poder pelo poder, às recompensas que este propicia ao ego.

do Observatório de Geopolítica

Essequibo, por Angelita Matos Souza

No último final de semana reli A conquista da Felicidade, de Bertrand Russel. E logo no início do livro, ao falar do narcisismo, o autor escreve: “A tragédia de muitos políticos bem-sucedidos é que o narcisismo vai pouco a pouco substituindo o interesse pela comunidade e as ideias que ele defendia”.

O que isso tem a ver com Essequibo? Bom, parece que o mundo todo está sob o comando de lideranças apegadas ao poder pelo poder, às recompensas que este propicia ao ego. Maduro é apenas mais um. E não poderia ser diferente, o narcisismo tornou-se uma gaiola inescapável, certamente como “nunca antes na história do capitalismo”.

Não obstante, é possível argumentar que o presidente da Venezuela está defendendo os interesses do seu país e que persegue seus ideais relacionados ao sonho de uma Venezuela próspera. O território em disputa é rico em recursos naturais, notadamente petróleo, e a Venezuela tem direito sobre ele. E tudo indica que a iniciativa conflitiva, com ameaça militar, mira a negociação.

No entanto, pode dar tudo errado e terminar em tragédia, buscar primeiro a solução negociada seria o mais sensato. Pelo jeito, o tom belicoso atende a necessidades políticas internas. Fomentar o nacionalismo em momentos de dificuldades políticas é uma estratégia conhecida.

Seja como for, a riqueza a qual a Venezuela tem direito, se conquistada, provavelmente irá parar nas mãos dos militares do país, transformados em uma espécie de burguesia estatal. Quer dizer, nada garante que chegará ao povo venezuelano na forma de serviços sociais de qualidade.

O que não anula o direito da Venezuela sobre Essequibo, fato reconhecido pelo Acordo de Genebra, de 1966, ano em que a Guiana se tornou independente. O acordo entre a nova República, a Venezuela e a Inglaterra previa uma renegociação sobre o território, o que jamais ocorreu. Esperemos que agora seja esse o desfecho.

Vale lembrar que os EUA já apoiaram a demanda venezuelana, hoje, se não estivessem envolvidos em duas guerras, ou se fosse Trump o presidente, talvez aproveitassem para invadir o país, inclusive porque a Rússia em guerra dificilmente virá em seu socorro. De toda maneira, a hipótese de intervenção americana não deve ser descartada, inclusive porque podem terceirizar o serviço.

O governo Lula já fez chegar a Maduro a disposição de impedir uma invasão da Guiana via território brasileiro. É improvável que o Brasil tenha mais poder militar que a Venezuela, mas esta não vai querer guerra conosco (nem com ninguém, acho).

Como entendo, quem tem mais poder para conter Nicolás Maduro é a China, a situação de dependência da Venezuela com relação ao país asiático confere força a Xi Jinping para disciplinar o presidente venezuelano. E este provavelmente ficará satisfeito com alguma parceria nos lucros, seria uma vitória pacífica, boa para angariar apoio popular internamente. Resta saber se a China vai querer se envolver nesta confusão. Talvez, a pedido do presidente Lula.

Em resumo, apostaria na solução negociada, envolvendo Brasil, China e, claro, os EUA, com ganhos econômicos para a Venezuela e políticos para Maduro. O triste é que quem pagará a conta será seguramente a natureza exuberante da região, com a exploração do petróleo e outros recursos minerais.

Angelita Matos Souza. Cientista Social, mestre em Ciência Política e doutora em Economia pela UNICAMP. Docente no IGCE-UNESP.

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O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.

5 Comentários

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  1. É impressionante como a nossa imprensa livre de isenção, comenta a questão Essequibo. A abordagem começa com a verberação contra Maduro, dando a impressão inicialmeste, que ele inventou um prtexto para preparar uma invasão da Guiana. Somente após as costumeiras adjetivações sobre Maduro, é que os nossos pseudos isentões, falam rapidamente sobre a existência de um contencioso, mas não entram no mérito da questão. Curiosamente, ao darem a notícia que os EUA anunciam manobras militares conjuntas com a Guiana, não há a mínima reprimenda aos EUA por mais esta intromissão nos assuntos de outros países, como já é de costume. Eles não conseguem nem comentar que o comportamento dos americanos é próprio de uma país que tem como objetivo promover as guerras pelo mundo afora, afinal eles se sentem somo donos do mundo.Considerando que depois da fabricação de dólares, a sua principal plataforma econômica é a indústria bélica, dá para entender a razão de tanto empenho em promover guerras.

  2. É maldoso, desonesto e injusto o comentário afirmando que os militares venezuelanos e quem vai se beneficiar da riqueza. E mesmo se assim fosse ainda seria melhor do que ser explorada pela Inglaterra e EUA.

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