Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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Quem é Patricia Bullrich, a representante da direita “linha dura” na Argentina, com chances eleitorais

Bullrich defende uma política de repressão aos protestos sociais

Quem é Patricia Bullrich, a representante da direita “linha dura” na Argentina, com chances eleitorais

por Maíra Vasconcelos

O cenário político atual da Argentina expressa uma direita “linha dura” mais fortalecida.  E apesar de a figura do deputado Javier Milei (Partido Libertário), representante da extrema-direita, suscitar muito interesse e repercussão midiática, quem tem chances de chegar à Casa Rosada, no pleito de outubro deste ano, é Patricia Bullrich, ex-ministra de Segurança do governo do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019). O principal discurso de Bullrich, presidente do PRO (Proposta Republicana), partido de oposição ao atual governo peronista de Alberto Fernández (Frente de Todos), é sobre segurança pública e violência urbana. “Eles (o kirchnerismo) soltam os delinquentes e prendem os policiais. Os direitos humanos são para os delinquentes”, declarou em recente entrevista.

Milei será candidato e já é considerado a terceira força nas eleições deste ano. Mas, segundo Pablo Stefanoni, (@PabloAStefanoni), chefe de redação da revista “Nueva Sociedad”, com quem conversei via whatsApp, “se bem fala-se muito de Milei, quem expressa e tem chances, hoje, inclusive de ser presidente, é Bullrich”, afirmou. O PRO, presidido por Bullrich, forma parte da coalizão “Juntos pela Mudanza”, fundada em 2019, para reeleição de Macri..

“Bullrich e Milei expressam um setor do eleitorado argentino que querem uma direita mais ideológica na Argentina, com algumas questões que o macrismo, no seu primeiro governo, não expressou”, disse Stefanoni, investigador associado da “Fundación Carolina” (Espanha) e autor de “La rebeldía se volvió de derecha” (Siglo XXI, 2021). Javier Milei foi eleito deputado nacional, em 2021, e teve 17% do total de votos em Buenos Aires.

Mas para chegar a ser candidata em outubro, primeiro, Bullrich precisa vencer as internas partidárias, em disputa com o atual prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, representante da centro-direita, “uma ala mais moderada e menos ideológica do partido”, contou Stefanoni. Mauricio Macri anunciou oficialmente em um vídeo publicado na sua conta do Twitter, na última semana, que não será candidato a presidente nas eleições deste ano.

De acordo com Stefanoni, Macri teria renunciado à candidatura presidencial, possivelmente, para não competir com figuras do próprio partido. Com isso, o ex-presidente deixa o campo livre para que as duas forças do PRO, uma ala mais moderada, de centro-direita, e a outra de direita “dura”, possam competir nas internas partidárias.

“A saída de Macri deixa, de algum modo, aberta a competição entre duas alas ideológicas políticas da coalizão “Juntos pela mudança”, uma ala mais centrista, mais pós-ideológica, e que tem mais a ver com o PRO, com um discurso muito pós ideológico, que diluía muito sua ideologia em um centrismo, mais ou menos, genérico. Patricia Bullrich tem uma posição mais dura. Larreta tem muitos recursos, porque ainda é prefeito de Buenos Aires, e a ex-ministra tem menos estrutura, mas consegue entusiasmar mais do que Larreta”, disse.

Se nas últimas eleições presidenciais, em 2019, o segundo turno foi entre o atual presidente Alberto Fernández e o ex-mandatário Mauricio Macri, que buscava a reeleição, este ano, o cenário pode se repetir com a disputa entre as mesmas forças políticas, porém, com um importante giro mais à direita, com a possível presença de Patricia Bullrich.

“Seu ponto principal é a questão da segurança pública, ela foi ministra de Segurança, além de defender uma posição mais repressiva em relação aos protestos sociais. Nesse sentido, acho que seu triunfo significaria um giro à direita muito significativo na Argentina”, afirmou Stefanoni. A diferença entre Alberto e Macri, nas últimas eleições, foi de quase 8%, respectivamente, 48,24% e 40,28%.

As armas de Bullrich

Há cerca de um mês, Bullrich concedeu entrevista ao canal LN+, do jornal La Nación, um dos principais meios impressos do país, de linha editorial conservadora de direita, e esteve junto a jornalistas que compunham a mesa e, praticamente, faziam campanha para a pré-candidata. “Eles (o kirchnerismo) soltam os delinquentes e prendem os policiais. As leis são para os delinquentes, o código penal atual, que tentamos mudar e não nos permitiram, são para os delinquentes. O código (penal) para menores, que não quiseram votar, é para os delinquentes”, afirmou.

Ainda em entrevista ao LN+, em uma espécie de palanque eleitoral, Bullrich defendeu o uso da arma modelo “Taser” para lugares pequenos, como estações de metrô, trens e aeroportos. Segundo a ex-ministra, a “Taser” não é uma arma letal, e, segundo a presidente do PRO, há caixas de “Taser”  que não estão sendo usadas pelo atual governo de Buenos Aires, de Rodríguez Larreta. O prefeito da Capital Federal disse que eles estão de acordo em usar esse tipo de arma, que já foram compradas, mas o governo federal mantém travada a importação. Esse é um dos debates que a direita argentina tem protagonizado durante este ano eleitoral.

Maíra Vasconcelos, jornalista e poeta, é de Belo Horizonte e mora em Buenos Aires. Escreve sobre política argentina no Jornal GGN, desde 2013, e cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina.

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

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