2017: há uma recuperação da economia brasileira?

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Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Do Brasil Debate

2017: há uma recuperação da economia brasileira?

por Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica/Unicamp

Nota nº2 do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica/Unicamp discute se há realmente uma retomada da economia, as mudanças na metodologia do IBGE e o que mudará a partir das reformas em curso e com o novo regime fiscal
 
A perspectiva para a retomada da economia brasileira em 2017 e o peso da austeridade são discutidos na segunda Nota de Conjuntura do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon), do Instituto de Economia da Unicamp. No primeiro trimestre de 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 1% em relação ao trimestre anterior – resultado positivo pela primeira vez desde o último trimestre de 2014. Mas, segundo Pedro Paulo Zahluth Bastos, Arthur Welle e Ana Luiza Matos de Oliveira, autores da nota, não há consenso entre os analistas de que a economia entrou em um processo sustentado de recuperação.
 
Na sua primeira parte, a nota defende que os dados do IBGE não mostram ainda uma recuperação cíclica no primeiro trimestre nem um impacto positivo da austeridade, mas uma supersafra agrícola e notável crescimento das exportações, tudo apesar da política econômica. Os autores enfatizam que a queda do investimento repetiu o ritmo do trimestre anterior, e o consumo das famílias continuou em declínio em relação ao trimestre anterior, embora tenha ocorrido uma desaceleração do ritmo da queda.

 
Na segunda parte, os autores discutem possíveis problemas metodológicos dos dados do IBGE, em especial devido à mudança metodológica ocorrida na série de serviços com descontinuidade de série anterior: a base de cálculo da antiga série de serviços é diferente e inferior à base da nova metodologia de pesquisa, o que torna problemática a comparação entre os dados.
 
Na terceira parte, discute-se o prognóstico para o segundo trimestre. Os dados para o segundo trimestre confirmam a retomada, não havendo problemas de estocagem excessiva de bens como em outros momentos da depressão: crescimento de 1% do setor de serviços em abril em relação a março (após a queda de -2,6% em março); alta de 0,28% do IBC-Br de abril ante março; crescimento de 0,42% do Monitor do PIB (FGV) entre março e abril; expansão de 2,2% do consumo das famílias, de 2,1% do consumo do governo e de 0,39% da FBCF. Ainda, a liberação dos recursos do FGTS pode ter tido um efeito favorável sobre o varejo.
 
Na quarta parte, os autores discutem os fatores que podem levar a economia a se recuperar e o que a pode atrasar. Segundo a nota, a oferta agrícola e as exportações geram expansão da renda. Porém, se o investimento é determinado pela confiança empresarial na política econômica, o efeito do governo Temer sobre a confiança é nulo ou até negativo, pois o investimento voltou a cair acentuadamente no primeiro trimestre por causa da grande capacidade ociosa das empresas, antes do agravamento da crise política. A recuperação do consumo das famílias demora por causa do alto desemprego, da pequena recuperação do rendimento médio real, do medo da reforma trabalhista e do grande comprometimento da renda familiar com serviços financeiros apesar do esforço de desendividamento, em razão do crescimento dos spreads bancários.
 

Na quinta parte, a nota mostra que a demanda interna foi beneficiada pelo abandono da austeridade fiscal em 2016, mas é prejudicada por seu retorno precoce e potencialmente contracionista em 2017. Assim como a austeridade foi decisiva para transformar a desaceleração cíclica vivida em 2014 na crise experimentada em 2015, como analisado pela Nota de Conjuntura 1 do Cecon, ela agora atrasa a recuperação da economia.

Finalmente, apontam que, caso ocorra a retomada do crescimento em cenário de reformas, a economia que sairá da crise será menos dinâmica do que a que entrou nela, por causa do novo regime fiscal e do aprofundamento da desigualdade.

Acesse a nota completa aqui: Nota CECON 2

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Redação

3 Comentários

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  1. Comentário.

    Não, não há e não haverá.

    Após a aprovação da terceirização, haverá um achatamento mais brutal da massa salarial. Aumentará a concentração de renda.

    Os golpistas não perderam tempo.

  2. Talvez além dos efeitos
    Talvez além dos efeitos previstos pelos autores da insegurança provocada pelo fim da CLT, os autores subestimam algo que citam de passagem como um primeiro motivo para a dificuldade na saída da recessão que transcreverei a segui: “O prazo para a retomada era provavelmente mais longo no século XIX e na década de 1930 do que hoje, contudo, porque Keynes vivia em uma época em que 1) o prazo de obsolescência de equipamentos era talvez maior…..” Não é dos dias atuais que o investimento em equipamentos novos tem diminuído, e além de tudo os empréstimos do BNDES estão sendo bloqueados e se anuncia o fim da TJLP, que seria realmente a punhalada final sobre os investimentos em equipamentos. Além disto, os autores chamam a atenção sobre um fator que todos esquecem, a divisão dos mercados feito pelas matrizes das indústrias internacionalizadas que com a desnacionalização diminuirá a capacidade de transferência de produtos que não são vendidos internamente e passam a ser exportados. Ou seja, são produtos que começam a apresentar grau de obsolescência em relação a produção externa e são barrados pela política global dos conglomerados internacionais.

  3. Vai piorar

    No que diz o artigo, há que se concordar com praticamente tudo, com uma dúvida. A variação dos estoques é uma medida, digamos, meio esotérica ao ser uma “conta de chegada” quando usada para igualar o cálculo do valor do PIB dado pela demanda, com aquele obtido pela ótica da oferta. Porr conseguinte, torna dificil determinar, pontualmente, se essa variação se deu por alterações na demanda ou na produção. Pode, por exemplo, resultar do aumento da produção ou por vendas represadas. No caso, quando se afirma que estoques menores representam um fator positivo, isso precisa ser tomado com reserva.

    No dia 11 passado, um dia antes da publicação deste artigo no GGN, publiquei um comentário no Fora de Pauta, registrando com maior ênfase a rumo da desgraça que nos aguarda. Posso ser mais afoito, afinal, sou amador em em Economia. Como o comentário sumiu não dá para linkar, então baixo vai seu resumo.

    O brasileiro está alijado do poder de exercer influência na política e na economia.

    O centro do poder se divorciou da Nação e age para suceder a objetivos próprios.

    A situação econômica apesar de pontuais reações aqui ou ali, anda de lado depois de queda abrupta, forte e generalizada.

    A conjugação de incertezas mantém a compreensão geral do quadro nacional em suspenso enquanto o projeto promovido pelo governo avança sem barreiras.

    O lugar comum dita que o País está sendo governado pelo mercado. Há perda de direitos, redução das oportunidades e transação da liberdade por uma pseudo segurança, formando uma estrutura de dominação.

     Na ação política do governo e seus aliados, é notado que os aspectos morais e éticos não são valorados pela população. Logo limites somente poderão advir da realização de notório e incontentável fracasso da atual política econômica.

    Há sinais de que a recessão se reduz. Houve pequena recuperação no nível de emprego e de atividade em alguns setores. Contudo, indicadores fundamentais como a formação bruta de capital fixo, o consumo das famílias e os gastos governamentais não mostram recuperação. Parece prematuro falar em reversão do sentido da crise ou em recuperação da economia.

    A execução dos orçamentos públicos, na União e nos estados, está se esgarçando. No caso da União, em seis meses, a dotação orçamentária com despesas e investimentos foi comprometida em 74% e do lado das receitas, até julho, considerando as correntes e de capital, incluindo as intraorçamentárias, a execução registrou 39% do previsto para 2017.

    Logo, é aceitável se inferir sobre a possibilidade de estrangulamento na execução orçamentária no segundo semestre.

    Isso trará mais contingenciamento, provável aumento de impostos e, em última instância, um pedido de waiver orçamentário a ser encaminhado ao Congresso Nacional.

    O resultado será o comprometimento das atividades do Estado, queda da demanda agregada e do PIB, conjugado com o aumento da dívida pública.

     

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