Bombas na pauta, por Ricardo Melo

Da Folha

Bombas na pauta

Ricardo Melo

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, promete barulho na volta do recesso. Seria a pauta-bomba. O objetivo de Cunha, nem ele esconde, é reforçar o emparedamento do Planalto. O lema: se hay Dilma, soy contra. Para azar do deputado, neste meio tempo ele passou definitivamente de pedra a vidraça. Mas o jogo ainda está para ser jogado.

Bem mais real do que especulações parlamentares foi o atentado contra o Instituto Lula, ocorrido na noite da última quinta-feira (30). Em qualquer país mais ou menos sério, o ataque ao escritório de um ex-presidente da República num ambiente envenenado como o atual seria classificado de ato terrorista. Uma bomba jogada na sede onde trabalha um dos principais líderes políticos brasileiros merece outro nome?

Aliás, tampouco se trata do primeiro atentado a instalações do PT. Foi o terceiro num curto espaço de tempo. Acidentes? Nada disso. Eles representam uma escalada previsível. Nos últimos meses, já tivemos fotógrafos agredidos, cidadãos atacados durante passeatas, leitores de revistas humilhados em aviões e jornalistas perseguidos porque são parecidos com Lula. Isso para não falar das agressões em lugares públicos –hospitais, restaurantes– contra quem não reza a cartilha do impeachment da presidente.

“Ah, mas foi uma bomba caseira e não deixou feridos”, simplificaram as notícias sobre o atentado. Como se o fato de ser “feita em casa” anulasse a agressão cometida. Comediantes de ocasião e locatários das redes sociais aproveitaram o momento para exercitar sua discutível criatividade. Pena que Lula não estava lá, disseram uns. Foi coisa armada pelo próprio PT, acusaram outros.

As reações do mundo político, então, impressionaram pelo silêncio. Nem com uma lupa é possível encontrar manifestações veementes de repúdio. Queira-se ou não, tal complacência equivale a endossar esta forma de ataque. Já vimos este filme outras vezes.

Que a oposição se cale do alto do muro, no Brasil ou na Sardenha, até se compreende. Mas soa injustificável autoridades tergiversarem sobre a gravidade do ocorrido. “Jogar uma bomba caseira na sede do Instituto Lula é uma atitude que não condiz com a cultura de tolerância e de respeito à diversidade do povo brasileiro”, reagiu a presidente Dilma pelo… Twitter! O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, conseguiu ser mais patético: “Tudo é considerado quando temos um fato sob investigação. A polícia agirá para apurar o que ocorreu, pois é uma situação que merece uma investigação e, quando se pegar o autor, será necessário punir”. Não diga.

Inexplicavelmente, o assunto foi entregue à Polícia Civil de São Paulo, conhecida pelos índices raquíticos de solução de casos. Nos bastidores, diz-se que a hipótese mais forte aponta para “baderneiros”. Por que meros baderneiros resolveram atacar o escritório de um ex-presidente da República em vez do Museu do Ipiranga, que fica ao lado, parece um mistério fácil de decifrar –menos para o ministro da Justiça. Cadê a Polícia Federal, considerando que se trata de um caso envolvendo um ex-presidente?

O Brasil vive uma luta política. A saída mais trágica é minimizar fatos relevantes invocando tolerância, diversidade ou obviedades do tipo “tudo será investigado”. Se os próprios agredidos temem se defender e chamar as coisas pelo nome, o que está ruim só pode ficar pior.

Redação

4 Comentários

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  1. Parece até que o psicólogo
    Parece até que o psicólogo Joshua David Stone, no texto abaixo, se referia à nossa imprensa e os seus
    “pacientes” ops!, leitores e telespectadores:

    O pensamento cria a realidade.
    A psicologia humanista é a “adoração” dos sentimentos. Você vai à terapia para “por para fora os sentimentos”. Você pega um porrete e esmaga o travesseiro, que representa o cônjuge ou os pais, expressando sua raiva e chorando à vontade.
    O terapeuta fica tão orgulhoso de seu paciente quando este extravasa as emoções! A chave é a palavra “catarse”. Se você me perdoa a metáfora grosseira, é como um vômito emocional. O impressionante nesta forma de terapia é que você se sente realmente melhor ao deixar a sessão; isso é um fato. O único problema é que, como não existe a compreensão de que os pensamentos é que criam a realidade, a mente reconstroi tudo de novo no dia seguinte. Trata-se de uma teoria psicológica do tipo feminino, que acaba fazendo do paciente uma vítima da mente subconsciente e do corpo emocional.
    Joshua David Stone

  2. A falta de atitude das

    A falta de atitude das autoridades vai acabar levando pessoas inconformadas com esta falta de ação a tomarem em suas próprias mãos a luta. A situação vai degringolar, exatamente como o grande irmão do norte gosta.

  3. A omissão desse governo o faz tão responsável

    pela situação que vivemos quanto os  “baderneiros” da oposição. Não adianta nada ter “honra” quando todos que te cercam não têm, nem falar em tolerância ou democracia enquanto a turba grita pedindo a volta da ditadura e exibindo a boneca da presidente enforcada.

  4. Indefensável o silêncio da

    Indefensável o silêncio da Dilma, quando esta deveria dar uma coletiva em  rede nacional contra este tipo de episódio. Se fosse contra veículo do PIG, imediatamente ela falaria no JN, Mercadante e JEGlamuramaCardozo fariam coro.

    Com atitudes como esta, Dilma está cada vez mais enfraquecida junto à população que votou e lutou por ela.

    Ouvi de trabalhadores que ela traiu o Lula. Sabem quando irão às ruas defendê-la e ao seu governo? JA-MA-IS !

    Mas os militontos do facebook dizem que é estratégia, claro. Estratégia de quem entregou o governo de vez.

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