Percival Maricato
Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
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Decifra-me ou devoro-te, por Percival Maricato

Pesquisas e manifestações de rua mostram que a  direita saiu do armário e empata com a esquerda. O que esperar dos próximos anos? A comunicação é o decifra-me ou devoro para quem tem como inimigo a mídia tradicional

Decifra-me ou devoro-te

por Percival Maricato

As manifestações e principalmente as pesquisas de opinião mostram que a direita saiu do armário, já tem tanto apoio como a esquerda, age com vigor e competência.

As manifestações de rua da oposição ao governo juntou pessoas tipicamente conservadoras (na Paulista 77% eram de mais de 35 anos, remuneração bem acima da média), que demonstraram ter massa no país, especialmente em São Paulo. Foram bem sucedidas, ainda que a direita tenha mobilizado tudo que dispunha: mídia, entidades empresariais, bispos, adiantar  horário de jogos etc.

Por sua vez, importante notar o último Datafolha: os tucanos atingem o ápice com Aécio, 24%, Lula mantém 20% (que resistência incrível), Marina 19%, Bolsonaro e Ciro empatam em 5%. Somados os votos de Aécio e Bolsonaro chegam a 29% e os de Lula e Ciro, à esquerda, 25%. E os eleitores de Marina? Há de evangélicos à ambientalistas, difícil dizer a tendência, melhor deixá-lo como incógnita, no centro.  A repulsa dos manifestantes dos paulistas na Paulista, massa impressionante, nesta manifestação de 13 de março, os mais radicalizados no pais, aos tucanos Alckmin e Aécio, não muda os resultados, que tem amostragem no país inteiro.

Não se minimize o ressurgimento da direita, que pode ser resultado da intensa campanha midiática,  erros do governo Dilma,  crise econômica, agressividade da oposição e insurgência dos fisiológicos.  Também do fim da ressaca decorrente da ditadura militar. Por todos os anos pós ditadura ser de direita era identificar-se com o que foi feito no período e então melhor esconder-se.

A esquerda tem que se reconstruir para disputar o meio de campo, fiel da balança em eleições. No momento, tem dificuldades em saber como se conduzir frente a revelações do  Lava Jato e a guerra aberta e massiva das famílias da mídia. O uso ideológico de instituições do judiciário e do MP é outra realidade lamentável, são instituições que muito devem à esquerda. No entanto, também é verdade que a corrupção na Petrobrás, durante o governo Lula, foi de estarrecer, pouco importa que já existisse em governos anteriores, que os diretores foram indicados por outros partidos, que foi no governo FHC que se acabou com as licitações na área e etc.

Se com toda a popularidade do governo Lula, a esquerda não conseguiu democratizar a mídia, tudo indica que não será nos próximos anos que terá resultados. A esquerda, nem se diga que os governos Lula e Dilma não são de esquerda, deve sair da crise política e econômica enfraquecida.

Quem acompanha a política sabe, porém, que ela é pendular. Ora vai mais para a esquerda, ora mais à direita, tanto no Brasil como em outros países. Quando a bonança voltar, a esquerda não deve esquecer as lições deste período em que, mal ou bem, esteve no governo. Minimizou a força da direita, como aconteceu antes de 1964, quando achava que estava no poder (governo nunca foi senão parcela do poder). Na luta pela opinião pública, ou, que seja, pelo meio de campo, os que votam ora para um lado, ora para outro, a esquerda tem que resolver o problema da comunicação. A mídia brasileira tradicional é conservadora até a raiz, não mudará, não admite qualquer tipo de esquerda, mesmo centro esquerda, suporta o centro se este lhe fizer concessões contínuas, gastos volumosos em publicidade. A comunicação é o nó górdio da esquerda, o decifra-me ou devoro-te.

Percival Maricato

 

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Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

6 Comentários

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  1. Análise bem superficial…

    Análise bem superficial… Tudo é culpa da direita e da mídia (que é da “direita” segundo o autor). É por isso que os governistas estão sendo chutados ao vento.

  2. Pintando as unhas do pé de um

    Pintando as unhas do pé de um zumbi

    Em 92, marchas de estudantes secundaristas, os cara pintada, mais o rompimento de todos os setores da sociedade de seu apoio em torno de Collor, foram o pano de fundo para um processo de impeachment questionável. Retorno a 92,  para questionar o comportamento do juiz Moro e de outros segmentos da sociedade. “ Precisamos ouvir a voz das ruas”. As jornadas de junho de 2013 foram fagocitadas por movimentos sociais que converteram o que era difuso, o que era uma crise de representação, uma insatisfação com a política em geral, em um movimento de direita. E, pela fala do juiz espetáculo,há  um acordo subentendido, que por si só,  é estranho: uma espécie de fraude do empoderamento.  O poder está com a massa?  Não, não está, a agenda do que está acontecendo é definida  partidária e  judicialmente. E a parte da massa, do povo na rua, nesse scritp, é cumprir seu papel de pressionar, gerar comoção, mostrar indignação, revolta. Salutar perguntar: que empoderamento é esse, em que essa massa não é chamada a discutir, questionar, refletir: mas apenas deve gritar palavras de ordem? A voz das ruas, só serve para gritar?   Sim.  À massa, se vende um interessante quadro: a redenção moral do país será obtida pela extração do PT do poder, sua extinção, a prisão, degredo, exílio de seus líderes. Nada novo. EM 92, as promessas eram as mesmas: a extração de Collor do poder garantiria, em sua plenitude, a restauração moral do país. Pergunto: o que foi que deu errado, que o país e sua moral continuam danados?

    O presidente Collorido, que foi vendido como símbolo da moralidade, e não custa aqui lembrar disso, como o caçador de marajás, caiu. O que se provou contra ele? Uma Elba.  Do que ele foi acusado? O nome mais mencionado a sua época era PC Farias. PC, seu tesoureiro de campanha, teria trocado financiamento de campanha por favores diversos, criado uma rede de pilhadores do estado. Denúncias feitas pelo irmão de Collor, divulgadas com alarde na revista Veja.  Há exatos 24 anos atrás, o país enfrentou um problema sério. Intimamente ligado com a estrutura de financiamento da campanha política de um Presidente.  A despeito de justa a sua queda, cabe aqui uma reflexão: porque não de discutiu uma reforma política naquele momento?   Porque a sociedade organizada, Ongs, meios de comunicação,  não foram parte de um debate profundo sobre as causas do problema? Ao invés disso, se vendeu a população uma ilusão: a de que o seu papel era ser a parte barulhenta e revoltada de um movimento que resgataria o país de um caos moral, que fora provocado não por um sistema político deformado e falho, mas pelos vícios de um único indivíduo.  Veja-se que a população não foi convidada a propor, contestar, discutir, analisar: a voz das ruas coube berrar palavras de ordem. Essa é a fraude de empoderamento:  há quem acredite piamente que a queda de Collor foi obtida graças aos cara pintada, sem entender que o poder não estava na  mobilização, mas em quem mobilizou, em para quê mobilizou. Ou, por algum acaso, houve uma mobilização pela moralização dos financiamentos de campanha, por uma reforma política?

    O que se sabe sobre o mensalão expõe aqui outra reflexão importante.  A despeito de paixões partidárias, vamos aos fatos.  Apoio parlamentar foi trocado por fundos para financiamento de campanhas políticas (antes) o que foi feito com dinheiro não contabilizado, e concessão de cargos em diversos níveis.

    Sobre a construção de governos, cabe lembrar.  Desde um município, passando pelo estado e governo federal, todo governo eleito precisa de maioria eleitoral.  Como se obtém maioria?  Sem olhar a questão da corrupção por ela mesma, é preciso enxergar aqui a deformação do nosso sistema político.  Na prefeitura, no governo estadual e federal, temos um sistema em que o controle do estado é cedido em troca por apoio político. O que gera as maiorias que tornam os governos capazes de existir, no Brasil, não apenas no plano federal, mas em todos os níveis, de forma alguma é alinhamento ideológico e programático. E  isso só piorou nos últimos anos, com o crescente número de partidos de caráter puramente fisiológico: partidos que não tem programa, propostas, tem desejo puro e exclusivo de poder, sendo apenas sopas de letras. Alugam-se a troca de cargos,  a quem lhes oferecer mais.   Símbolo máximo disso, o PMDB fez parte, de alguma forma, de todos os governos federais eleitos nos últimos 25 anos.  Seria por alinhamento ideológico, que o PMDB esteve com Collor, FHC, Lula e Dilma? O que rege as alianças de  PMDB, PTB, PL ( PR), PPB, PSD, SOLIDARIEDADE; nos níveis municipal, estadual e federal, é ideologia, programas? O que dizer do PSD, aquele que saiu de um costela do DEM, oposição ferrenha, covertendo-se ao governismo?

    Pensar o mensalão, e outros escândalos, como fruto da busca pela governabilidade em meio a um cenário de partidos de aluguel é revelador. Revelador, porque no plano Federal, o PTB de Roberto Jeferson, o PL de Valdemar da Costa Neto, comprovadamente se aliaram ao PT em troca de dinheiro para financiar suas campanhas. No entanto, duas perguntas simples, quanto a esses e outros partidos:  são de aluguel em plano federal, mas estadual e municipalmente são corretos e éticos? A partir da extinção do PT, esses, e todos os outros partidos se tornarão virtuosos? E uma terceira:  converteram-se a esse tipo de postura, somente com a ascensão do PT ao poder, antes, suas alianças eram pautadas por ideologia e alinhamento programático?  

    O roteiro construído e propalado até esse momento, sobre a crise que nos atinge, é de uma parcialidade assustadora. Sem paixões partidárias, pode-se dizer que o PT navegou, nos seus anos de poder,  em meios a vícios de um sistema partidário apodrecido pela fisiologia, povoado de legendas de aluguel, que em número crescente, buscam quase nada além de poder. Aqui não cabe apenas vitimizar o papel do partido. O partido tinha o dever, pela sua história, e  Lula, com 70% de aprovação, tinha capital político suficiente: para reformar o sistema. Nunca o fizeram . No entanto,  o PT não inventou o sistema político partidário brasileiro: e achar  que sua destruição restaurará a ética no política, é no mínimo, suspeito. Primeiro, pela lógica estranha:  no dia seguinte à queda do PT, Cunha se tornará virtuoso, Renan Calheiros, um samaritano; José Agripino Maia, assumirá seus crimes, Aécio fará o mesmo. Partidos como o PMDB, se verão tocados pelo vento cívico: e passarão a se mover em torno de propostas e projetos, não de poder. As relações entre políticos, empresas, e financiamento eleitoral, se darão de forma limpa, transparente: unicamente porque todos aprenderam com o fim do PT, que não se deve agir mal. Sim, parece tudo estranho para vocês também? Para mim parece de novo 92: se atribui todos os vícios de um sistema falido, a um conjunto pequeno de integrantes desse sistema. Se convence uma população indignada, que a solução para a restauração moral de todos nós, é banir esse grupo. E torna-se o banimento legítimo, surfando a onda de indignação produzida. Tudo isso para quê? Para que não se altere o sistema como um todo. Não, não é o impeachment que se deveria discutir:  mas a reforma das instituições, do sistema político partidário, das relações entre os poderes legislativo e executivo. Deveria estar em pauta, e não está, a incapacidade de os partidos representarem a população e interesses organizados, o fisiologismo. Deveria estar em pauta o fim do financiamento privado de campanha, a proibição de coligações que não sejam nacionais. Deveria estar em pauta uma reforma política ampla, profunda, séria. Derrubar a presidente, fechar o PT, e achar que é isso que restaurará a moral e a ética a política brasileira é feito passar esmalte no dedo mindinho de um pé com gangrena, e ainda esperar que isso cure o pé.  Aqui, aliás, cabe mostrar quão indigente intelectualmente é o debate ( ausência de debate) político no momento. 

  3. Análise bem correta…

    Análise bem correta… Tudo é culpa da direita e da mídia (que é da “direita”, como é óbvio constatar). É a mídia que infla os protestos da direita. Coloque mínimo que seja de isenção na mídia e as manifestações direitistas minguam feito um pixuleco rasgado.

  4. ótima análise, melhor ainda a

    ótima análise, melhor ainda a conclusão…

    o nó é conseguir quebrar ou diminuir muito a jegemonmia da

    grande mídia sempre golpista –

     contra a esqierda, claro…..

  5. Decifra-me ou devoro-te, por Percival Maricato

    Considerando que o Brasil tem 141.824.607  milhões de eleitores, 3,6 milhões representam 2,5 % e se forem 6,8 milhões representariam 4,7% do eleitorado.

    Sabem o que SIGNIFICA isso? NADA de NADA, ou seja, os COXINHAS vão PERDE outra vez em 2018.

     

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