Lula está com 31 milhões de votos de dianteira sobre o segundo colocado no primeiro turno

Fernando Nogueira da Costa faz releitura ponderada das últimas pesquisas do Datafolha

Foto: Ricardo Stuckert

Ponderação e Moderação: Fatores da Eleição do Lula

Por Fernando Nogueira da Costa

Ponderação é a característica da pessoa ao se comportar com reflexão. Ocorre quando há meditação estratégica por parte de quem possui bom senso e age com prudência.

É particularidade daquilo, de fato, importante ou relevante. Verifica a emergência ou a configuração a partir de disputa entre forças oponentes em um sistema complexo.

Em Matemática, é o peso utilizado para aumentar (multiplicar) determinadas grandezas, fazendo as mesmas revelarem maior ou menor relevância. Nas divulgações de pesquisas eleitorais fazem falta as ponderações.

Farei, neste artigo, uma releitura ponderada das últimas pesquisas do Datafolha. É necessário transformar imensas tabelas, divulgadas em pdf, para calcular em Excel.

Desde logo, a distribuição dos eleitores por faixas de renda familiar mensal é: até 2 SM: 57%; 2-5 SM: 31%. Os “ricos” acima de 5 SM só têm 10% dos votos e 2% se recusam a declarar renda. Esta é a beleza da democracia: alternância de poder decidida por votos da maioria. É quando os pobres se apoderam e os ricos têm de lhes prestar atenção.

O eleitorado brasileiro, em julho de 2021, de acordo com o TSE, alcança quase 146 milhões de eleitores. Portanto, são 83,2 milhões de eleitores “pobres” (abaixo da média da renda do trabalho em cerca de R$ 2.300) e 45,3 milhões de eleitores da classe média baixa (renda familiar mensal entre R$ 2.300 e R$ 5.500). A classe média emergente ganha desse valor até R$ 11 mil: são 8,8 milhões. Os mais ricos, acima desse patamar de renda, não atingem sequer 3 milhões de eleitores.

Dados esses pesos, entende-se o fator principal da disputa eleitoral se dar de acordo com essa estratificação social. Se a eleição fosse no dia 08/07/21, com os candidatos apresentados pelo Datafolha, a escolha em primeiro turno seria: até 2 SM, Lula 57 X Golpista 18; de 2 a 5 SM, Lula 36 X Bolso 33; 5 a 10: Lula 21 X Capitão 41; acima de 10 SM: Lula 22 X Genocida 36.

Multiplicando o eleitorado de cada faixa de renda com esses percentuais de votos, Lula teria 66,2 milhões de votos e o Jairembora, 34,5 milhões, ou seja, uma diferença de 31,6 milhões no primeiro turno. Restariam em disputa 45,2 milhões de votos e o obsessivo pela reeleição teria de somar mais 86% deles (39 milhões) para ter a garantia de superar Lula no segundo turno. Enquanto para este candidato bastaria somar mais 7 milhões aos seus 66 milhões para superar ½ do total de 146 milhões de eleitores.

Por isso, entende-se seu desespero por ser defenestrado pelo eleitorado brasileiro. Ameaça “melar”, isto é, golpear a democracia por conta de seu curral eleitoral, tangido a discurso de ódio, ser insuficiente para ganhar eleição limpa com votação eletrônica.

O leitor pode estar indagando: e os demais fatores influentes nas decisões de voto não são levados em conta? Sim, eles interagem. Por exemplo, os níveis de escolaridade se distribuem entre Ensinos Fundamental (33%), Médio (46%) e Superior (21%).

Multiplicando o eleitorado de cada nível de escolaridade com esses percentuais de votos, Lula teria 67,6 milhões de votos e o populista de direita, 36,5 milhões, ou seja, uma diferença de 31 milhões no primeiro turno. Embora ambos recebam um pouco mais votos em relação à votação das faixas de renda, a diferença continua muito próxima.

O PT faz a diferença? Em parte, sim. Têm preferência por ele 22% do eleitorado, ou seja, 32,1 milhões de eleitores. Ele supera a soma do PSDB e do PMDB (cada qual com 2% ou quase 3 milhões), do PDT, PSOL e PSL (cada um com 1% ou menos de 1,5 milhão), e dos demais partidos (7% ou 10,2 milhões): 14% ou 20,2 milhões.

Essa é uma grande vantagem na linha-de-partida. Porém, a maioria do eleitorado brasileiro não toma partido: 8,8 milhões (6%) escolhem por “nomes” (celebridades) ou referências (aconselhamento) e 86,1 milhões (59%) dizem ser apartidários. Em outras palavras, 2/3 do eleitorado tem de ser disputado por outro critério – e não partidário.

Na última pesquisa de opinião pública sobre posicionamento ideológico, realizada pela Datafolha há quatro anos (03/07/2017), os brasileiros se dividiam igualmente entre esquerda e direita. Demonstraram suas opiniões a uma série de temas comportamentais e econômicos de modo a posicioná-los dentro do espectro político, além dos polos de esquerda e direita, também o centro político.

A direita abrangia 40% da população adulta do país, considerando tanto a direita (10%), quando a parcela de centro-direita (30%). Na esquerda, estavam 41%, divididos entre a esquerda posicionada mais ao extremo do espectro político, representada por 10%, quanto a centro-esquerda (31%). Entre eles, sobrava o centro (20%).

Para chegar a essa classificação, o Datafolha consultou os brasileiros sobre uma série de questões, envolvendo valores sociais, políticos, culturais e econômicos. A partir daí, os posicionou em escalas de comportamento e pensamento econômico.

Por exemplo, a direita defende o armamentismo (sem avaliação de risco), a causa da criminalidade ser a maldade individual (e não a desigualdade de oportunidades), a pobreza ser devido à preguiça (e não à falta de empregos), a xenofobia (rejeita imigrantes), a pena de morte (sem temor por erro de julgamento), a proibição de todas as drogas (sem distinção de plantas medicinais), a homofobia (sem liberdade sobre o próprio corpo), o sobrenatural (contra o ateísmo), fechamento dos sindicatos (por fazerem política), a criminalização punitiva de adolescentes (sem dar-lhes chance de reeducação).

A direita também rejeita intervenção governamental na economia (livre-mercado não levaria à concentração), pagamento de impostos (contra saúde, educação e segurança gratuitos), salvamento de grandes corporações (não se importa com empregos perdidos), leis trabalhistas (sem proteção dos trabalhadores), e empresas estatais (tirariam mercado de empresas privadas).  Para essa ideologia, a desigualdade seria natural e insuperável.

Além dessas questões comportamentais e econômicas, para definir o perfil ideológico, os brasileiros também foram consultados sobre sua posição política. O centro foi escolhido por 26%. Na centro-direita se colocaram 9% e 23% na direita, ou seja, quase 1/3. Optaram pela centro-esquerda 9%, e 19%, pela esquerda. Uma parcela de 14% não soube se posicionar nesse espectro.

Para o Lula confirmar sua vitória, segundo uma dedução racional da releitura desses números, ele tem de demonstrar sua moderação e prudência: comportamento de quem evita excessos e possui comedimento. Ninguém ganha eleição apenas com os votos de esquerda: 28% do eleitorado.

E com os votos dos religiosos? Cerca de 53% são católicos, percentual igual para homens e mulheres, com percentuais maiores segundo avanço em faixas de idade e menores por avanços em níveis de escolaridade e renda. Vão em sentido contrário os 13% sem religião. Os evangélicos são 24%, ou seja, somente os votos deles estão longe de garantir a (re)eleição.

Chama a atenção a diferença entre gêneros: 21% dos homens e 26% das mulheres são evangélicos. Abaixo daquele percentual médio (24%) estão os jovens (21%) e os idosos (19%), além dos com ensino superior (22%) e com mais de 10 salários mínimos (18%).

Entre os eleitores com preferência pelo PT, cerca de 19% são evangélicos, percentual menor de 61% de católicos, mas maior de 10% de outras religiões e 13% sem religião. Acima da média de 24%, encontram-se “outro partido” com 29%.

Como visto, esse agrupamento “outro partido” representa 7% contra 22% do PT. Assim, em números absolutos, o PT teria de 6,1 milhões de simpatizantes evangélicos contra menos de 3 milhões de “outro partido”. Mais um mito cai por terra

Na pesquisa realizada em maio de 2021, a Datafolha já tinha apontado: entre evangélicos a disputa entre eles é acirrada: 35% para o nome do PT, 34% para o candidato sem partido. Na de junho, no segmento evangélico, há um empate estreito entre Lula (37%) e o casado com uma evangélica (38%). É um mito os evangélicos serem um rebanho uniforme e conservador.

A divulgação tradicional da pesquisa afirma: “a preferência pelo petista fica acima da média (46%) entre brasileiros com escolaridade fundamental (56%), na parcela dos mais pobres, com renda familiar de até 2 salários (57%), na região Nordeste (64%), entre pretos (57%) e pardos (50%), no segmento dos católicos (51%) e entre desempregados em busca de emprego (64%)”. Na realidade, deveria dizer: ele obtém esses percentuais de segmentos com peso de, respectivamente, 33%, 57%, 26%, 16%, 40%, 53% e 11%.

Seu principal adversário, no momento, o atual presidente perde de muito, mas diminui a desvantagem geral de 21 pontos para o petista, na parcela de homens (43% para Lula e 31% para Bolsonaro, ante 48% a 20% no universo de mulheres), na faixa de 60 anos ou mais (42% a 28%), entre os mais escolarizados (34% a 28%), nas regiões Sul (35% a 30%) e Centro-Oeste/Norte (41% a 35%) e entre brancos (34% a 30%).

Entre os mais ricos, o aliado com o neoliberalismo fica à frente do ex-presidente social-desenvolvimentista: 41% a 21% entre quem tem renda familiar de 5 a 10 salários, e 36% a 22% na faixa de renda familiar acima de 10 salários. Como dito, estes somam só 8%.

No segmento de empresários, defendidos sempre pelo seu “posto Ipiranga”, o presidente passageiro tem 52% das intenções de voto, contra 25% do petista. Porém, eles representam só 2% do eleitorado, ou seja, ele receberia cerca de 1,5 milhão de votos ou apenas 750 mil de vantagem sobre seu rival nesse segmento.

Os grandes empresários têm peso sim na gestão governamental. O manifesto de sua elite em defesa do sistema de votação eletrônica e a Constituição, contra “aventuras autoritárias”, representa uma clara ruptura da “elite tucano-paulistana”, seja empresarial (destacadamente os maiores banqueiros), seja intelectual, com o comportamento golpista do atual mandatário.

Ponderar é agir com ponderação, ou seja, com reflexão, com prudência, com bom senso, com juízo, com relevância. É equacionar uma determinada situação, é fazer uma avaliação, é tentar encontrar uma solução para o atual caos brasileiro.

Significa diversas ações: examinar com minúcia, apreciar moderadamente, medir, pensar, calcular. Implica também em demonstrar algo importante, merecedor de ponderação. Cabe refletir bastante, meditar, pensar, antes de tomar qualquer resolução de apoio ou rejeição. Enfim, é argumentar, considerar fatos e dados em defesa de uma opinião: o miliciano deseja “melar a eleição” por já se considerar derrotado pelas urnas eletrônicas.

Redação

2 Comentários

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  1. O presidente Lula sabe perfeitamente que pesquisas são um retrato do momento. Mesmo essa pesquisas,com a ponderação que pode ser feita,não lhe dão a tranquiidade para a obtenção de uma vitória.
    nosso quadro político indica que vivemos em uma ditadura disfarçada de democracia.Nada diferente do pós golpe de 64. Aliás,as semelhanças são muitas,a começar pela interferência dos milicos que,em 64,era para ser passageira e,com o tempo,passou a ser “necessária” e os AIs estavam lá para garantir essa necessidade.
    O presidente Lula,portanto,está mais empenhado em garantir o reestabelecimento da democracia do que propriamente com sua eleição que ele entende ser uma consequência da democracia.
    É por isso que os números apontados nessa ponderação são preocupantes. Os estrato dos chamados formadores de opinião,principalmente do grande capital,onde o sujeito que ocupa o Palácio do Planalto tem uma diferença de 15 pontos e no seguimento logo abaixo,seus estafetas,onde a diferença é ainda maior,de 19 pontos.
    Essa gente,se não tem voto,tem voz.Diria até que somente eles tem voz.
    Essa gente conseguiu derrubar uma presidenta e não foi em 2016. O golpe começou em 2013 e ganhou forma no dia seguinte a reeleição da presidenta Dilma.
    Essa gente prendeu o presidente Lula e lhe impediu de concorrer a presidência da república. Uma eleição que todos os institutos lhe davam como garantida e ganha possivelmente no primeiro turno.
    Por mais que tentem mostrar diferenças é preciso verificar que,neste grupo,nada mudou. As batalhas que aparentemente existem entre eles são somente a disputa por um espaço dentro daquilo que consideram seu espaço e farão de tudo,mjá fizeram recentemente,para impedir que algum intruso oriundo de outro seguimento possa vir a disputar e,principalmente,a vencer essa batalha.
    Garantir a democracia,de forma plena,é,neste momento,a garantia de termos eleições minimamente equilibradas.
    É por isso que o presidente Lula tem se empenhado tanto na construção de uma frente democrática.Sem ela as bravatas do sujeito que ocupa o Palácio do Planalto continuarão a dominar o cenário politico brasileiro e,inevitavelmente,empurrará grande parte da população a escolha do menos pior a ser indicado por eles.Talvez o mesmo sujeito.

  2. Companheiro, faltou considerar uma coisa de suma importância: quantos, dos 146 milhões, distribuídos por segmento de renda, declararam nulo ou branco?
    Eu pressuponho que a abstenção vá diminuir nas próximas eleições. Vinha crescendo, e foi, em média, 18,6% nas últimas quatro eleições presidenciais, mas acredito que, dadas as atuais condições da política, vá diminuir para algo como 15%, ou até menos. Então teremos cerca de 124 milhões de votantes. Se nulos e brancos ficarem – estou contando com a polarização para um valor tão baixo – em cinco por cento, estaremos falando de cerca de 118 milhões de votos válidos. Estamos falando de 56,9% dos votos válidos no primeiro turno (46% / 81%).

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