A greve geral planetária, fragilidade do capital e ingenuidade da esquerda, por Rogério Maestri

Com a paralisação por coronavírus, ficou claro que sem o trabalho do proletariado, empresas grandes, em no máximo dois ou três meses, deixam de existir

Dois paradigmas, um para a direita e outro para a esquerda, deverão ser revistos por ambos os lados das posições políticas com o Covid-19, a GREVE GERAL.

Para a direita ficou claro que o capitalismo está longe de dispensar a mão de obra proletária para que eles sobrevivam, as pequenas, médias, grandes e planetárias empresas. Ficou claro que sem o trabalho, eles em no máximo dois ou três meses de paralisação, deixam de existir, que suas máquinas pouco sofisticadas ou mesmo as computadorizadas não sobrevivem sem que alguém as ligue e as operem, ou seja, que sonhos de uma sociedade informatizada em que o computador resolve tudo, mostrou que está bem longe.

Na França, onde o bloqueio foi mais forte que no Brasil, nos primeiros dias assisti um programa de uma TV francesa em que as sete pessoas que estavam presentes mostravam uma certa surpresa que para comerem, viverem ou mesmo para atividades mais comuns, como limparem seus traseiros depois de irem ao banheiro necessitavam de uma coisa que se chamava papel higiênico e esse papel não aparecia milagrosamente das prateleiras dos supermercados.

Essa confusão toda foi causada por um vírus que causa menos de 0,1% de óbitos em pessoas na idade de trabalhar, se por acaso o coronavírus provocasse uma taxa de mortalidade de 3% em pessoas adultas, mas não idosas, simplesmente atividades consideradas essenciais, como geração de energia elétrica, conservação de sistemas de distribuição de água ou até atingir os transportadores de cargas, a sociedade iria parar mesmo e simplesmente dois ou três meses depois da quarentena, toda a estrutura social estaria rompida, causando um caos tipo de filmes de fim do mundo de Hollywood. Ou seja, o Covid-19 foi muito bonzinho diferentemente que seu primo o vírus que provoca a Mers, pois o primo do Covid-19 matava entre 30% a 40% dos infectados, mas para a nossa felicidade, era muito mais preguiçoso e lento que o Covid-19.

As balelas do empreendedorismo, da geração de empregos pelos capitalistas e mais dezenas de outras historinhas do Papai Noel e do Coelhinho da Páscoa, mostraram algo muito simples, se um capitalista exótico que não entra em contato com seus subordinados (já existiu um assim, Howard Hughes) e morresse fechado num quarto bem refrigerado e com uma boa vedação nas portas, ele poderia mumificar e suas empresas continuariam trabalhando, por outro lado se seus trabalhadores ficassem de braços cruzados por um ou dois meses provavelmente a empresa entraria em falência.

Moral nº1 da história: Capitalistas não param o mundo, já trabalhadores sim.

Agora do outro lado do espectro do poder, daqueles que vendem a sua força de trabalho para os capitalistas, a esquerda tem que observar com clareza as lições dessa “greve” geral planetária, muitos imaginam que a via de derrubada do capitalismo em um país ou região, pode ser obtida por uma greve geral que paralisasse a produção fabril por algum tempo que automaticamente o capitalismo cairia como uma maçã podre. Essa greve geral, visto a complexidade da economia e das cadeias de suprimento, não teria uma sustentação muito longa, pois a medida que ela se aprofundasse e pegasse setores vitais da economia real, como setor energético e o próprio transporte agiria por um lado contra os capitalistas, mas cairia como uma pedra na cabeça dos próprios trabalhadores. Logo o caminho revolucionário para a modificação da estrutura social e política passa necessariamente por atividades muito mais ativas do que o simples cruzamento dos braços de todos os trabalhadores.

Moral nº2 da história: Sem uma participação ativa na mudança do sistema, somente a parada dos trabalhadores não leva a nada.

Se agregarmos as duas morais numa só, veremos que para a mudança de um sistema político não será um desastre se os capitalistas perderem a sua função e que qualquer ação baseada na simples negativa de trabalhar necessariamente não imporia uma derrota definitiva ao capital.

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