As mulheres do mundo e o 08 de março, por Rafael Tauil

Os seres humanos são brutos, cruéis e homens mais ainda e vêm se valendo de um discurso pseudo-ético no jogo da conquista.

Foto: Redes

As mulheres do mundo e o 08 de março

por Rafael Tauil

Sei que a vida das mulheres não é nada fácil na sociedade machista em que vivemos. Abusos físicos, morais, intelectuais, entre muitos outros, fazem parte da rotina diária da maioria delas. Tenho mãe e tenho irmã (ambas feministas), além disto, já tive algumas namoradas. Acompanhei muito sofrimento por conta dos abusos sofridos por elas. Acompanho também as limitações impostas a vocês mulheres, o simples fato de não se sentirem seguras ao andar na rua pela noite, a impossibilidade de se vestirem como bem querem, os salários menores no mercado de trabalho, o assédio sexual no trabalho e nos espaços educacionais, o medo constante do estupro, entre outras aberrações.

Enfim, são aspectos que posso tentar entender, mas impossível dizer que posso sentir. Entendo completamente também a reticência de todas vocês com relação a “machos esclarecidos” que se declaram feministas e defensores da causa das mulheres para ampliar suas possibilidades de sucesso na conquista do sexo oposto, mas que não fazem nada contra seus privilégios enquanto homens. Os seres humanos são brutos, cruéis e homens mais ainda e vêm se valendo de um discurso pseudo-ético no jogo da conquista. É uma espécie de disfarce para tornar a imagem do macho alpha mais palatável. Mas vocês amigas, têm estado atentas depois de tantas decepções com tantos homens que as machucaram através das violências do machismo.

Gostaria de deixar aqui o meu apoio e um fio de esperança a vocês. Há homens que estão realmente tentando fazer exames de consciência e estão tentando mudar seus padrões de pensamento e comportamento. Não adianta mudar a lógica comportamental, apenas passando a tratar as mulheres com mais respeito se não se combatem as estruturas ideológicas e subjetivas do machismo.

Portanto, a luta contra este mal, que já dura muito mais do que seria aceitável, deve se dar no campo da ação prática e na esfera do pensamento e das ideias. Acreditem, alguns de nós estamos com vocês em espírito e coração, estamos lado a lado nas trincheiras da vida, mesmo sem sabermos o que é passar por aquilo que vocês passam diariamente.

Todo homem nasceu do ventre de uma mãe, uma mãe que o carregou por 9 meses, que ficou enjoada e passou mal diversas vezes durante a gravidez, que teve problemas de estômago, de circulação, possibilidades de eclampsia, que não conseguiu dormir por conta do tamanho da barriga e posteriormente pelo aleitamento noturno de 3 em 3 horas ou de livre demanda. Todo homem recebeu seu primeiro alimento do peito dolorido de sua mãe, seus primeiros passos foram dados com o apoio dela, foi ela que o levou à escola e o ajudou na lição de casa e que em muitos casos deixou de lado sua vida profissional para se dedicar a sua criação. Não quero com isso dizer que a mulher só é importante porque foi nossa mãe, ela é importante porque ela é mulher, ser humano e cidadã. Mas acho a maternidade um bom pressuposto para pensarmos a crueldade dos homens que perpetuam a lógica machista.

Como os homens podem ser cruéis com as mulheres, como podem rebaixá-las através de discursos “graciosos” toscos e ultrapassados, através de piadinhas ofensivas que ainda são normalizadas atualmente, da participação na manutenção de estruturas que as impedem de acessar os mesmos espaços sociais que os homens? Sendo assim, o apelo que fica para este dia 08 de março é para que – além de comprar flores, presentes e chocolates para sua filha, esposa, amiga – reflitam acerca das estruturas machistas, para que se engajem na luta contra este complexo que obsta às mulheres uma posição digna na sociedade, para que busquem compreender melhor o feminismo, para que não façam piadas machistas, para que compartilhem as atividades domésticas e de cuidados com os filhos em pé de igualdade com suas companheiras, enfim, para que não tratem as mulheres como inferiores, pois elas estão longe de ocupar esta posição.

Redação

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