Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Da caixinha do Adhemar à privatização da Eletrobras, por André Araújo

Da caixinha do Adhemar à privatização da Eletrobras

por André Araújo

Refrescar memórias de um passado distante é uma boa lição de política e de história. As novas gerações têm informação  limitada e desconectada em relação a uma rica fase do Brasil, rica de personagens expressivos, carismáticos, interessantes, perto dos quais os de hoje parecem figurantes menores pela sua pequenez e falta de estatura e até de charme e graça.

Por um desses curiosos cruzamentos de acasos, o anúncio da privatização da Eletrobras beneficiou mais do que qualquer outro a fortuna de um dos herdeiros dessa antiga era do Brasil do grande xadrez politico dos anos 45 a 60. Aliás, a fortuna beneficiada tem raízes nesse passado também de corrupção e populismo que nasceu especialmente após 1945.

Adhemar de Barros foi o primeiro politico populista do ciclo de Vargas. No sentido performático que a expressão condensa, Vargas tinha uma politica muito mais complexa do que populismo e sua persona politica era sóbria, fria e formal, um estadismo no sentido amplo.

Adhemar de Barros era uma figura de outro naipe, folclórico, andava em mangas de camisa, algo chocante para os políticos da época do chapéu, abraçava populares nas praças e ruas, confraternizava com bebuns em botecos, sempre bem humorado, simpaticíssimo, prestativo, era prato cheio de humoristas que o imitavam, como Alvarenga e Ranchinho.

Apesar desse aspecto meio anedótico, Adhemar era de família tradicional de fazendeiros, de educação apurada, médico com especialização em urologia na Alemanha, onde morou por três anos, falava fluentemente alemão e francês, um grande politico de seu tempo, foi decisivo para dar a Presidência a Getulio  no retorno de 1950 ao retirar sua candidatura presidencial e apoiar Vargas contra o Brigadeiro Eduardo Gomes, ainda fez o seu sucessor, Lucas Garcez, que depois rompeu espetacurlamente com seu padrinho politico.

O primeiro cargo de Adhemar foi o de Interventor no Estado de São Paulo, cargo equivalente ao de Governador no Estado Novo, nomeado por Getulio em 1937, sob apadrinhamento de Alzirinha Vargas. Ficou até 1941 e voltou em 1947 como Governador eleito.

Como contraponto a Adhemar nasceu o politico Janio Quadros, o paladino da moral que combatia o ademarismo, sem Adhemar não teria existido Janio, sem Janio não haveria o regime militar de 1964, a História é um sucessão de causas e efeitos. Adhemar depois de Governador foi Prefeito e voltou a ser Governador sendo um dos três lideres civis da Revolução de 1964 que depois ingratamente o cassou, como bom sibarita morreu em Paris.

Legando vasta fortuna aos herdeiros, sua rede de estações de  rádio virou o Grupo Bandeirantes de Televisão e Rádio, hoje de seus netos, também era dono dos chocolates Lacta e do bairro do Morumbi que loteou, além da Aerovias Brasil, hoje parte da TAM.

Construiu  obras emblemáticas no Estado: as rodovias Anchieta e Anhanguera, fundamentais para o Estado e o Hospital das Clínicas, hoje um complexo talvez o maior do mundo, com 23.000 empregados, 6.000 médicos, 19 edificios, uma verdadeira cidade médica onde se encontram Institutos famosos como o INCOR, do coração, o do Câncer, o da Mulher, etc.

Mas Adhemar teve também seu lado menos luminoso. A corrupção foi institucionalizada em seu Governo, com a célebre “caixinha”, nome do sistema onde empreiteiros, bicheiros, donos de prostibulos, fornecedores do Estado deixavam suas comissões, o que fez de Adhemar um dos homens mais ricos do Brasil a seu tempo. Um de seus correligionários e amigos foi José João Abdalla, deputado estadual  e federal, médico do interior de São Paulo e que se tornou multimilionário na politica ademarista. Sua maior façanha foi a compra da empresa canadense Brazilian Portland Cement Co.Ltd., uma das primeiras fábricas brasileiras de cimento, na cidade de Perus, conhecida como Cimento Perus. A Perus passou a ser a base da fortuna de Abdalla mas a estória contada no livro “Uma Homem Ameaça o Brasil” de F. Rodrigues Alves Filho, uma espécie de biografia de Adhemar, é que a compra da Perus foi paga com o dinheiro da “caixinha” e era para ele, Adhemar. Abdalla seria apenas o “laranja” da compra. Mas Abdalla comprou em seu nome e não entregou as ações para Adhemar, segundo o livro. Adhemar foi vitima do mesmo golpe inúmeras vezes, inclusive com o jornal O Dia, do Rio de Janeiro, comprado em nome de Chagas Freitas e que este não devolveu a Adhemar.

Abdalla foi um péssimo gestor da Cimento Perus, não pagava salários, impostos e INSS, com isso a fábrica estava continuamente em greve porque os trabalhadores queriam receber seus salários, o que carimbou para sempre Abdalla com o epiteto de “ mau patrão “.

Os operários faziam passeatas pelas ruas de São Paulo com faixas e sacolas para recolher donativos. A imagem de J.J.Abdalla ficou marcada para sempre  por essas passeatas e, entrevistado, Abdalla dizia que “não pagava imposto por uma questão de princípios”.

J.J.Abdalla construiu para si uma péssima imagem de empresário e chegou a ser preso várias vezes, o que naquele tempo era coisa rara para empresários ricos e políticos.

J.J.Abdalla era um homem refinado, bom vivant, de ótima aparência, não se confundia com os patrícios mascates daquela época, era mais especulador e politico do que industrial .

Foi casado com a dra.Rosa Abdalla, filha do Comendador Assad Abdalla, sírio de Homs, pioneiro da imigração árabe no Brasil. Rosa Abdalla morreu o ano passado com 101 anos completos. Sobre o pioneiro  Assad Abdalla escrevi um artigo há alguns anos aqui no blog.

A Perus acabou fechando e Abdalla saiu mais rico ainda,  investiu em indústrias têxteis, pedreiras, metalúrgicas, frigoríficos,  não tinha preferência por ramos, qualquer um servia, sempre com essa gestão de não pagar impostos, INSS , etc. Nada sobrou do império industrial Abdalla enquanto empresas com continuidade, mas J.J. sabia sair das quebras com bom capital.

Com o dinheiro que sobrava comprou muitas áreas de terras, fazendas e terrenos que conseguiu manter e  deixar para os herdeiros. J.J. faleceu aos 85 anos em 1988.

O  grande impulso da fortuna atual dos Abdallas, já agora com  os descendentes de Jose João Abdalla, felecido em 1988 e de seu irmão Antonio João Abdalla,  beneficiou respectivamente  Juca e Tony Abdalla,  herdeiros de  uma área de cerca de 700.000 metros quadrados ao lado da Marginal Pinheiros que antes da existência das avenidas não valia muita coisa, o terreno era usado como lixão.  A área foi desapropriada pelo governo do Estado para construção de um parque, o que todos aplaudiram  e após reviravoltas judiciais foi acertado um acordo com o Governador Quercia por um valol que não tinha relação com o valor real,  o Estado pagando  cerca de  R$ 2,8  bilhões, nos quais  se adicionaram R$300 milhões de juros moratórios, apesar  de não haver qualquer atraso nos pagamentos. Como era para fazer um parque, destino nobre, o aspecto do valor exagerado passou batido por todos os poderes do Estado, um terreno baldio cheio de lixo pelo equivalente a 1 bilhão e 300 milhões de dólares, por esse critério, o parque do Ibirapuera, muito maior e muito mais bem localizado deveria valer 10 bilhões de dólares, mais que o Central Park de Nova York.

A área estava em nome de uma empresa do grupo, a S.A.Central de Imoveis e Construções.

Juca  ficou com 70% e Tony com 30%. Juca fundou o Banco Classico e passou a gerir  sua fortuna recebida do Estado, R$1,4 bilhão , na época 700 milhões de dólares. O Banco Classico só tem um depositante, o próprio dono e passou a investir em títulos do Tesouro e  ações de alta liquidez, hoje detém 12,5% da Eletrobras e partipações altas na Petrobras, Bale e CEMIG, uma carteira avaliada em R$ 6 bilhões. Juca Abdalla tentou ser suplente de Senador por Roraima mas sua candidata (Teresa Jucá) não foi eleita, apesar do farto apoio de Jucá.

Tony Abdalla, o primo menos rico, comprou um jato Gulfstream, o mais caro do mundo na sua categoria, para 19 passageiros, mais outro jatinho menor, tem 15 automóveis de luxo, a única agência de carros Bentley no Brasi e perfil de playboy nas colunas sociais.

Com todo esse roteiro de eventos espetaculares que parecem sair de um romance, chega-se à privatização da Eletrobras com personagens saídos de uma coleção de jornais antigos, uma lembrança de que a historia politica do Brasil tem práticas seculares.

A caixinha de Adhemar rendeu frutos ao longo da História, parte dela está na Eletrobrás, se beneficiando de uma privatização que a mídia neoliberal elogia como coisa moderna, moderna como a “caixinha” do Adhemar dos anos 40 e como os aventureiros que ela enriqueceu a pairar como almas penadas sobre nossa realidade politica e econômica.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

32 Comentários

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  1. Ato falho ou AA apoiou e apoia o golpe militar-civil de 1964?

    O artigo é interesante, instrutivo e esclarecedor. Mas o autor termina o 7º parágrafo assim:

    “Adhemar depois de Governador foi Prefeito e voltou a ser Governador, sendo um dos líderes da Revolução de 1964, que depois o igratamente cassou, como bom sibarita morreu em Paris”

    Quer dizer que André Araújo considera “revolução” aquele golpe de Esatdo que mergulhou o Brasil no atraso, na tirania, na perseguição política, na tortura e no assassinato de centenas (talvez milhares ) de pessoas por motivos políticos?

      1. Desde quando wikipedia é fonte histórica confiável?

        Qualquer um pode postar qualquer bobagem na wikipedia. Sureal é que alguém a use como fonte histórica, principalmente para justificar que um golpe de Esatdo foi uma “revolução”.

        Deve-se estudar mais e consultar melhores fontes, antes de contestar.

          1. Muito simples

            Livros, documentos históricos, registros fotográficos, cinematográficos, gravações sonoras e televisivas – que você pode encontrar em bibliotecas, arquivos públicos, escolas, museus, etc. – não são editáveis e manipuláveis por por qualquer pessoa. Na wikipedia você, eu, qualquer pessoa, pode inserir informações imprecisas, com textos manipulados e descontextualizados.

            O missivista há de se lembrar que há três anos uma “jornalista” e colunista de “economia”, miltante da direita, fez escândalo e chegou a chantagear a Presidência da República porque um funcionário público alterou o perfl dela na wikopedia.

            Converse com estudiosos, pesquisadores  e historiadores e pergunte a eles se usam a wikipedia como fonte de pesquisa para algum tarbalho sério. Por que você se esconde sob um pseudônimo, usando o nome do País? Tem vergonha de se assumir como de extrema direita e apoiados do golpe militar-civil-empresarial de 1964?

            Se um aluno me apresentasse um trabalho e se nas referências consultadas constasse apenas a wikipedia eu lhe daria um ZERO categórico.

    1. Por todas as definições de

      Por todas as definições de especialistas como Edward Luttwak no seu classico libro “Golpe de Estado” em que analisa 301 golpes praticados entre 1945 e 1970, o movimento de 1964 NÃO foi um simples golpe militar porque teve como base

      e substrato um amplo movimento civil e e uma grande  frente politica que incluia tres Governadores dos tres maiores Estados e boa parte do Congresso, alem de grande apoio na classe media, no empresariado e sociedade civil.

      cerca de 60 grandes entidades empresariais, civicas, religiosas e  e profissionais como FIESP, FIRJAN, Associações Comerciais de todas as grandes cidades, OAB, Instituto de Engenharia,, a Igreja Catolica, Igrejas Protestantes, etc.

      O movimento militar foi precedido pela Maarcha da Familia com mais de um milhão de participantes em S.Paulo.

      O clássico Golpe de Estado é palaciano e não envolve a sociedade civil. Se formos partir para esse tipo de definição, a Revolução de 30 tambem seria um “golpe” porque tirou do poder um Presidente legitimamente eleito, arrancado do Palacio

      pelos Generais Tasso Fragoso e Almirante Isaias de Noronha antes da chegada de Getulio ao Rio, que chegava chefiando tropa de provisorios do Rio Grande do Sul, portanto um golpe militar apoiado por civis e no entanto ninguem chama de “golpe” e sim Revolução porque não se tratava apenas de um movimento de tropas, havia amplo apoio civil, como em 64.

      Não se trata de analise ideologica e sim de técnica de classificação historica. É preciso ter precisão na analise historica sob pena de tornar esse estudo um mero jogo de palavras de acordo com o gosto de cada um.

       

       

       

       

       

       

       

       

       

       

       

      1. Revolução é que não foi

        Caro André, mesmo que se aceite (e não digo que estou aceitando) que o golpe de 1964 não foi um golpe, menos ainda se pode chamá-lo de revolução.

        Não houve uma mudança abrupta do poder político e sim uma derrubada de um governo pela imposição da força, porém mantendo exatamente a mesma estruptura social, econômica e até mesmo política do País, pois mesmo que alegue que a democracia foi substituída pelo arbítrio, a verdade é que a estrutura política sujacente se manteve a mesma, simplesmente com a eliminação dos partidos e movimentos trabalhistas e progressistas e a introdução dos militares como atores no campo político, porém atuando juntamente com as elites tradicionais.

        Isso pode ser chamado de muitas coisas, menos revolução.

        Também acho que a revolução de 1930 foi um golpe de Estado, assim como tenho certeza que a revolução constitucionaista de 1932 não foi nem revolução nem constitucionalista.

        Em diversas fonte o termo “Golpe de Estado”é definido como “derrubada ilegal, por parte de um órgão do Estado, da ordem constitucional legítima”. Se aceitarmos essa definição a mim pelo menos parece que o golpe de 1964 foi sim um golpe de estado. A pertinência ou não dessa denominação pode ensejar um debate interessante, mas me parece que a improcedência do termo revolução para o que aconteceu em primeiro de abril de 1964 é muito mais fácil de se identificar.

        1. Meu caro Ruy a nominação é

          Meu caro Ruy a nominação é irrelevante, cada um usa como quiser. Politicos eleitos derrubam governos depois de eleitos, caso de Hitler em 1933. Eleições formalmente legais podem se desligtimar depois, o que foram as derrubadas de Café Filho e Carlos Luz em 1955, dentro do quadro constitucional vigente? Luz foi tirado do Palacio do Catete a manu militari e no entanto ninguem fala em golpe de Estado, são meras questões semanticas que cada um interpreta à gosto.

          Mussolini tambem foi leito dentro da então constituição do Reino da Italia e no entanto com esse mandato criou o fascismo.

          1. André, só não concordou com o

            André, só não concordou com o trecho em que você diz que o Golpe de 64 foi ingrato com Adhemar e o cassou. Se há uma marca no golpe, foi a estratégia de mestre dos Militares enganar  a cada golpista civil – Adhemar, Lacerda e Magalhães Pinto – que um deles é que  seria o conduzido à presidência depois do golpe. Só que os militares não queriam civis mais na presidência,pois concluíram que a briga fratricidade entre eles desde 1954 (amenizada pelo sucesso econômico do presidente JK)  iria destruir o país. Paulo Francis ficou surpreso que Lacerda também foi cassado com o golpe, pois parte da intelectualidade  do Rio dava como certo de que ele, o Corvo, seria o presidente no pós golpe.

            Ficou que nem aqueles filmes em que há um monte de golpista um querendo passar a perna no outro pra pôr a mão num bilhão e quem sai ganhando é o que o expectador menos esperava. (rs). 

            Aliás, o cenário atual é muito parecido com 64 – com a diferença de que o exército não quer – ou não pode – colocar a mão nessa cumbuca rs 

             

             

          2. No movimento de 1964 houve

            No movimento de 1964 houve mudança de “alas” militares, a do primeiro movimento, grupo Castelo-Golbery-Sorbonne tinha uma linha e a do segundo governo Costa e Silva-Medici tinham projetos bem diferentes, sem entender essas fricções internas não se entenderá o longo regime de 1964. Hou tres mandatos da Sorbonne, Castelio, Geisel e Figueiredo e tres da linha dura, Costa, Junta Militar e Medici, lembrando que Geisel quase foi derrubado pela linha dura representada por Silvio Frota.

          3. Semântica

            Caro André, concordo que a questão da denominação seja semântica e aditiva, não contribuindo para o cerne do debate. Porém não acho que seja totalmente desprovida de importância, já que a escolha e o uso das palavras influi no entendimento dos conceitos expressos.

            Pode-se usar livremente qualquer termo para qualquer situação? Em relação à libertdade individual sim, cada um fala como quer, mas se a intenção é ser compreendido torna-se necessário usar as palavras sejam entendidas pelos interlocutores com o mesmo significado que se deseja transmitir. Isto posto, pode-se chamar banana de abacaxi, mas ao fazê-lo ninguém que o ouça irá pensar na fruta a que se referiu, nem achará fácil descascá-la.

            A ascenção nazista na alemanha não é referida como golpe de Estado, este termo é utilizado para o fracassado “putsch” (golpe em alemão) da cervejaria em 1923. Em 1933 Hitler foi indicado Chanceler e dissolveu o gabinete.Não houve golpe nem revolução, a implantação da ditadura nazista se deu por mudanças nas leis aprovadas no Reichtag, com apoio do judiciário, o que não caracteriza nem ma coisa nem outra, mesmo que obtido com o uso de violência e intimidações.

            Já o episódio da deposição de Carlos Luz pelo general Lott eu sempre o ví referido como um golpe militar, ou às vezes como “autogolpe” e outras como “golpe preventivo”. É verdade que tal golpe foi dado para garantir a posse de um governo legitimamente eleito devido à possibilidade concreta e provável de um golpe de Estado por parte dos setores conservadores, para impedir a posse de Jucelino. E olha que a ação de Lott também teve um amplo substrato, apoio político na sociedade, no Congresso e tudo mais, mas foi um golpe militar.

            Não entendo porque a recusa em reconhecer que em 1964 tivemos um golpe militar e a insistência em usar um termo muito mais inadequado por qualquer aspecto que se observe, que é a palavra “revolução”. Em meu entendimento é a mesma coisa que chamar banana de abacaxi. Pode fazer isso? Pode, claro, quem vai impedir? Pode até ser que alguém pense se tratar da fruta com coroa, mas isso não vai mudar nem a natureza nem o cheiro daquilo a que se está referindo.

          4. Meu caro, vamos dizer que o

            Meu caro, vamos dizer que o golpe é uma operação mais simples de troca de guarda, em 1964 foi mais profundo e nada simples, envolvendo muito mais forças do que simplesmente o 4º Regimento de Infantaria de Juiz de Fora comandando pelo general Olimpio Mourão Filho, houve uma completa mudança de regime e não apenas de Presidente, mudança tão profunda

            que durou 21 anos com 5 Presidentes e uma completa reestruturação do Estado brasileiro.

             

      2. Assim como em 1889, em 1930 houve golpe de Estado

        Caro André Araújo,

        Minha crítica não teve com objetivo criar polêmica, mas tão sòmente uma discussão sadia.

        Devemos ser cuidadosos ao empregar o termo “revolução”, que pressupõe a tomada do poder e radical ruptura da ordem estabelecida, com ampla participação dos estratos populares. Sem a participação das massas e sem a mudança da estrutura de poder e do Estado, não se pode falar em “revolução”. Uma classe média (ou burguesa) que abranja no máximo 20-25% da população de um país não realiza “revolução”. Já os golpes de Estado podem ser levados a cabo por minorias, desde que essas disponham das armas e da máquina repressora ou as tome para si. Golpes de Estado podem prescindir das massas, desde que o aparato de força e repressão esteja sob o controle ou seja tomado por essa minoria; é o que ocorre nos clássicos golpes com participação direta dos militares, seja na linha de frente, seja dando apoio às elites oligárquicas.

        No Brasil nunca ocorreu uma revolução. A proclamação da República, em 1889, foi um golpe de Estado. Em 1930 houve golpe de Estado. Em 1964 houve golpe de Estado. Em 2016-2017 está em curso um golpe de Estado.

        Em âmbito mundial pouquíssimos eventos ocorridos nos últimos séculos podem ser chamados de “revoluções” e três deles merecem ser citados:

        – Revolução Francesa, em fins do século XVIII;

        – Revolução Russa, no início do século XX (com ápice em 1917);

        – Revolução Cubana, no final da década de 1950 e in´cio da seguinte (com pico em 1959).

    2. Falo por mim

      Até porque o André não precisa. Eu e mais um porrilhão de gente que abomina o que houve, utiliza o termo Revolução para se referir àquele golpe, ou patuscada, como queira. É força de hábito. Será que teremos de sempre utilizar o termo golpe aqui no blog?

  2. Caro André 
    De novo

    Caro André 

    De novo magnífico

    É interessante observar que, se antes os pilantras mordiam uma comissão; pelo menos investiam em atividades produtivas (fábricas, empresas. O único bola fora é esse Abdalla, que; pelo exposto, sempre foi picareta e sem vergonha – e comprava ainda terrenos para especular)

    Hoje, roubam (muito mais, na cara dura e com “aspectos legais”) só para especular com papéis do governo e enganar otários na bolsa de valores

    O neoliberalismo conseguiu derrubar a “qualidade” da corrupção…..que ideologia satânica!

  3. A velha senhora…

    Há uma revista da SBPC “Ciência Hoje” em que fala da criação do Departamento de Física da USP que trouxe um colega do Einstein na época do Macarthismo e que trocavam correspondência e numa delas ele fala ao Einstein da corrupção absurda no Brasil – época do Adhemar…

    Além de gênio, Einstein sabia de tudo…

    Corrupção no Brasil, eis uma velha senhora da elite…

  4. Da caixinha ao caixa 2

    A historia de Adhemar de Barros e JJ Abdalla são bem conhecidas de todo meio jornalisico, empresarial, juridico e politico. Dado o fato de sonegarem, o Estado deveria ter desapropriado suas empresas, terrenos, casas etc. Eh terrivel para a maioria que trabalha duro, paga impostos, respeita as leis do pais ver que tudo o que consegue legar a seus filhos é Educação, enquanto os herdeiros usufluem daquilo que seus avos, pais, tios, roubaram do povo brasileiro. O problema no Brasil é que todos são muito coniventes com quem rouba muito, sonega e ainda se orgulha de fazê-lo, e tudo isso na cara do freguês.

    1. do….

      Adhemar foi invenção do Getulismo, golpe militar sanguinário contra urnas livres e facultativas defendida por Estudantes Paulistas. Foi amplamente apoiada pela Elite Esquerdopata Nacional, comprada com cargos, imposições sindicais obrigatórias e muita corrupção. Não é mesmo Prestes, o outro? Não importou nem mesmo a deportação da mulher para incineradores nazistas.1964 enfim começa a se encerrar e entendemos nosso país. Desta farsa surgiu também outro factóide que foi Juscelino, o “melhor”, que não fez nem o sucessor devido a Janio Quadros ter revelado toda a sujeira de seu governo, como já havia feito com Adhemar em SP. Mas a Esquerdopatia comprada e omissa não aceitou o resultado das urnas. Alias, resultado das urnas nunca foi o objetivo do sonho socialista da Ditadura do Proletariado. 2017 de nossas elites esquerdopatas, elite que não é elite. Esquerda que não é esquerda, que infestam cargos públicos comissionados e indicados em governos, autarquias, estatais, agências reguladoras, judiciário explicam a mediocridade que estamos.Ou é preciso desenhar? 

      1. Ignorância e arrogância, deplorável combinação

        Não é raro observar-se espetáculos de ignorância em comentários neste blog. Também não é raro observar-se demonstrações espetaculosas de arrogânciaa. Mas é incomum observar-se uma conjunção tão monumental das duas coisas como se observa neste monturo de asneiras apresentado como comentário.

        O citado “golpe militar sanguinário” de Getúlio foi a revulução de 1930, que certamente não foi feita contra as citadas “urnas livres e facultativas defendida por Estudantes Paulistas” e sim contra a política autoritária e retrógrada da República Velha, baseada em fraudes eleitorais escancaradas e sem voto secreto.

        O golpe de 1930 foi o que mais se aproximou de uma revolução na História oficial da República e mesmo assim foi um golpe de Etado, porém não contra “urnas livres e facultativas defendida por Estudantes Paulistas” e sim contra uma política elitista e já apodrecida ominada por elites paulistas e mineiras, a chamada política do café-com-leite, aplicado por outros setores da elite nacional excluídos desse “acordo”.

        Seja como queiram definir, o certo é que o golpe de 1930 não foi contra “urnas livres e facultativas defendida por Estudantes Paulistas”, essa patacoada dos estudantes paulistas defendendo urnas livres foi apenas uma propaganda da mais rançosa e retrógrada elite nacioanl, a dos “barões do café” paulistas, contra outros setores da elite que haviam tomado o poder em 1930. Fizeram uma campanha mentirosa de que seria uma “revolução constitucionalista” e levaram à morte centenas de jovens, a maioria sem nenhuma relação com as elites nem os interesses delas que é o que de fato aquele levante representava. No final é claro a elite paulista se reconcilia com Getúlio e este nomeia um interventor indicado pelos próprios barões do café.

        A esquerda não teve NADA a ver nem com a República Velha nem com o golpe de 1930. O golpe de Getúlio foi um movimento da elite visando sua auto-preservação, o que pode ser sintetizado pela frase do presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos, que afirmava, ainda em 1929, em um discurso interpretado como um presságio e uma demonstração do instinto de sobrevivência da elite “Façamos serenamente a revolução, antes que o povo a faça pela violência” , pensamento que pode ser mais apropriadamente expresso pela famosa frase do romance “Il Gattopardo”: “tudo deve mudar para que tudo fique como está”.

        1. ignorância e arrogância…..

          .Você pergunta. Você responde: …sobrevivência das elites…”antes que o POVO faça com violência”. E o povo fez. As Elites, esquerdopatas inclusive, ficaram ao lado do Golpe. 

          1. Perda de tempo

            Ao ler essa patacoada disparatada, com menos consistência que o zurrar de um asno (com minhas desculpas ao equídeo pela compação que lhe é amplamente ofensiva), percebo que perdi meu tempo já que o interlocutor não tem o mínimo de inteligência requerido para estabelecer comunicação.

  5. Vou insistir

    O André está devendo um livro com os artigos – e com seleção dos comentários pertinentes. Aprendo muita história além de um pouco – bem pouco ( minha limitação)- de economia

  6. Terreno baldio – Campos da Escolástica

    André, só como curiosidade. Em seu texto você fala do terreno baldio que o Estado comprou do JJ Abdalla. Esse terreno tem uma história interessante. Inclusive correu – não sei se ainda corre – um processo na justiça por conta não só desse terreno que foi transformado no Parque Villa Lobos, como a extensão dele, que abrange a atual área onde está a Ceagesp. Conta-se que o terreno foi tomado da proprietária, de nome Escolática (daí o antigo nome do local, Campos da Escolástica, que ainda pode ser visto em antigos guias de rua de São Paulo). Escolástica, imigrante portuguesa – da qual não lembro o sobrenome – era, com seu marido, a dona das terras. Isso ainda no início do século XX. Ela enviuvou cedo e a terra foi cercada por jagunços, que acabaram por expulsá-la do local e, através de escituras falsificadas a terra acabou indo parar nas mãos de JJ Abdalla. Essa história chegou a mim através da esposa de um primo da minha mãe, que era descendente da Escolástica. Cheguei a conversar com um dos herdeiros da Escolástica, que movia a ação judicial, mas eram todos muito medrosos – ao contrário da Escolástica, de quem diziam ter resistido à bala à invasão dos jagunços. Consegui levar a história novamente aos jornais quando o Quércia estava ‘negociando’ a compra do terreno com o Abdalla, mas não deu em nada, é claro. Teve até uma passagem pitoresca: um dos herdeiros da Escolástica era sargento da Aeronáutica e, no dia em que o Quércia iria anunciar o negócio, ele conseguiu chegar perto do ex-governador e fez uma proposta dos herdeiros, de que eles cederiam o terreno de graça ao Estado, caso o governo os apoiasse na ação contra o Abdalla. A ingenuidade das pessoas não têm tamanho. Tentei demovê-los dessa ideia, dizendo a eles que o então governador não tinha interesse nenhum em receber aquele terreno como doação pois, certamente, muita gente seria beneficiada com a compra feita pelo Estado. Foi inútil. 

    1. Realmente na historia dos

      Realmente na historia dos terrenos de S.Paulo há muitas historias de grilagem, o primeiro dono de cada area do Brasil a tomou “na marra” e por volta do fim do Seculo XIX todo o entorno da cidade de São Paulo era terra de posse, sem titulação, o que gerou muito conflito. Lembro que a antiga São Paulo Tramway, Light and Power Co.Ltd. tinha vastas extensões de terras por toda a zona de Santo Amaro e nas margens do Rio Pinheiros, herdadas pela AES Eletropaulo na privatização, os americanos ficaram surpresos aos verem o patrimonio imobiliario da Eletropaulo, acabaram vendendo quase tudo e ainda sobram algumas areas.

  7. Esses personagens não tem

    Esses personagens não tem nada de fascinantes.

    Bando de parasitas e exploradores do trabalho humano.

    Na terra que os comeu não nasce nem mato.

     

    PS: o André, nesse texto, não achou nenhuma brecha para malhar a Dilma.

  8. Obrigado, André Araújo!!!

    Obrigado, André Araújo!!! Muito bom conhecer essas histórias que nos revelam como era o Brasil há umas poucas décadas, e como as coisas continuam as mesmas……. 

  9. Grande André: obrigado!

    Por esta aula sobre Brasil.

    Você deveria reunir essas suas “crônicas” sobre a elite paulista e brasileira em um livro!

    Final antológico:

    “A caixinha de Adhemar rendeu frutos ao longo da História, parte dela está na Eletrobrás, se beneficiando de uma privatização que a mídia neoliberal elogia como coisa moderna, moderna como a “caixinha” do Adhemar dos anos 40 e como os aventureiros que ela enriqueceu a pairar como almas penadas sobre nossa realidade politica e econômica.”

  10. Abdalla não pagava impostos e
    Abdalla não pagava impostos e continuava a ficar rico,isto ainda acontece hoje e precisa mudar,tem q tomar os bens destes devedores caloteiros!

  11. O Golpe Militar de 1964 que culminou

    O Golpe Militar de 1964 que culminou na Ditadura Militar de 1964 teve a participação efetiva dos Estados Unidos através de sua embaixada em Brasília, basta isso para mim para que seja chamado de Golpe e não de Revolução, (a Igreja Católica fez às vezes da rede Globo dos dias atuais). Os militares nunca foram revolucionários, com a desculpa de impedir o “comunismo”, assim chamado devido a reformas (agrária e trabalhista) propostas pelo presidente João Goulart, apenas serviram de fantoches aos interesses  comerciais norte americanos, fato que não ocorreu só no Brasil, mas em grande parte dos países sul americanos nas décadas de 60 e 70, como na Argentina, Paraguai e Chile

    1. Não é pela presença de

      Não é pela presença de participantes externos que um evento historico muda de nome. A esmagadora  maioria dos golpes de Espado do livro de Luttwak NÃO teve participação externa. A Guerra Civil Espanhola não deixou de ser uma “gueerra civil”, que é uma guerra entre territorios de um mesmo Pais, pela presença de forças internacionais dentro do conflito, italianos e alemães do lado Nacionalista e sovieticos e brigadas estrangeiras ao lado da Republica, isso não muda a natureza do conflito.

      O apoio dos EUA ao movimento militar de 1964 foi marginal e não central, não houve tropa, munição ou material belico dos EUA no movimento, houve uma promessa de fornecimento de combustivel se necessario, o que não chegou a acontecer,

      apoio diplomatico não é intervenção, apenas posicionamento que ocorre em toda mudança de governo.

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