E vivemos uma revolução no Brasil, por Osvaldo Ferreira

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Osvaldo Ferreira

Estamos vivendo um momento inédito de democracia no Brasil.

Eu acho que jamais vivemos momento como este em nossa história.

E não se trata da democracia formal, aquela que se realiza com o sufrágio, que entre nós ocorre de dois em dois anos e feito isso, eleitos e eleitores se encaminham para suas vidas, com trombetas propalando que se realizou novamente a grande vontade popular!

Eu acho que jamais vivemos momento como este.

Isso tem muito a ver com o acesso ampliado às informações jamais ocorrido em nenhuma época anteriormente.

Isso tem muito a ver com a mobilização social, notadamente comandada pelos jovens que desejam um país novo e um mundo novo e isso é muito bom.

Dispomos dos meios informacionais. No Brasil agora a universidade deixou de ser coisa apenas dos abastados. Isso também tem a ver com este momento.

Alguns entendem que isso é o caos. Principalmente os adeptos da ordem. Outros entendem que é o momento de renovar, revolucionar e avançar. Outros estão confusos.

Mas é mesmo assim que na história há o parto do novo.

Estamos a assistir o parto do novo no Brasil.

Não há mais tema tabu na política vista de forma ampla: mulheres desejam virar a mesa pelos seus direitos desde sempre vilipendiados numa sociedade patriarcal secular, milhões desde sempre oprimidos pelas suas orientações sexuais desejam virar a mesa, os negros e em maioria no Brasil desejam virar a mesa, os indígenas desejam virar a mesa, os que se opõem à sacrossanta família judaico-cristã desejam virar a mesa, os pobres e miseráveis desde sempre massacrados pela transformação da terra em mercadoria desejam virar a mesa tanto no campo quanto nas cidades, os produtores de informação pela web desejam virar a mesa se opondo ao oligopólio das informações no Brasil, os estudantes desejam virar a mesa nas instituições em que estudam e onde não têm participação, seja nas Universidades ou no ensino básico, e há uma intolerância absoluta à forma como o Estado funciona no Brasil desde sempre, que serve para enriquecer os mais ricos em detrimento dos mais pobres.

Todo mundo querendo virar a mesa e ser mais cidadão. Ser mais respeitado e participar de tudo.

Não será com ruptura institucional que resolveremos isso, mas com mais civilização, com mais arejamento, com mais discussão, quero dizer, com mais democracia.

Eu acho que estamos no Brasil em uma quadratura das mais interessantes. Mas há muita gente que não pensa assim. Gente que não suporta esta instabilidade inerente à democracia. Para esta gente isso é pavoroso.

Acho que estamos parindo aquilo que muitos de nós desejamos há muito tempo. Um país avançado, democrático, moderno, diverso e rico.

Se este parto se fará de forma convulsionada (e esta é uma hipótese) ou de forma mais consensual é algo que está em nossas mãos. Mas definitivamente estamos numa revolução no Brasil.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. Oswaldo: Você escreveu a tese

    Oswaldo: Você escreveu a tese que eu gostaria de ter escrito, porém, não tive a competência para formulá-la com a precisão e objetividade com que você o fez.

    Quando a tese estava se formando no meu cérebro, foi aí que eu entendi o significado das manifestações de 15 de março.

    Parte dos manifestantes de 15 de março está apavorada com a revolução que brota aos seus pés, por toda parte, por todos os lados e que a deixa com um medo irracional do novo que está sendo parido.

    A História está parindo um novo Brasil, um novo povo que, tenho quase certeza, não vai se deixar intimidar com a histeria dos apavorados em perder seus privilégios que já se estenderam por 500 anos.

    A velha(ca) Casa Grande está vendo seus alicerces ruírem diante da gritaria da senzala que reivindica o seu espaço dentro da sala.

    Por isto, os manifestantes (parte significativa deles) pediam a volta ao passado, a intervenção militar já, o apoio norte-americano, o retorno da ditadura civil-militar, instalada pelo golpe de estado em 1º de abril de 1964.

    Eles não entendem que há vida inteligente nas Forças Armadas, que os próprios militares percebem que essa revolução, que brota por todos os cantos do país, não pode ser contida por uma intervenção armada Aos militares não resta outra saída a não ser aderir à revolução.

    Mesmo porque, eles percebem que, pela primeira vez em nossa história, a nação brasileira tem a oportunidade de se tornar relevante no mundo e que eles, militares, tem um papel importantíssimo a cumprir na afirmação de nossa soberania.

    As manifestações de 15 de março são, em grande medida, reacionárias, pois reagem ao novo, ao movimento revolucionário.

    Enquanto os manifestantes de 15 de março estão impregnados do medo que os levam ao ódio e ao velho, os revolucionários estão cheios da ousadia que os levam à esperança e ao novo.

    Não há crise social, econômica ou política que impeça o avanço da revolução.

    1. Pequeno detalhe, o programa. Qual é?

      Meus caros amigos, como dizem os franceses, com todo este cocoricó ninguém disse qual o programa de toda esta manifestação.

      É simples, derrubar Dilma e tudo está resolvido! Porém todos sabem que não acharam a conexão de Dilma com todo o esquema mafioso que as grandes empresas montaram junto a Petrobras, logo vamos as alternativas.

      1ª – Solução – Punir todas as empresas que participaram do butim, mais todas as que tiraram empréstimos no BNDES, mais os ruralistas que nunca pagam as dívidas no BB, mais os outros empresários beneficiados com empréstimos na Caixa, e daí por diante.

      1º – Problema – A maior parte destes empresários que se beneficiaram por aquilo que é considerado corrupção estavam nas manifestações do dia 15, logo é meio difícil que os mesmos deem um tiro no pé.

      2ª – Solução – Punir todos os partidos que se beneficiaram com a corrupção nos últimos anos e não punir os empresários.

      2º – Problema – Todos os grandes partidos serão punidos assim como as suas lideranças, PMDB, PT, DEM, PP, PSDB e outros, e como os empresários não foram punidos os próximos políticos que vão assumir vão encontrar um terreno fértil de forma mais esperta sem dar recibo nenhum e continuará a corrupção.

      3ª – Solução – Punir somente o PT e alguns partidos aliados, por exemplo o PP, deixar de lado todos os corruptos do PMDB, DEM e PSDB para garantir a governabilidade.

      3º – Problema – O PMDB, o DEM e o PSDB já estão envolvidos em esquemas que estão sendo investigados, teriam que varrer para debaixo do tapete todos os processos, atropelando a Polícia, o Ministério Público e o Judiciário.

      4ª – Solução – Não fazer nada em termos de punição e continuar com a insuflação da “revolução”.

      4º – Problema – As manifestações que são hoje em dia capitaneadas pelas elites cheirosas, podem chegar ao povo em geral, e este talvez queira as Soluções 1 e 2, tendo-se aí um processo revolucionário verdadeiro, onde todo o sistema econômico e político deverá ser desmanchado para ser substituído por outro, agora qual será este outro ninguém sabe e nem tem condições de prever.

      Senhores, revolução não se brinca, quartelaço é uma coisa, revolução é algo bem diferente.

      1. Pograma

        A população basileira viveu sempre submetida a uma determinada ordem de tal forma que quando arriscava por a cabeça de fora do buraco era duramente reprimida. A história nos mostra isso. Alguns afirmam que nunca nos revoltamos. Uma simples pesquisa na internet nos mostra o contrário. A repressão sempre severa e a diminuição da importância dessas sublevações indicam falsamente nossa covardia ou temor.

        O que é interessante nessa abertura atual é que permite outras classes (populares) se manifestarem. As autoridades não irão reprimir futuras manifestações. Isso se torna didático tanto para manifestantes quanto para a repressão. Acredito que seja com esse viés que o autor quisesse ser interpretado.

      2. Rogério, será que só eu não

        Rogério, será que só eu não consigo ver o copo meio cheio nesta conjuntura?  Por que meu pensamento segue marcado por maus presságios e um sentimento de perda e violência eminente?  Onde está me faltando uma visão mais otimista, menos cética?  Os fatos apontam para redenção ou para queda?  Já não sei mais.  Escrevo que estou preocupada e me sinto falando com as paredes. Todos dizendo, tira logo a Presidenta que resolve.  Como assim, resolve?  E tirá-la, porque ? Desde sempre minha atividade profissional envolve planejamento.  Não consigo enxergar somente o horizonte das próximas 48 horas.  Quando olho para frente, daqui a 06 meses, minha visão é tenebrosa, a se confirmarem os prognósticos e caso mantenham-se as condições atuais sobre as quais ninguém está agindo.  Daí surgem teses, interessantes, mas que a meu ver podem obliterar e minimizar a gravidade do momento e nos jogar num Mundo de Alice, anestesiados.

  2. Tomara

    Gostaria de ser otimista e sereno como você, Osvaldo, mas não consigo. Talvez pela minha profissão, onde tenho de lidar com pessoas simples, que são a grande maioria dos brasileiros, e percebo, com desespero, que elas têm imensa dificuldade de cognição de coisas elementares. Às vezes penso que profissionais que estão dando aulas nas faculdades de filosofia, história, etc. em contato com pessoas diferenciadas não conseguem ter uma visão dessa realidade amarga. Não temos meios de comunicação de massa para informar as pessoas, e as reformas e revoluções não acontecem por milagre.

    Central de Whatsapp do Governo para combater boatos e grande portal de notícias (idéias do Azenha), TV Brasil nos moldes da Telesur, Voz do Brasil nas televisões (cinco minutos basta), Filosofia obrigatória no currículo do 2º grau, faculdades, nas provas de ENEM, vestibulares e concursos públicos. Já!   

     

  3. Sim. Mas, só que não.

    Permitam-me discordar.

    Quando eu vejo que muitos dos que vociferam nas ruas estão sendo manipulados pela tabelinha mídia corporativa/oposição, defendendo medidas que vão contra os seus interesses , sem a menor noção do que está em jogo, dando declarações contraditórias e sem um mínimo de crítica quanto aos atores (MP, juízes, mídia, oposição, STF e por aí vai), fico cético quanto a estarmos avançando na nossa jovem democracia, essa, sim, um bebê.

     

  4. Apesar do espetáculo de

    Apesar do espetáculo de miséria humana que temos vistos nesses tempos, tendo a concordar com o post. O momento parece mesmo ser, finalmente, o parto da nação Brasil, muito embora ainda não saibamos o que será parido.

    Tenho a impressão de que chegamos mesmo a um impasse sobretudo social. Tem quem queira um país como o de antes, desigual; e tem que sonhe com uma coisa melhorzinha. E tem gente lutando dos dois lados. Por pior que venha sendo o governo, nenhum governo seria capaz de controlar esse momento. De fato, o governo PSDB tentou, de todas as formas, evitar isso. Os governos do PT estimularam a mudança, mas talvez tenham confiado demais no poder transformador da matéria, acreditando que os espíritos seguiriam tranquilos o caminho do bolso. Ledo engano.

    Como somos o pais das jaboticabas, esse é nosso modelo de revolução. O mais engraçado é que ninguém admite, nem de um  lado e nem do outro. Ontem mesmo soube de uma pessoa que está querendo deixar o país com a família, mas só se puder levar a empregada junto. O motivo? Não aguenta tanta corrupção, cotas, e etc. Cada um utiliza as armas que tem na luta né? No caso, a arma é uma ascendência estrangeira e o sonho de tornar a europa a casa grande pernambucana. Pessoas que sentem e vivem assim não querem um Brasil novo e melhor para todos e vão em busca de um cantinho onde possam reproduzir seu mundinho de privilégios. Por outro lado, também não podemos colocar as esperanças de uma país melhor numa imensidão de pessoas secularmente desumanizadas, que com as mudanças implementadas por um governo trabalhista passaram a mimetizar a vida da elite. 

    O papel que as instituições vem desempenhando também faz parte disso. O Judiciário, o MP, a polícia querem definir, sozinhos e à forceps como atuarão daqui por diante, vença quem vencer.

    O fato é que se esse momento for desperdiçado, levaremos mais centenas de anos para construir outro.

  5. Revolução de Veludo

    Revolução de Veludo

    palavra de ordem unida:

    – Distraídos Venceremos! 

    aqui não se comenta, pero si,

    na subclasse maioral do povo fiel

    o imaginário lúdico popular, doravante,

    orgulhosos leais feudais súditos brasileiros

    na ordem do fato natural já aclamam em público

    pela aparição sagrada de Nossa Rainha da Inglaterra,

    Dilma II a Teimosa. Viva a Monarquia! Vida Longa à Rainha!

     

     

     

  6. “Não há mais tema tabu na

    “Não há mais tema tabu na política vista de forma ampla: mulheres desejam virar a mesa pelos seus direitos desde sempre vilipendiados numa sociedade patriarcal secular, milhões desde sempre oprimidos pelas suas orientações sexuais desejam virar a mesa, os negros e em maioria no Brasil desejam virar a mesa, os indígenas desejam virar a mesa, os que se opõem à sacrossanta família judaico-cristã desejam virar a mesa, os pobres e miseráveis desde sempre massacrados pela transformação da terra em mercadoria desejam virar a mesa tanto no campo quanto nas cidades, os produtores de informação pela web desejam virar a mesa se opondo ao oligopólio das informações no Brasil, os estudantes desejam virar a mesa nas instituições em que estudam e onde não têm participação, seja nas Universidades ou no ensino básico, e há uma intolerância absoluta à forma como o Estado funciona no Brasil desde sempre, que serve para enriquecer os mais ricos em detrimento dos mais pobres.”

    Infelizmente, não é isto que eu estou vendo…

    O que eu estou vendo é machistas não tolerarem mais os avanços dos direitos das mulheres, homofóbicos em revolta contra uma suposta “ditadura gayzista”, racistas eufóricos com a perspectiva de reverter as ações afirmativas que vem sendo intentadas, ruralistas a postos para invadir terras indígenas e quilombolas, em campanha aberta contra as demarcações, uma horda enfurecida de adeptos da “família” judaico-cristã (enceguecida ao ponto de não conseguir ver que as famílias da Bíblia são completamente diferentes daquilo que se chama “família” hoje em dia), o capital em fúria contra as limitações que lhe tem sido impostas, enlouquecido por salários menores, jornadas maiores, menos direitos, menos impostos, menos entraves, a cultura do estupro e o racismo aberto se enraizando nas universidades – onde os DCE começam a ser tomados pela direita – e uma intolerância absoluta a qualquer mudança na forma como o Estado funciona no Brasil desde sempre, uma intolerância absoluta a qualquer veleidade distributivista por parte desse Estado.

    Talvez seja o canto do cisne dessas força de direita – mas o que passa hoje por “revolta” é isso, e não o contrário disso.

  7. Concordo

    Muito pertinente a leitura do Osvaldo.

    Esses tempos de crise e mudança é como se alguém raspasse o fundo do caldeirão com a colher de pau, fazendo subir à superfície fervente o velho e o novo.

    De minha parte, ficaria contente se desse parto doloroso emergisse o país desenhado na CF.

    Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
    I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
    II – garantir o desenvolvimento nacional;
    III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
    IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

  8. Realmente, o momento atual é

    Realmente, o momento atual é diferente. Dos movimentos de 64 levamos quase 50 anos para comprovar quem estava por trás de tudo. Agora não. Só está faltando endereço e telefone dos financiadores e apoiadores.

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