História natural dos ricos, por Richard Conniff

Enviado por Felipe A. P. L. Costa

História natural dos ricos

Por Richard Conniff [1]

Se os homens vêm de Marte e as mulheres, de Vênus, de onde é que vêm os ricos, afinal?  – Conniff (2004, p. 21).

Ter a mesma conduta que os outros, falando com o mesmo sotaque ou seja lá o que for, representa, é claro, um modo de os ricos indicarem sua identidade uns aos outros e desarmarem a suspeita: Este é um dos nossos, não deles.

É também um modo de tornar mais importantes certas distinções sutis. Em A teoria da classe ociosa, Thorstein Veblen, economista da Universidade de Chicago, descreveu o comportamento dos ricos basicamente em termos do consumo ostensivo. No entanto, sob muitos aspectos, o consumo não ostensivo é mais intrigante. Quase todos os pavões, por exemplo, têm uma plumagem extravagantemente ostensiva na cauda, a qual mantêm ereta e agitam para atrair a atenção amorosa das fêmeas. Estas não são nada indiferentes às questões do tamanho e do vigor; tais qualidades, assim como a fortuna para os ricos, são o preço do ingresso. Além disso, as fêmeas prestam rigorosa atenção a alguns detalhes inconspícuos, como o brilho e a simetria das penas. Quando um macho perde apenas cinco das cerca de 150 penas de sua cauda, as fêmeas mais exigentes tendem a evitar seu campo de dança.

Entre os ricos, do mesmo modo, os sinais inconspícuos são uma espécie de linguagem particular, de nuanças extremamente delicadas na subespécie. Uma mulher que faça parte do clube, por exemplo, pode usar o que parece ser uma blusa marrom comum. Somente seus pares serão capazes de reconhecê-lo como uma peça de seda da grife Yves St. Laurent, mais cara, digamos, do que uma capa de chuva Chanel. Similarmente, em sua casa na Itália, Sirio Maccioni, dono do elegante restaurante Le Cirque, em Nova York, dirige um despretensioso Lancia. Mas os membros do clube sabem, pelo ronronar gutural do motor, que na verdade há uma Ferrari sob a carroceria. A família Agnelli, cuja empresa fabrica os Lancias e as Ferraris, começou a produzir essa Ferrari disfarçada na década de 1980, quando a política de esquerda tornou imprudente exibir a riqueza de maneira muito explícita.

*

Nota

[1] Por Richard Conniff (nascido em 1951). Extraído e adaptado do blogue Poesia contra a guerra, o excerto acima integra o livro História natural dos ricos (Jorde Zahar, 2004 [2002]). A tradução é de Lúcia Ribeiro da Silva.

Redação

1 Comentário

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  1. A ostentação
     

    E o “ronronar gutural do motor”

    Dizem que os árabes, notórios pelo seu apego ao metal dourado, e donos discretos de imensas fortunas têm como hábito a humildade e a lamentação, dizendo-se nas mesquitas como os mais humildes servos de Alah!

    Dizem até que um príncipe em oração, dizia-se o mais miserável dos seres  quando de outro lado, um mendigo deitava suas preces sob a justa alegação de miséria e o nobre, em decorrência mandou abreviar a existencia do mendigo porque ninguém poderia declarar-se mais humilde diante de Alah do que ele,  o príncipe.

    Tudo por que?

    Para evitar a ostentação, porque a ostentação causa a inveja.

    Fala sério!

    Custa dividir?

    O que que há de errado em um mundo em que todos possam ter uma vida digna?

     

       

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