Moro nas trevas, por Maurício Dias

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por Webster Franklin

Por Maurício Dias

Da CartaCapital

Empolgado por sua popularidade, o juiz da Lava Jato exibe, entre outros, seus limites ao comparar sua Operação à italiana Mãos Limpas

O juiz Sergio Moro, cuja fama corre o País, não esconde a aversão pela política. Ele próprio tornou-se, no entanto, peça importante no crescente do ativismo judicial. Ou seja, a ocupação pela Justiça de espaços políticos. Isso o leva, eventualmente, a cair no abismo das contradições. O magistrado, por exemplo, faz política porque não confia nos políticos, embora tenha lá suas simpatias partidárias. 

Responsável pelos processos da Operação Lava Jato em primeira instância, Moro manifestou publicamente essa rejeição durante palestra recente feita na Procuradoria da República, em São Paulo. O tema dele, a lavagem de dinheiro e os ilícitos em torno dela, é monocórdio. E, nessas ocasiões, sempre se remete à Operação Mãos Limpas.

Como um bom escoteiro Moro está sempre alerta. Dorme de olhos abertos e parece assaltado por pesadelos: “O Brasil deve ficar atento às lições que vêm da Mãos Limpas”, disse ele na palestra.

Qual a dúvida do juiz Sergio Moro? A resposta está na continuidade do raciocínio do palestrante.

Segundo ele, passado o tempo, a classe política teria adotado medidas que reverteram os avanços da Operação Mãos Limpas. 

A qual, se bem entendemos segundo Moro, teria redundado em fracasso, embora ditada pelos melhores propósitos. “O retrato é de uma grande oportunidade de mudança que se perdeu”, lamentou.

O jovem juiz não sabe do que está falando, trafega na névoa como um barco escocês ao largo da costa em uma madrugada de pleno inverno em meio a neblina e com uma avaria no apito. Não é difícil imaginar que Moro se refere ao vácuo criado pelo fim da chamada Primeira República italiana, e na ascensão de Berlusconi e do seu oportunismo. Mesmo assim, o Partido Democrata-Cristão e o Partido Socialista saíram do mapa, enquanto a esquerda mostrava sua qualidade moral: não houve um único envolvido do Partido Comunista, que nesse tempo contava com 34% dos votos e comandava as prefeituras da maioria dos municípios.

Aproximar a Operação Lava Jato da Mãos Limpas é uma iniciativa temerária, mesmo porque a delação premiada só foi aplicada no caso do combate às máfias, que nada tem a ver com a Mãos Limpas. Os ilícitos alcançaram políticos, empresários, lobistas, funcionários públicos. Houve entre os indiciados quem se matasse, em um lance de vergonha cívica, inimaginável nas nossas plagas. O líder socialista Bettino Craxi fugiu da Itália para evitar oito anos de prisão. Alguns dos líderes mais proeminentes do PDC sumiram de circulação.

Moro não está saciado pelos feitos promovidos por ele até o momento. Sustenta agora a necessidade de condenar “por dolo eventual”: o infrator assume o risco de compactuar uma prática potencialmente ilícita, ainda que não esteja ciente dessa ilicitude no momento em que aceita prestar o serviço.

A fonte desse conceito é a Idade Média. Faz sentido.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

23 Comentários

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  1. Isenção

    O texto é até interessante. Porém Maurício não goza de isenção ideológica para discordar dos objetivos e métodos da operação lava jato. Ele deixa claro a sua antipatia pelo Juiz Moro ao comparar o “dolo eventual” a idade média. É ridículo.

    1. Porque a condenação por
      Porque a condenação por antecipação de ilícito não está ligada a idade media. ? Foi nesta época que condenavam canhotos por sua “ligação” com Satanás . Ou será que seria necessário Maurício Dias comparar Moro com MacCarthy para ficar mais claro ? Obviamente que ,pessoalmente, estou esperando políticos e tesoureiros de outros partidos serem tratados como Dirceu e Vaccari. Mas isto é obviamente esperar demais da nossa “justiça” não é ?

    2. café

      “Ele deixa claro a sua antipatia pelo Juiz Moro”

      “não goza de isenção ideológica”

      Acabo de descobrir:

      Eu não tenho isenção ideológica: Eu também tenho quase nenhuma simpatia pelo mouro!

      Só se for para tomar um cafézinho lá em Pullman WA:

    3. Cesário

      Com ou sem isenção ideológica, qualquer pessoa com um mínimo de honestidade, percebe a diferença de tratamento entre os partidos, pela nossa justiça.  Ou pq será que ainda não descobriram de quem era o jatinho em que viajava o sr. Eduardo Campos? Ou ninguém fala se ele estava ou não envolvido nessa roubalheira ?Tá na cara que é pq ele, em sua ganância pela presidencia, foi cooptado por uns e outros – que espero não morrer sem saber – e sabia de antemão que seria blindado. Jamais li s/ alguem do PSB estar sendo investigado, apesar do custo da Refinaria de Pernambuco. A Marina tb foi outra e nunca ninguém tentou perturbá-la.

      Eu penso e isto não me sai a cabeça, que tem corrido mais dinheiro por fora, do que na Petrobrás e sua lava-jato.

  2. Cesário

    Ambos não tem isenção ideológica. Com uma única e pequeníssima diferença apenas. Enquanto um é jornalista , o outro o eleito pelos seus pares  “O grande Juiz”, que irá salvar o Brasil não da corrupção, mas sim do Partido dos Trabalhadores Uma grande diferença, pois não ?

    1. Salvador da pátria

      Não é esse o papel do Moro. Devo lembrá-la (as pessoas sempre esquecem) que tudo começou com a lavagem de dinheiro de um doleiro; passou a obras superfaturadas na Petrobrás; só então que atingiu as doações suspeitas de campanha. O PT é um dos investigados. Quem vai de fato julgar a atuação do PT são os eleitores em 2016.

      1. “Devo lembrá-la (as pessoas

        “Devo lembrá-la (as pessoas sempre esquecem) que tudo começou com a lavagem de dinheiro de um doleiro;”

        Não, Cesário! Tudo começou com o doleiro Youssef atuando no caso Banestado, onde obteve pela 1ª vez as benesses da delação premiada com a condição de não mais delinquir perante ao juiz Sergio Moro que atuou neste caso. Ora, se o doleiro continuou a delinquir, como poderia obter nova delação no caso da Petrobras se mentiu perante o juiz?

        1. Delitos

          “Ora, se o doleiro continuou a delinquir”…. Nesse caso cabe ao ministério público validar ou invalidar a delação com base em provas geradas por ela. Se o processo avança, é que provas foram geradas. Nós daqui é que não podemos afirmar “que o doleiro continuou a delinquir”.

  3. É uma brasa Moro!

    Amigos, Dr Moro é um inocente, ele desfaz a Política por analfabetismo político e crê que a Justiça é a verdade!

    Não Dr, Moro, a Justiça segue regras bitoladas, as leis, a Política, a relação entre os homens!

    Sabe o Sr o que há de comum entre os crimes do Mãos Limpas e os do Lava Jato, é o capitalismo, o maior agente de corrupção  e de desgraças entre os homens e as nações!

    Veja agora o que está acontecendo na Síria, o mesmo que aconteceu no Egito, aconteceu na Libia, aconteceu no Iraque, tudo fruto do capitalismo imperial, que compra homens, compra a Justiça!

    Aqui vai no mesmo caminho, a destruição de um governo popular que olhou o homem como prioridade!

    O Sr se guia pela imprensa que o edeusa, o compra pela sua vaidade e ignorância do que seja política!

  4. Amigos, complemento mais

    Amigos, complemento mais sobre o Dr Moro!!!

    Na sua lide ele se baseia, ele se calca, ele se orienta, na coisa mais abjeta no homem, a delação, que é a covardia de não querer pagar seus erros sozinho, dedurando, que é a traição de seus antigos amigos, seus cupinchas!

    A delação é muito pior quando ela é premiada, é a traição elogiada, ainda pior ela é comprada pela Justiça, que corrompe o bandido, prometendo ganhos ao que delata, ou seja, a Justiça passa a ser corruptora!

    Nenhuma delação deveria valer, mesmo que a sociedade se beneficiasse das informações, é uma imoralidade!

    Dr Mora na sua cruzada, se iguala nesta imoralidade!

  5. Uma grande obra de bilhões de

    Uma grande obra de bilhões de reais tem potencial para gerar algum nível de corrupção mesmo que mínimo. Então qualquer empresário que se associar a essa obra em qualquer etapa, sabe que alguém pode estar cometendo algum crime ,mesmo por hipótese, então poderá ser penalizado, pois pelo volume de recursos ele assumiria o risco de um crime que possa ser cometido. Isso me parece algo direcionado para arruinar com o país. Esse juiz  é um técnico, não um intelectual, portanto, isso deve ter sido engedrado por outras pessoas, acho que o Moro está comendo pela mão dos outros.

  6. Uma grande obra de bilhões de

    Uma grande obra de bilhões de reais tem potencial para gerar algum nível de corrupção mesmo que mínimo. Então qualquer empresário que se associar a essa obra em qualquer etapa, sabe que alguém pode estar cometendo algum crime ,mesmo por hipótese, então poderá ser penalizado, pois pelo volume de recursos ele assumiria o risco de um crime que possa ser cometido. Isso me parece algo direcionado para arruinar com o país. Esse juiz  é um técnico, não um intelectual, portanto, isso deve ter sido engedrado por outras pessoas, acho que o Moro está comendo pela mão dos outros.

  7. Perseguidores e perseguidos

    A população do Brasil em geral(a manada?) elogia , aplaude e se orgulha da operação lava a jato que investiga os crimes de corrupção envolvendo a Petrobrás e outras estatais. No entanto , a esquerda somente vê as falhas dos procedimentos dos agentes da justiça. As ações nada republicanas dos envolvidos e investigados praticamente não é comentada  e muito menos repudiada. Por que será?

    1. Será caro coxinha

      Por que quem tem mais de dois neurônios enxerga o golpe não a corrupção, mas apenas ao PT? Que os corruptos tucanos estão sendo olimpicamente ignorados pelos investigadores tucanos?

  8. Esse sistema de comentários e
    Esse sistema de comentários e o carregamento do site funcionam muito mal (pelo menos em smartphones. Ou pelo menos no meu.
    O carregamento da página é errático e o sistema não salva o comentário qd dá erro no envio.

  9. delação premiada é etiquetamento…

    e o juiz vai na onda sem precisar de provas

    é com o etiquetamento que todo criminoso é simplesmente o que o delator diz que ele é

    juiz não julga o que vem com etiquetas, só concorda com o delator

    tucanos estão se safando por aí e, para quem ainda tem dúvidas, é só trocar o juiz

    1. vítimas de um eterno etiquetamento…

      pretos, pobres, putas e agora petistas

      e mais: reparem que todo aquele que tem consciência da prática criminosa está negociando suas etiquetas

      como moedas de ouro

  10. lunático

    Existe uma diferença fundamental e intransponível entre ” mãos limpas ” e operação lava jato., O meio ambiente em que se desenvolvem. Na Itália se combateu  uma organização criminosa de efeitos e reconhecimento internacional, arraigada em solo italiano que causou repulsa por crimes contra a vida. Aqui, lava jato se originou de operação de crime singular,remessas ilegais de dinheiro que apontaram para operador contumaz, no caso envolvido com diretores da Petrobrás. Querer traduzir uma pela outra só sendo um lunático turbinado pelo pig e sua fixação para  destruir uma das maiores petroleiras do mundo, só por ter como acionista majoritário o estado brasileiro .Existem algumas semelhanças: agentes públicos, políticos e empresários . Ambas operações  combatem  crime . Para por aí. Novamente aqui se perde muito mais.na economia, em capacitação tecnológica e de empregos de qualidade , pelo descuido dos agentes envolvidos. O brilho nefasto dos holofotes do pig destruíram o limite do bom senso, seduzindo egos avantajados e infames 

  11. Inocente

    Um inocente que politicamente age e se apoia nos exemplos riquissimos do homem aranha e no batman.  Esperemos, mas o resultado sera negativo. A alianca com a revistinha do esgoto lhe sera fatal, como sria a qualquer que quizesse um minimo de seriedade.politico sem o saber, deixa de ser juiz.

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