Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Nomes tradicionais e instituições de Estado, por André Araujo

ESTADO é tradição, é essa a raiz que une os elos de um Estado, talvez por isso Países ricos e sólidos como EUA, Reino Unido, Alemanha e França NÃO mudam nome de seus Ministérios e Departamentos, de seus bancos e organismos

Foto UOL

Nomes tradicionais e instituições de Estado

por André Araujo

O Brasil cultiva o abandono da tradição como valor. As instituições do Estado não podem, a toda hora, mudar de identidade, perdendo referência junto a população. Abolir o Ministério da Fazenda, que tem dois séculos é um mau exemplo, o nome é uma marca forte e simbólica.

O Ministério da Fazenda do Reino Unido tem um nome antiquíssimo CHANCELLOR OF THE EXEQUER, significa Chanceler do Tesouro, o mesmo nome há 800 anos, na Marinha comanda o Primeiro Lorde do Almirantado, nome que vem do Reino de Elizabeth I, há 500 anos.

Nosso Ministério da Justiça e Negócios interiores teve esse nome desde a fundação do Estado brasileiro, hoje mudou o nome para Ministério da Justiça e Segurança Pública, para que? Justiça já engloba o conceito de Segurança Pública, não precisa alterar nada, é coisa caipira demais mudar nomes.

A Secretaria da Justiça do Estado de São Paulo, que teve titulares célebres, mudou o nome  para Secretaria da Justiça e Cidadania, para que? Significa o quê? Cidadania é um termo vago, tudo é cidadania, mas também não significa nada de objetivo, porque esse vontade em enfeitar?

É caipirice, provincianismo. Os nomes das instituições são um patrimônio do Estado, não podem ser mudados a toda hora, criando mais confusão do que outra coisa, não se ganha nada com mudança de nome de organismos tradicionais, que são marcas, emblemas, símbolos, emblemas do Estado.

Estado é liturgia e pouco mais que isso, como dizia o Rei Jorge V ao seu filho Eduardo VIII, que se queixava da liturgia, acaba a liturgia, acaba o Estado.

O DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM tem longa e bela história. Tinha sua própria Revista, era uma marca, mudou-se para DNIT, para quê? Ganha-se o quê com isso? Perdeu-se um nome histórico, forte, simbólico, ganhou-se o quê? O caipirismo não conhece limites.

O tradicional Ministério da Educação e Cultura ficou conhecido como MEC, uma marca forte, tão enraizada que até hoje existe a Rádio MEC, oficial.

O Ministério dos Transportes tem nome não tão antigo, antes era da Viação e Obras Públicas, mas o MT solidificou seu nome e marca, agora muda-se para Infraestrutura, para quê? Perdeu-se a marca de mais de 60 anos e continua-se a falar nesse Ministério como dos Transportes, então porque mudar? A infraestrutura desse Ministério é relacionada com transportes, a expressão INFRAESTRUTURA é rum como marca, mudança para nada.

Dirão que o Ministério passou a ter mais tarefas, mas e daí? O mesmo nome de Ministério pode ter tarefas aumentadas sem mudar o nome.

Já dentro dos Ministérios há uma infinidade de nomes fluídos, nebulosos, são centenas de COORDENADORIAS DE GESTÃO ou de COMUNICAÇÃO SOCIAL, como se alguma comunicação pudesse ser não social, nomes vagos, sem marca, uma cortina de fumaça para empregar comissionados sem muita qualificação.

Por todo o Governo Federal, também em Estados e Municípios, muda-se nome de Secretarias históricas, como simples capricho ou vontade de alguém aparecer porque inventou um nome novo para um órgão tradicional. Isso tudo é muito brega, muito tosco, é coisa de gente pequena, gentinha.

O BNDE foi fundado em um momento histórico, para quê agregar um S muitos anos depois?  Uns malucos tentaram mudar o nome da PETROBRAS, marca fortíssima, a toda hora aparecem políticos e burocratas que acham que mudar nome é uma realização, até de ruas, pontes e prédios. Que ignorância!

Nosso também antigo e tradicional MINISTÉRIO DA AGRICULTURA virou da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para quê? Agricultura já pressupõe pecuária e abastecimento, está implícito, não é preciso ser tão descritivo, as pessoas não são retardadas. O Departamento da Agricultura dos EUA tem esse nome desde que existe o País, ninguém cogita em mudar, nada muda de nome de Ministérios em países clássicos, de gente culta.

Abusou-se também de MINISTÉRIOS DE DESENVOLVIMENTO, teve o de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, ridículo, bastava o tradicional INDÚSTRIA E COMÉRCIO, depois o de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, outra aberração, nomes extensos ninguém guarda, não precisa ser tão descritivo, todos esses temas podem ficar em um Ministério de nome simples, como de Assuntos Sociais, marcantes e de simples memória.

Por outro lado, extinguiu-se um Ministério tradicional, o do TRABALHO, que existe internacionalmente. Nos Estados Unidos, o DEPARTMENT OF LABOR, criado em 1913 tem 17 mil funcionários, tem relevantes funções na segurança do trabalho, é incompreensível que no Brasil tenha sido extinto e colocado no guarda-chuva do Ministério que cuida do capital. Há um antagonismo de funções, de visão e de cultura para órgãos que cuidam do trabalhador e órgãos que cuidam do capital. Em nenhum País importante o TRABALHO está sob o guarda-chuva do Ministério da Economia.

A identidade de instituições é algo tão formidável que o Ministério das Relações Exteriores se mudou do Palácio Itamaraty há 59 anos e continua sendo chamado de Itamaraty, da mesma forma que o Ministério do Exterior francês é o Quai d´Orsay, o da Itália é o Palazzo Chigi e o da Argentina é o Palacio San Martin, a Fundação Oswaldo Cruz é conhecida como Manguinhos, bairro da entidade, símbolos são marcas identitárias, só primitivos desconhecem.

A escolha de nome de Ministérios exige cultura e respeito à tradição. Esse novo Ministério da Mulher tem nome extenso e complicado que ninguém vai lembrar. Os nomes de instituições devem ser o mais simples possível, para marcar a identidade e o respeito à tradição, tradição que é um ativo do Estado.

ESTADO é tradição, é essa a raiz que une os elos de um Estado, talvez por isso Países ricos e sólidos como EUA, Reino Unido, Alemanha e França NÃO mudam nome de seus Ministérios e Departamentos, de seus bancos e organismos, deixam essa prerrogativa para píises atrasados que acham que é chique a toda hora mudar nomes de suas instituições. A breguice não tem limites e não tem cura, é um estado de espirito de primitivos.

 

 

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

4 Comentários

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  1. O André esquece de alguns detalhes, aqui vai apenas um: quais serão as empresas que imprimirão todos os novos papéis timbrados dos novos ministérios? Está lembrado das eleições?
    E quanto ao nome, e sigla, dos ministérios, impossível não lembrar do “Ministério Extraordinário da Reforma e Desenvolvimento Agrário”.

  2. A elite(?) de Pindorama é reconhecidamente brega.
    Exemplo mais eloquente do que o Sr. que é o atual inquilino do Palácio dos Bandeirantes

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