O homem e sua sombra: lenda pós-republicana de Natal, por Fábio de O. Ribeiro

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O que ocorre após o fim de cada história?

A história humana não tem fim. Ela sempre recomeça ou está fadada a transitar de uma fase a outra. Eterno retorno ou preservação recalcada de relações sociais que não foram inteiramente destruídas?

No Brasil a escravidão foi abolida cinco meses depois do Natal de 1887. Mas os senhores de escravos continuaram a ser senhores de suas outras posses e os escravos ficaram livres para não usufruir qualquer propriedade além de seus próprios corpos. Na fase atual os descendentes dos primeiros mandam sem ser eleitos e os que vieram das bolas dos “outros”  são diariamente conjurados a não mais votar no PT. Impossível dizer o que ocorrerá ao Brasil se um novo presidente petista conseguir ser eleito…

Como é Natal, não falarei de política. Falarei de literatura, universo em que ao fim de cada história uma nova pode ser composta com os mesmos personagens.

Após o fim de suas histórias, dois personagens resolveram se encontrar. Ebenezer Scrooge e Dorian Gray dispensam apresentações. O primeiro se tornou generoso ao descobrir o destino cruel que sua sombra estava destinada a suportar. O segundo foi obrigado a se identificar com a sombra horrível que ele havia mantido aprisionada num quadro enquanto desfrutava artificialmente por décadas juventude e prestígio imerecidos.

– Não seja pessimista, Dorian. Tudo vai melhorar – disse Scrooge.

– Economise seu otimismo, Scrooge. Não sou seu sobrinho e posso perfeitamente suportar o peso de minha existência vil. Além disso, nunca fui capaz de acreditar num futuro melhor – respondeu Dorian Gray.

– Compreendo sua amargura, eu também já fui amargo. Tudo passa, meu jovem. Todo ser humano pode renascer e se tornar melhor.

– Eu desfrutei a juventude por tempo demais, Scoorge. Mas no fundo já havia me tornado mais velho que você no exato momento em que resolvi matar para preservar o meu segredo.

– Apesar disso não somos muito diferentes – insistiu Scrooge.

– Muito pelo contrário, meu caro.  Nenhuma semelhança jamais poderá existir entre nós dois. Você transitou do ódio ao amor, mas o fez apenas por temor. Quanto a mim, desde que me tornei um assassino não temo ser a encarnação viva do ódio que se recusa a deixar de transitar entre os homens – respondeu Doriam Gray.

Antes que seu interlocutor pudesse dizer algo mais, Dorian Gray se levantou.

– É certo que não posso mais renascer e rejuvenescer. Mas nem por isso desejo envelhecer em paz, meu velho. Até nunca mais.

Quando Dorian já estava há alguma distância, Scrooge gritou:

– Onde o senhor vai?

– Ao Brasil – respodneu Dorian Gray.

– Fiquei sabendo que aquele país é agora governado por meu melhor discípulo. Há alguns dias ele teve a ousadia de dizer que pode fazer mal à população justamente porque é impopular. What absence of character…. I really need to meet Michel Temer and eventually enjoy the beauty of his young wife. After all, she likes old bastards and I am a prince compared to her miserable nasty husband.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

2 Comentários

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  1. Para Lourdes Nassif
    Este post serve para balizar o alerta que fiz à Lourdes Nassif, no Facebook, que o novo formato iria abalar o que sempre diferenciou, de forma positiva, o blog de Nassif dos demais; falo da interatividade, intercomunicabilidade e o sucesso dos temas diversos, culturais e de formação de pensamento.

    Nenhum comentário, provavelmente poucas aberturas deste link. E, não se trata apenas da data não ser favorável. Acompanho e observo analiticamente o blog há tempos para poder afirmar tais elementos.

    Com o novo formato, o blog caminha para se tornar, tal como os outros, apenas um jornal de política e economia, independentemente da vontade dos seus administradores.

    Morre o luis nassif online, fica o GGN.

    Parabéns, Fábio, pelo post e perfeito link entre Temer e a personagem do livro de Oscar Wilde.

  2. wilde

    Apenas uma observação.

    Aproximar o provisório de um personagem do Wilde é puxar muita brasa para sua sardinha.

    Temer, no máximo, seria uma mosca revoando o Retrato.

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