Para a esquerda, só há solução na democracia, por Roberto Amaral

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Mídia Ninja
 
 
Por Roberto Amaral
 
A história recente do Brasil mostra que, por aqui, a arma da direita sempre foi o golpe de Estado
 
Uma das características mais distintivas da história brasileira é seu caráter recorrente, uma sequência de farsas e tragédias, um perverso processo circular que retarda o desenvolvimento em seus diversos patamares, seja econômico, seja político, seja social.
 
Não foi por acaso, e sem consequências para nosso futuro presente, que tenhamos conquistado a Independência sem a luta pela independência, negociando-a junto aos bancos ingleses e aos embaixadores do império britânico, do qual Portugal era um protetorado pouco levado a sério.
 
Não terá sido por mero acaso – muito menos por capricho dos deuses – que tenhamos sido o único império do continente e a última nação a livrar-se da escravidão. Em seguida, instalou-se a República sem povo, sem voto, valhacouto da preeminência dos militares e da oligarquia rural que, com os olhos voltados para as bolsas de mercadoria de Londres, comandaria o País, emperrando seu desenvolvimento, até a “revolução” de 1930.
 
Coube a este movimento civil-militar fraturar a aliança entre paulistas e mineiros, produtores de café e de gado, defensores da economia agroexportadora, desapartada dos interesses do País e, principalmente, do seu povo. E ainda hoje, o bancário que chefia a Fazenda sonha com o retorno a uma economia fundada na exportação de commodities, in natura.
 
Na raiz dos problemas sociais e estruturais que acompanham a história do país desde a colônia está o caráter alienado de sua classe dominante, cujos interesses e ganhos jamais estiveram dependentes ou vinculados ao desenvolvimento nacional.
 
Nas primeiras décadas do século passado nossa população era predominantemente rural, e nossa economia subordinada aos preços internacionais do café, avessas as “elites” econômicas e políticas à industrialização, e resistentes a qualquer proposta de desenvolvimento que pudesse ameaçar as estruturas econômico-políticas que asseguravam seu mando.
 
É sobre esse cenário que começa a se configurar o que se poderia chamar de classe-média urbana (os funcionários públicos, os pequenos e médios comerciantes, a intelectualidade emergente, etc.) e os jovens militares. No ano da Semana de Arte Moderna (1922), se encontram os sentimentos moralistas da classe-média com a inquietação da jovem oficialidade simbolizada no Levante do Forte de Copacabana (naquele mesmo ano), a primeira de uma série de irrupções militares que se disseminam ao longo das décadas seguintes, até o golpe de 1º de abril de 1964, o vestibular da ditadura militar que só conhecerá termo em 1985. Com o levante, surge o “tenentismo”, de que são filhos a Coluna Prestes (1924) e mesmo a “revolução” de 1930, que se desdobra (1937) no Estado Novo, a ditadura que vai até 1945.
 
A preeminência dos militares, avalizadores dos governos oligárquicos, vem de longe. Ela se estabelece, institucionalmente, a partir do golpe de 15 de novembro de 1889 – um acontecimento dos militares, só deles, isto é, sem povo e sem republicanos, que, ao derrubar a monarquia, instaurou a República dos grandes proprietários de terra. A República curatelada, arrimada em um processo eleitoral censitário e corrupto, buscava legitimidade em um alistamento que não abarcava nem as camadas médias da população. Em 1894, na primeira eleição direta para presidente da República, o candidato vitorioso, Prudente de Morais, elegeu-se com cerca de 270 mil votos, o que representava menos de 2% da população brasileira.
 
Essa democracia sem povo e sem voto sobreviverá até 1930, ano da revolução varguista que se transformará em ditadura em 1937 e se estenderá até 1945, quando Getúlio Vargas, o ditador, é deposto por um golpe militar arquitetado e executado pelos mesmos generais que o haviam levado ao poder discricionário.
 
Essa introdução tem o propósito de pôr de manifesto o encontro do combate despolitizado à corrupção com os golpes de Estado, de base militar ou não, como o de 2016. Um dos temas centrais do levante de 1922 era a denúncia da corrupção eleitoral e o pleito de um sistema eleitoral “justo”, ou seja, sem fraude. Estabelece-se entre os militares, majoritariamente, a crença de que os males do País residiam na corrupção, tema que logo foi absorvido pelas correntes políticas de direita, que dominariam o debate politico, e passam a frequentar os quartéis.
 
Assim, o combate à corrupção se transforma em instrumento político de apelo à ruptura constitucional, invocada como necessária a sua erradicação, quando seu objetivo tem sido o de impedir o ascenso de governos chamados de “populistas” por ensejarem  a emergência das massas.
 
O azimute que unifica as forças conservadoras (auto nomeadas como “liberais”) é a “moralização dos costumes políticos” (cortina de fumaça para o golpismo) que, a partir principalmente dos anos 50 do século passado, passa a contar com a ação da grande mídia. Seu papel, de sempre, mas que se acentua principalmente após a redemocratização de 1946, é a construção do discurso ideológico unificador do pensamento conservador-reacionário, fundado no combate à corrupção, na manipulação dos conceitos de ética, liberdade e democracia, na renúncia ao projeto de construção de um país independente economicamente e soberano politicamente.
 
Cumpre-lhe (1) criar as condições subjetivas para o golpe (de que a direita lança mão sempre que se vê ameaçada em seus interesses) e, (2) na sequência, legitimá-lo, mediante a construção autônoma da narrativa: em 2016 (contra o lulismo), como em 1954 (contra Vargas, o homem e o que ele representava), como contra Juscelino Kubitschek nos idos do desenvolvimentismo (1956-1961), como na preparação de 1964, contra o homem João Goulart e o que ele representava de promessa de desenvolvimento nacional autônomo, distribuição de renda e de emergência das massas, o eterno fantasma a povoar os pesadelos das classes dominantes.
 
Não há nada de novo sob o céu.
 
A partir do governo constitucional e democrático de Vargas (1951-1954) e até a derrocada do lulismo (2003-2016) registra-se o avanço do pensamento de centro-esquerda, caracterizado pela emergência das massas associada ao projeto de desenvolvimento nacional autônomo, teses inaceitáveis para a direita brasileira, sobretudo pelas chamadas “elites” econômicas, rentistas, encasteladas na Avenida Paulista, de onde comandam a sonegação de impostos, a corrupção e o suborno. Seguem-se os golpes e a mesma justificativa: o combate à corrupção.
 
A vitoriosa campanha contra Vargas (1954) centrava-se na denúncia de um “mar de lama” que correria nos inexistentes “porões” do Palácio do Catete, sede do governo.
 
O quinquênio de Juscelino foi anatematizado como reino da corrupção, desde o primeiro dia, e voltou a ser alvo de inquéritos na ditadura militar. Nada, porém, como no caso de Vargas, seria comprovado, mas o presidente, cuja posse fôra contestada pelos militares em uma tentativa de golpe (novembro de 1955), teve de enfrentar dois levantes militares e cerca de 10 pedidos de impeachment. Seu sucessor, o candidato da direita, Jânio Quadros, o efêmero, carregava como símbolo de campanha uma vassoura e como mote “acabar com a roubalheira”.
 
João Goulart já era combatido, como “corrupto” e chefe de “pelegos” desde seu tempo de ministro do Trabalho (1953-1954) e desde sempre acusado de “populista” pois seu grande “crime”, insusceptível de sursis, era ser “o herdeiro de Vargas”, o cadáver que resistia à morte política. Em seu governo avançaram os esforços visando à emergência das massas e à efetivação de uma politica externa independente, herdada,  alias,  de seu antecessor, e exatamente por essa razão incompatibilizado com as correntes mais reacionárias de seu bloco de apoio. A longa campanha contra Jango (iniciada mesmo contra sua posse, que os militares tentaram impedir em 1961) acusava seu governo de subversivo e corrupto.
 
A denúncia da corrupção é o aríete sempre usado, até aqui com sucesso, pela direita brasileira, para inviabilizar os governos progressistas.
 
Em 1963, assim como Lula em 2017, Juscelino Kubitscheck aparecia com 43,7% das intenções de voto para as eleições presidenciais de 1965. Tem  início, então, uma grande campanha dos grandes jornais da época (já lá estavam O Globo e o Estadão) acusando o ex-presidente de corrupção. A denúncia, sem provas, mas cheios de “convicção” seus detratores, era um apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro, de propriedade do empresário Sebastião Paes de Almeida, alugado por JK. Mas, diziam os detratores, o proprietário real era JK, e o milionário Paes de Almeida um mero ‘laranja’.
 
Provas? Dona Sara, esposa de JK, havia sido vista no apartamento durante as obras e presidira a decoração. Implantado o golpe de 1964, JK foi humilhado em inumeráveis inquéritos dirigidos por coronéis sem história, e foi cassado. E as eleições diretas de 1965 se transformaram nas indiretas de 1985.
 
A campanha contra JK nos ajuda a compreender a onda de ódio e intolerância, de ódio de toda sorte, de ódios vítreos e de ódios hepáticos, de ódio mesmo, puro ódio, como aquele que se alimenta no preconceito e na irracionalidade, o ódio de classe e o ódio que simplesmente não se explica, mas sempre um ódio mortal, violento e virulento, que procura destruir com, o político, o símbolo, o líder, o grande eleitor, e, se necessário, o homem.
 
Se a arma da direita é, sempre foi, o golpe de Estado e a ditadura, não há, porém, para o povo, para os trabalhadores, para o país, para a política e para a economia, alternativa fora da democracia representativa. Não há saída fora das eleições, que, ao invés de esvaziar ou pôr em questão,  devemos defender com unhas e dentes, com a consciência de que estaremos defendendo a única saída de que dispomos.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. Pois é, fico imaginando QQ
    Pois é, fico imaginando QQ liderança do PT chamando para um revolução.
    Seria a solução perfeita para os golpistas taxarem o partido como associação terrorista.
    Não a toa insistem em dizer que as instituições funcionam normalmente. Não deixa de ser verdade, as instituições sempre oprimiram os vulneráveis e protegeram a elite podre. Os lojistas estão aí pra isso. Quando o STF prestou para o povo? Para o país? Quando o executivo olhou para os mais necessitados? Quando a mídia foi nacionalista? Não somos um país, somos um amontoado de gente. Sem solidariedade, alimentando um ódio recíproco dia a dia……

  2. Fantástica resenha histórica.

    Fantástica resenha histórica. Um justo e triste resumo da historia da republica brasileira, na vespers de ser consolidado mais um crime contra o futuro do Brasil, como um pais autonomo e independente. E a saida mesmo assim deverá ser o voto!

  3. Para a esquerda, só há solução na democracia, por Roberto Amaral

    Parafraseando o anedótico “não li e achei irrepreensível”, li e achei irrepreensível.

    Com a extensão adequada ao formato expõe claramente a história do poder político no Brasil com suas mazelas recorrentes e, daí, permitindo fazer várias considerações sobre como é levado o Orçamento Nacional, atestado anual das políticas a proteger os donos do poder – Raimundo Faoro – em detrimento da grossa maioria do povo brasileiro.

    Com o governo humilhante que temos, levado aos extremos com o congelamento dos recursos sociais, ressalvados os “direitos” dos aliados do momento, liberando francamente a transferência de bilhões aos donos do poder nacional.

    Além da entrega descarada do patrimônio nacional, natural e construido, aos interesses externos. Não há mais vergonha, ética, nacionalismo. 

    Viramos o prostíbulo do mundo. Qualquer um vem, paga e leva. Os cafetões pegam sua parte e tudo corre normal.

    Falar em FFAA e suas prerrogativas constitucionais de defender os interesses legítimos da nação chega a ser piada tal o descomprometimento com a nacionalidade. Dá para entender sua proximidade com interesses classistas de determinados extratos sócio-econômicos mas não o entreguismo descarado que vivemos.

    O aparato judicial, com as honrosas exceções – assim se tornaram os cumpridores da lei  ! – apesar de todo seu ímpeto legislativo acoelha-se vergonhosamente ao mandato da mídia como, ambos, partícipes do mascaramento do sempre lembrado ataque à corrupção.

    Os desavisados, ingênuos, e outros da estirpe, levados ao niilismo pela idiotização diária da mídia nem se dão conta da realidade que nos subjuga.

    Um horror.

     

     

  4. Em termos

    “Esquerda”? Lula se diz esquerdista mesmo trocando “participação política” ou “participação nos assuntos do estado” por “acesso ao mercado de consumo”.

    O que parece mais justo seria dizer que as pessoas que detêm hoje poder sobre o capital, especialmente o capital baseado no dólar estadunidense, não querem nem ao menos a inclusão do nosso povo naquele mercado. Em outras palavras, não querem o povo incluido no capitalismo. Pode-se dizer, sem errar, que o que a “esquerda” quer é a inclusão das pessoas no… capitalismo?! Que esquerda é essa?!

    Talvez, se assumíssemos que o projeto das chamadas “esquerdas” é um projeto no máximo de social-democracia numa sociedade que não só admite como incentiva práticas capitalistas mas sem deixar de adotar políticas socialistas, a adesão a Lula (ou a outro candidato das chamadas “esquerdas”) poderia aumentar.

    Aliás, talvez melhor mesmo seria trocar o termo “socialista” no parágrafo acima por “sociais”, já que tanto o termo “esquerda” quanto o “socialista” (e suas derivações como socialismo, socialização etc.), causam forte repulsa inconsciente – portanto involuntária, efetiva e irresistível – em grande parte de nossos cidadãos democratas, pessoas que admitem e até desejam, por exemplo, educação e saúde públicas universais de boa qualidade e gratuitas, pessoas que preferem se acreditar capitalistas mas que, ao mesmo tempo, vêm no estado democrático ( este, uma instituição naturalmente, vocacionalmente voltada para o atendimento à sociedade) uma forma de aprofundar e disseminar o capitalismo.

    Tome-se como exemplo fictício alguém cujo avô era udenista, a pai arenista – portanto alguém que tem hoje uma posição privilegiada, teve a oportunidade de frequentar universidade e rodas onde se cultiva a inteligência e é, muitas vezes, pessoa formadora de opinião – mas que percebe que o capitalismo como aplicado aqui só tem trazido “choro e ranger de dentes”, uma pobreza infinita tanto em todos os sentidos que a termo “pobreza” pode abranger quanto em todas as esferas sociais, da individual à nacional. Como essa pessoa vai se olhar no espelho e ver a cara que ela associa à esquerda, a cara de quem foi ensinada a não gostar (de Olga Belinário, Alexandra Kolontai, Angela Davis, Lênin, Che Guevara etc.)? Além da associação inconsciente entre ser pobre e ser esquerdista: aquela pessoa tem, por aprendizado, horror em se ver como se fosse pobre!

    A ideia, em resumo, seria tornar mais palatável a um número maior de pessoas, incluindo aqui pessoas que, por estarem na chamada classe média média, não se sentem confortáveis em apoiar governos que se dizem esquerdistas por meros limites linguísticos, mas que acreditam que sem políticas de cunho socialista… ops! de cunho social, social, social (tá bom?) jamais sairemos da pobreza e jamais obteremos prosperidade, soberania e independência nacionais… liberdade, enfim.

  5. Para….

    O Brasil é de muito fácil explicação. Só há solução na Democracia? Então não tivemos a tal nestes 40 anos Redemocratizantes. E a tragédia está explicada. Este país só teve Democracia pelas Mãos Libertárias do Povo Paulista, que tirou o país de um período medieval e o trouxe até a vanguarda de uma República Livre, Facultativa, Democrática. Escolhida através do Voto. O mesmo Povo Paulista que havia extinguido a Escravidão, através Elite Plural, Intelectual e Democrática formada a partir da Faculdade de Direito do Largo S. Francisco, no centro da cidade de São Paulo. Quantos Negros e Mulatos, não se formaram Doutores, Intelectuais, Escritores a partir de suas Catedras, enquanto em outros países, a escravidão e racismo perduram até os dias de hoje?  Não à toa o mesmo Povo e Elite Política que concretizava a Industrialização do país e mais à frente irá exigir o Nacionalismo e a Fundação da Petrobrás. Ao invés da elite lacaia do Império atrelada aos interesse ingleses. Elite Parasitária do Estado Medieval (alguma semelhança com nossa esquerdopatia dos últimos 25 anos?)  O abismo se formou e tornou-se intransponível. Não é à toa deste período vanguardista, progressista e vencedor são nossa mais renomada Elite Intelectual e Cientifica: Santos Dumont, Carlos Chagas, Padre Landell de Moura, Emilio Ribas, Oswaldo Cruz, Vital Brasil, Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, os Modernistas,…Neste periodo do inicio do século, os Povos de países atrasados e falidos, quintomundistas em relação à Nação Brasileira, que mais crescia e se desenvolvia no Planeta, desesperadamente lotavam Navios na ânsia de se tornarem Brasileiros. A miséria, mas também a esperança, chegava através de Alemães, Japoneses, Ucranianos, Sirios, Turcos, Libaneses, Russos, NorteAmericanos, Italianos, Suiços, Poloneses,….Tudo isto foi destruído com a Ditadura Caudilhista apoiada por Elite Esquerdopata mancomunada por Quartéis Militares. Não é coincidência Carlos Prestes e Getulio Vargas serem crias de Quartéis. E Movimentos Ditatoriais oriundos simultaneamente. Nem coincidência que o mesmo símbolo deste atraso e mediocridade, apesar de ter a Mulher, enviada pelo Ditador, para Campso de Extermínio Nazistas, se aliou ao Caudilho e teve função em seu Governo. Governo que mandou fuzilar Estudantes da Faculdade do Largo S. Francisco (lembram dela?) desarmados, que exigiam Liberdadew, Democracia, Leis e Constituição. Governo que implantou Eleições Ditatorialmente Obrigatórias. Que implantou Imposto Sindical Obrigatório, que perdura até hoje. Ou seja, que agradou as Elites Esquerdopatas que o apoiaram e o rotularam Pai dos Pobres. Quanto agrado a um Ditador. Por que será? E só agora que descobriram que somente existe solução na Democracia? Por que será? “Conheceis a Verdade. E a Verdade Vos Libertará” (P.S. Inclusive quando tentam CENSURÁ-LA)  

  6. ” Para a esquerda só há

    ” Para a esquerda só há solução na democracia”.

    É por acreditar nisto que estão todos se fodendo.

    A ÚNICA solução que sobrou foi a armada com assasinatos seletivos de golpistas, sejam juízes, procuradores, ministros do stf, políticos, empresários, jornalistas, etc

    Quando comecarem a sumir talvez respeitem um pouco mais o povo e o país.

  7. Retratos do Brasil (a república popular das margens)

    Da INTRODUÇÃO do livro “DA MONARQUIA À REPÚBLICA – MOMENTOS DECISIVOS”, de EMÍLIA VIOTTI DA COSTA, Ed. Unesp, São Paulo, 2007 (copyright de 1998), 8ª edição revista e ampliada, páginas 15 a 19 (“nova edição, revista e ampliada, com um capítulo adicional sobre as mulheres no século XIX”, informação de capa). 

    “A exemplo dos bacharéis, os novos grupos urbanos – até mesmo os setores “industriais” em formação que aparecem no fim do Império – não chegaram a desenvolver uma política independente. Dessa forma, os grupos que se poderiam ter definido como uma oposição foram, de uma maneira ou de outra, integrados no sistema, assimilando o estilo de vida e as aspirações das classes dominantes. 

    Análogo fenômeno de cooptação ocorreu em relação aos poucos mulatos e pretos que, graças a seus talentos, conseguiram tornar-se famosos advogados, escritores, jornalistas, engenheiros ou políticos de renome mediante o sistema de patronagem. Segura de suas posições, controlando a mobilidade social e imbuída de uma concepção hierárquica do mundo, que ratificava as desigualdades sociais e postulava obrigações recíprocas, a elite brasileira não precisou recorrer a formas explícitas de discriminação racial (Capítulo 9). Mulatos e negros foram, na sua maioria, “naturalmente” segregados por um sistema socioconômico de dinamismo moderado e de limitadas possibilidades. Os que foram incorporados à elite, pela via do sistema de clientela, adquiriram automaticamente o status de branco, identificando-se – não obstante a ambiguidade de sua situação – com a comunidade dos brancos. Tal foi a sorte de homens como o novelista Machado de Assis, o poeta Cruz e Souza e o engenheiro André Rebouças. 

    Através do sistema de clientela e patronagem as elites brasileiras consolidaram sua hegemonia sobre os demais grupos sociais – o que contribuiu em parte para a estabilidade relativa do sistema político. Ainda mais importante para a manutenção dessa estabilidade foi a contínua expansão da economia de exportação, favorecida pelo crescimento do mercado internacional no decorrer do século XIX, e a crescente demanda de produtos tropicais. O desenvolvimento econômico, no entanto, teve efeitos contraditórios. Ao mesmo tempo que conferiu relativa estabilidade ao regime, assegurando a sobrevivência da economia agrária e exportadora, estimulou a urbanização e o desenvolvimento do mercado interno, gerando cisões entre setores da elite. Os debates na Câmara e no Senado a propósito da Lei de Terras (Capítulo 4) e da política de mão-de-obra (Capítulos 4 e 5) revelam, já nos meados do século, os primeiros sintomas dessa cisão que se agravaria a partir de 1870.

    A expansão do mercado internacional e a revolução no sistema de transportes abriram novas possibilidades para a agricultura brasileira no século XIX. O desenvolvimento da agricultura cafeeira em Minas, Rio e São Paulo tornou urgente a solução de dois problemas interdependentes: o da mão-de-obra e o da propriedade de terras. Os fazendeiros das áreas novas, preocupados com a iminência da abolição do tráfico de escravos e esperando encontrar na imigração a solução para o problema da força de trabalho, propuseram uma legislação com o objetivo de impedir o acesso fácil à terra e de forçar os imigrantes ao trabalho nas fazendas. Os setores mais tradicionais, apoiados por alguns intelectuais europeizados que se identificavam com o pensamento ilustrado, defendiam uma política colonizadora baseada na dsitribuição de pequenos lotes aos imigrantes, aos quais encaravam não como substitutos dos escravos, mas como agentes civilizados. A Lei de Terras de 1850 reforçaria, no entanto, o poder dos latifundiários em detrimento do pequeno proprietário. As tentativas iniciais de substituir os escravos pelos imigrantes falharam. Os fazendeiros de café continuaram a abastecer-se de escravos, comprando-os em áreas do país em que a economia estava decadente. A partir de 1850, porém, a criação de novos tipos de investimentos (estradas de ferro, bancos, manufaturas, melhoramentos urbanos) tornou cada vez menos produtiva a imobilização do capital em escravos. As transformações no processo de beneficiamento de café, fabrico de açúcar, produção do charque e a melhoria dos meios de transporte permitiram uma relativa racionalização do processo de produção, tornando o trabalho livre mais viável e aparentemente mais lucrativo em certas áreas. O aumento da pressão abolicionista nos centros urbanos, a promulgação de leis emancipacionistas no Parlamento e, finalmente, a agitação dos escravos, que passaram a contar com o apoio de parte da população, acabaram por desarticular a economia escravista. Diante do que lhes parecia um processo inevitável, os fazendeiros das áreas mais progressistas voltaram-se para os imigrantes (Capítulo 8). Promovida por brancos e por mulatos e pretos que tinham sido assimilados pelas elites, a abolição liberou os brancos do peso da escravidão e abandonou os ex-escravos à própria sorte. Os maiores beneficiários foram, uma vez mais, as elites e a sua clientela. 

    O progresso econômico da segunda metade do século XIX acarretou profundo desequilíbrio entre poder econômico e poder político. Concebido em 1822, o sistema político parecia pouco satisfatório aos setores novos, na década de 1880. As novas elites urbanas não se sentiam suficientemente representadas e os fazendeiros das áreas cafeeiras mais novas, que produziam boa parte da riqueza do país, sentiam-se peados pelas estruturas políticas do Império. O Partido Republicano recrutou adeptos nesses grupos sociais insatisfeitos. Republicanos e abolicionistas adotaram um estilo político novo. Pela primeira vez, a política saía dos limites estreitos dos conchavos familiares para a praça pública. Os políticos falavam às populações urbanas. Os poetas e escritores voltaram a falar do povo, redescobrindo-o, como fonte de inspiração. Apesar dessas tentativas de mobilização popular, a República se faria como a Independência se fizera – sem a colaboração das massas. O novo regime resultaria de um golpe militar. Nos meios republicanos, a estratégia conspiratória prevaleceu sobre a estratégia revolucionária. O Exército apareceu aos  olhos das novas elites como o instrumento ideal para derrubar a Monarquia e instituir um novo regime que as colocasse no poder.  Desde a Guerra do Paraguai, setores do Exército se indispuseram com o sistema monárquico. Convencidos de que os políticos civis eram corruptos, entenderam que cabia aos militares uma missão regeneradora, de salvação nacional. Nada mais natural, pois, do que a aliança entre esses setores militares e os republicanos, aliança que culminou na derrubada da Monarquia (Capítulos 10 e 11). 

     

    Este breve sumário dos capítulos que se seguem permite concluir que, a despeito das transformações ocorridas entre 1822 e 1889, as estruturas socioeconômicas da sociedade brasileira não se alteraram profundamente, nesse período, de modo a provocar conflitos sociais mais amplos. O sistema de clientela e patronagem que permeava toda a sociedade minimizou as tensões de raça e de classe. O resultado desse processo de desenvolvimento foi a perpetuação de valores tradicionais elitistas, antidemocráticos e autoritários, bem como a sobrevivência de estruturas de mando que implicam a marginalização de amplos setores da população. 

    Em 1893, quando a República brasileira dava os seus primeiros passos, Silvio Romero denunciava o novo regime como incapaz de fundar no Brasil “uma república democrática livre”. Comentando o comportamento das elites políticas brasileiras de seu tempo, dizia:

    E depois este sistemático desdém pelo povo, declarado incompetente para fazer a escolha de seus representantes políticos e acoimado de vícios no manejo desse direito… é nada menos do que a pretensão desairosa e extravagante de dividir ainda e sempre a maioria válida de uma nação em dois grupos – de um lado os privilegiados, os possuidores sem monopólio das luzes e da dignidade moral, e de outro lado, os ineptos e viciados, os incapazes de qualquer ação política acertada! Àqueles, o governo, a direção, o mando, aos outros a eterna tutela, a minoridade, a incompetência perpétua. O regime do privilégio na sua mais recente edição, porém sempre o privilégio, queremos dizer o abuso e a compressão. 

    E mais adiante prosseguia:

    Este banqueirismo governativo não passa de uma aristocracia do dinheiro, de um patricialismo do capital, a mais viciada e bastarda de todas as aristocracias.¹

    Alguns anos mais tarde, em 1910, na mesma linguagem candente, Silvio Romero comentava:

    Ignorância, pauperismo, miséria, opressão reinam por toda parte… Temos sido apenas o joguete do capital estrangeiro, sôfrego por emprego a bons juros e de certas corporações ou indivíduos postos por eles a seu serviço. 

    Criticando o processo de ilusionismo posto em prática pelas elites de então, ele continuava implacável em sua denúncia:

    Este sistema de iludir e consolar é consciente ou inconscientemente mantido pelos poderosos desfrutadores da política e do trabalho do povo brasileiro. Não lhes convém que a nação abra os olhos porque no dia em que ela tiver a vista clara de sua deplorável situação… ruirá por terra a infamante politicagem bloquista que nos avilta.²

    O fato de que essas palavras – e outras hoje impublicáveis -, enunciadas nos primórdios da República, possam ser endossadas por um radical de nossos dias revela que, apesar das profundas transformações que a sociedade brasileira atravessou no século XX, alguns problemas fundamentais não foram resolvidos. E a luta de Silvio Romero em prol de uma visão mais objetiva da realidade brasileira permanece atual e oportuna. 

    Reunimos neste volume ensaios escritos em diferentes momentos, sobre temas vários relativos à história do Brasil. Nasceram eles de uma preocupação que lhes dá unidade: a de entender a fraqueza das instituições democráticas e da ideologia liberal, assim como a marginalização política, econômica e cultural de amplos setores da população brasileira, problemas básicos do Brasil contemporâneo. Na abordagem dos temas procuramos evitar as explicações mecanicistas, que, por apresentarem os homens como meras vítimas de forças históricas incontroláveis, acabam por isentá-los de qualquer responsabilidade. Assumindo que dentro das determinações gerais do processo histórico há sempre uma relativa margem de liberdade, examinamos o comportamento das elites brasileiras em alguns momentos decisivos de nossa história. 

    1  Parlamentarismo e presidencialismo na República brasileira. Rio de Janeiro, 1893, p. 56. 

    2  Provocações e debates. Porto: Livraria Chardon, 1910, p. 109 e 395. “

     

    Discurso da meritocracia como sustentáculo da desigualdade de acesso a bens e direitos, autoritarismo na distribuição e posse da terra, mentalidade escravocrata no trato com o tema da mão-de-obra (trabalho e trabalhadores), desenraizamento social e cultural das elites nacionais, cooptação dos setores potencialmente oposicionistas ao status quo, desmobilização popular e das massas pelos sistemas de clientela e patronagem. Olha nós aqui traveis! 

    O país do golpe de 2016 não surgiu por geração espontânea e suas raízes devem ser buscadas na história da formação das estruturas sociais, econômicas, políticas e culturais deste país de muitos nomes. Para o que a professora Emília Viotti da Costa é uma das cicerones mais habilitadas, não apenas por sua capacidade de síntese acessível ao cidadão comum mas por ter existido por tempo suficiente para experimentar o desenrolar dessa história, que registra com a responsabilidade dos verdadeiros intelectuais. 

     

    Obs.: Destaques em negrito no texto reproduzido ausentes do texto original, apostos por mim. 

    Curiosidade histórica tragicômica sobre nossa circularidade regressiva: A partir da República de 1889 nosso país passou a se chamar “República dos Estados Unidos do Brasil”. Apenas a partir da Constituição de 1967 passou a ser chamado de República Federativa do Brasil. (http://www.dw.com/pt-br/h%C3%A1-50-anos-brasil-deixava-de-ser-estados-unidos-do-brasil/a-37946427). Militarismo e identificação insalubre com os EUA, os legados persistentes do golpe militar que instaurou nossa República, não podia mesmo ter dado certo. 

    QUERELAS DO BRASIL – com Elis Regina (de Aldir Blanc e Maurício Tapajós)

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=ArZXqgNabmQ%5D

    https://www.youtube.com/watch?v=ArZXqgNabmQ

     

    SÓ OS COXINHAS – com Marina Lima (de Marina Lima e Antonio Cícero)

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=E_w1gPbbnZw%5D

    https://www.youtube.com/watch?v=E_w1gPbbnZw

     

    “POUT-PORRI DE SAMBAS 1965” – com Elis Regina e Jair Rodrigues 

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=qGsCmB7ejL4%5D

    https://www.youtube.com/watch?v=qGsCmB7ejL4

     

    Trechos de algumas músicas do pout-pourri:

    “Quando derem vez ao morro toda a cidade vai cantar (…)” [“O morro não tem vez”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes]

    “Feio não é bonito / [Porque] o morro existe mas pede pra se acabar / Canta, mas canta triste / porque tristeza é só o que se tem pra contar / Chora, mas chora rindo / porque valente nunca se deixa quebrar  /  Ama, o morro ama / amor aflito, amor bonito que pede outra história”  [“Feio não é bonito”, de Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri].

     

     

    Sampa/SP, 10/03/2018 – 16:28 (alterado às 16:43 e 16:58)

  8. LP quer ir para o Monte Pascoal….

    Achei….estou vindo de um toró de idéias no post  Ministro anuncia que Temer vai acabar com o Bolsa Familia até abril

    https://jornalggn.com.br/noticia/ministro-anuncia-que-temer-vai-acabar-com-o-bolsa-familia-ate-abril

    Eu havia dito por lá mas apaguei e trouxe para cá para não atrapalhar o trânsito…

    É você Dona LP, sigla para Luana Piovani, heim…aqui atuou como manifestoche e agora, diante da violência que será crescente face ao Desmonte do Monte Pascoal, quer se mandar para…Portugal ou….Uruguai….

    que me pira…com ficar calado diante de tanta hipocrisia…ou seria burrice mesmo….como pode a mesma pessoa que odiava o Brasil seguindo seu projeto de grande pais de classe médica sic médica sic de novo…ou seria médica mesmo…ah sim….esses salafrários também ajudaram também a detonar o Brasil Monte Pascoal….

  9. Eu mesmo preciso sair desse

    Eu mesmo preciso sair desse encantamento virual sic virtual e…ir para o Monte Pascoal….aquele povo nem sabe que estou falando aqui…falando deles….: por menos tempo na rede e mais no morro….

    Procurar algum Comitê em Defesa de Lula e da Democracia…foi assim quando da luta pela libertação de Mandela e não será diferente se quisermos tirar Lula das masmorras do general Mourão sic Moro, tanto faz….

     

     

  10. Comitê no Monte

    Comitê no Monte Pascoal

     

    http://www.pt.org.br/rosilda-andrade-de-goiania-go-e-um-comite-em-defesa-de-lula/

     

    Rosilda Andrade, de Goiânia (GO), é um comitê em defesa de Lula

    Moradora da capital de Goiás atua em defesa da democracia e do direito de Lula ser candidato! 08/01/2018 19p9Arquivo pessoal

    Rosilda Andrade de Goiânia

    Leia mais

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    Cada canto do Brasil, cada casa, associação estão se tornando comitês populares e fortalecendo a luta pela democracia. A defesa de uma Justiçaimparcial e do direito de Lula ser candidato passa por milhares de ações individuais e coletivas daqueles que querem de volta o Brasil inclusivo e democrático. A moradora de Goiânia Rosilda Andrade também vai participar do janeiro de luta.

    “Eu sou mais um Comitê Popular em Defesa da Democracia e do Direito de Lula ser Candidato.
    Os Comitês Populares não são necessariamente um espaço físico. São Comitês simbólicos em Defesa da Democracia”, vibrou Rosilda Andrade.

    Comitês Populares

    Os Comitês Populares em Defesa da Democracia e do Direito de Lula ser candidato à Presidência da República são uma articulação com o objetivo de envolver os movimentos sociais, populares, sindicais, artistas, sociedade civil e toda militância petista, assim como os partidos do campo democrático e popular.

    “Desde o golpe sofrido após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, é preciso organizar a classe trabalhadora e setores médios da sociedade para a manutenção do processo democrático”, define a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann.

    Da Redação da Agência PT de Notícias

     

     

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