Perseguir Almirante Othon visa desmoralizar o esforço nuclear, por Toledo, Oliveira e Schutte

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil
 
 
Jornal GGN – Os professores de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Demétrio Toledo, Flávio Oliveira e Giorgio Schutte publicaram artigo na Folha de S. Paulo explicando porque os Estados Unidos têm interesse na prisão e condenação do Almirante Othon. Arrastado para a Lava Jato por causa de Angra 3, o pai do programa nuclear brasileiro foi sentenciado a 43 anos de cárcere, uma pena “desproporcional” em função de sua avançada idade, dizem os autores, mas que explicita as intenções dos “lavajateiros”.
 
“É na confluência entre autonomia tecnológica, independência energética e garantia da soberania nacional que os interesses internacionais na prisão do almirante Othon se fazem presentes. O que este em jogo não é apenas o desenvolvimento de tecnologia nuclear pelo Brasil, mas também a aquisição dos meios navais que garantirão o controle das reservas de petróleo e gás brasileiras”, comentaram.
 
“O uso do recurso cômodo de colocar o trabalho de Othon inteiramente sob suspeita de corrupção cumpre a função de desmoralizar todo o esforço científico nuclear nacional”, definiram. 
 
Na Folha
 
“Limpeza” do programa nuclear em nome do quê?
 
Em artigo publicado no dia 9/11 nesta Folha, Matias Spektor, arguto estudioso das relações internacionais, desconsidera o contexto global das investigações relativas a desvios no programa nuclear brasileiro e a prisão do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, 78.

Em nossa opinião, não é possível compreender esses eventos sem levar em conta o jogo pesado da política internacional e os atores que possam ter um interesse em retardar ou mesmo inviabilizar o desenvolvimento da tecnologia nuclear pelo Brasil.

O programa nuclear brasileiro é um dos mais importantes esforços de desenvolvimento tecnológico nacional. O domínio dessa área, com aplicações não apenas militares, mas também nos setores de energia, saúde, agricultura, indústria e pesquisa científica e tecnológica, pode contribuir para a autonomia do Brasil.

Por meio de seu Programa de Desenvolvimento de Submarinos, a Marinha do Brasil empregará a tecnologia nuclear para propulsão de um submersível que no futuro se somará aos quatro outros submarinos de propulsão convencional que serão incorporados à frota militar.

Eles desempenharão papel central na defesa da área oceânica brasileira, a Amazônia Azul. Com aproximadamente 4,5 milhões de km2, não é tarefa fácil garantir a soberania nacional sobre área tão vasta, na qual se localizam enormes reservas de petróleo e gás.

É na confluência entre autonomia tecnológica, independência energética e garantia da soberania nacional que os interesses internacionais na prisão do almirante Othon se fazem presentes. O que este em jogo não é apenas o desenvolvimento de tecnologia nuclear pelo Brasil, mas também a aquisição dos meios navais que garantirão o controle das reservas de petróleo e gás brasileiras.

O ataque a Othon desconsidera, ingênua ou propositalmente, essas características, e esquece que o Brasil, como membro pleno do Grupo de Fornecedores Nucleares (NSG), já tem reconhecida sua confiabilidade como país que desenvolve um leque de conhecimentos no campo dos materiais e do manejo industrial nesse campo.

Mais importante: para se beneficiar da condição de membro do NSG, o esforço brasileiro deveria se intensificar nos próximos anos para desenvolver tecnologia autóctone e competir com os “big players’ internacionais, como EUA, França, Rússia e China.

O furor “lavajatista” não consegue entender que o combate que qualquer país democrático empreende contra a corrupção não deve desconsiderar os interesses estratégicos mais amplos.

Não se tem conhecimento de governos de qualquer outro país destruindo suas próprias empresas ou desmoralizando seus cientistas em nome de uma suposta “limpeza”. O Brasil faz isso justamente em um momento em que deveria aprofundar seu desenvolvimento tecnológico-industrial.

O almirante Othon dedicou sua vida à construção de um país soberano. A pena de 43 anos com prisão preventiva à qual foi condenado em primeira instância é, sob qualquer ótica, desproporcional.

Ao não considerar os eventuais interesses internacionais, resta apenas uma narrativa moralista e persecutória incapaz de compreender o quadro mais geral da geopolítica mundial.

O uso do recurso cômodo de colocar o trabalho de Othon inteiramente sob suspeita de corrupção cumpre a função de desmoralizar todo o esforço científico nuclear nacional.

DEMÉTRIO G. C. DE TOLEDO, FLÁVIO ROCHA DE OLIVEIRA e GIORGIO ROMANO SCHUTTE são professores de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC)

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

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  1. Apenas um equívoco no artigo.

    O setor Lava jatista, tem plena consciência do que está fazendo. Othon, foi um dos primeiros condenados, pois esta era uma das missões deste setor. A Oderbrecht também não esta neste foco pela corrupção, ou sonegação. Pois obviamente setores mais corruptos e megasonegadores, não ficaram no foco. O ponto central é :1) a influência geopolítica da Oderbrecht, 2) A oderbrecht, estava trabalhando tanto no programa de satélites, de mísseis e do submarino nuclear.

    Não acredito em coincidências, e basta olhar os focos centrais da espionagem da NSA, no caso Snowden. Othon foi e continua sendo um alvo. A condenação a mais de 40 anos é de fato uma pena de morte para quem desafiou tantos interesses estrangeiros. E a lava jato e os juizes que o julgaram sabem disto e tem consciência disto.

    1. Moro e os EUA

      Moro e seu bando da LavaJato são criminosos. O ex-procurador geral do Estado de SP, Márcio Sotello, listou os crimes judiciais cometidos por Moro no processo contra Lula. Querem destruir a reputação de Lula, pois sabem que Lula defenderá os interesses do Brasil. Portanto, Lula é inimigo dessa turma da LavaJato.

      Moro e a LavaJato formam um bando que está a serviço dos interesses dos EUA. Cometem crime de Lesa Pátria.

  2. Lava jato não lava nada
    Não lava, não faz justiça ,não moraliza o país. Como entender que esta gente inescrupulosa associada a interesses estrangeiros, destruindo nossos mais expressivos valores, nossas maiores realizações políticas, nossas maiores empresas, nosso ordenamento jurídico, nossa economia, poderia ter algum valor moral? E pensar que isto, “esta porra” como definiu Jucah, é devido a simbiose de um juiz e um doleiro turbinados pela mafiosa mídia nacional e colaboração de país interessado nos resultados atingidos. Estamos em processo de destruição nacional inimaginável. Nos falta prover justiça e reconhecimento ao valoroso brasileiro Almirante Othon Pinheiro da Silva.

  3. E a Marinha?

    Curioso observar qual foi o comportamento da Marinha em relação à criminalização, julgamento e condenação do almirante Othon.

    Para entender é preciso recordar a famosa gravação da conversa do atual líder do “governo” no Senado Romero Jucá com Sérgio Machado: “Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar”.

    Ora, o que fez a Marinha em relação ao caso Othon? Uma impassível cara de paisagem. Limitou-se a notas oficias de mero teor protocolar.

    As Forças Armadas ficaram devendo uma explicação à sociedade brasileira sobre as declarações do senador Jucá. Em relação a elas não houve indignação nos quatéis, não houve declarações exaltadas de nehum general, não houve nenhuma nota do sempre falante e enfático Clube Militar, não houve sequer um comentário no twitter. Este silêncio ficará registrado na História. Da mesma forma, o silêncio da Marinha em relação ao caso do almirante Othon.

    Nossas Forças Armadas necessitam de uma transformação profunda. Transformação das Forças Armadas já!

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