Um exemplo de pedagogia moderna em uma partida de basquete, por Luis Nassif

O que se espera de um estudante do ensino básico, além da capacidade de ler, escrever e fazer cálculos? Dá para listar uma infinidade de objetivos.

Para mim, os essenciais são:

  1. Visão sistêmica.

Capacidade de analisar um problema por inúmeros ângulos.

  1. Saber identificar o problema e a solução.

Saber definir qual é o problema e qual é o resultado a ser alcançado. Por isso me encanta o novo modelo pedagógico, de ensinar as crianças através de da busca de solução para projetos concretos. Em cima do desenho do projeto, a escola trata de incluir o conteúdo pedagógico exigido pelo MEC. Para a criança, é uma maneira objetiva de mostrar a utilidade do ensino.

  1. Não se ater ao conteúdo pedagógico.

Hoje em dia, há um mar de informações disponíveis. A criança precisa aprender a recorrer a elas, sem perder o foco do trabalho. É o que fizeram os alunos que ocuparam as escolas estaduais em São Paulo, convidando especialistas para ministrarem palestras nos fins de semana na SUA escola. Tiveram mais sensibilidade pedagógica que os diretores.

A estratégia da Luizinha

Faço essa introdução, para me permitir um momento de corujice.

Percebi o potencial da minha primeira caçula, a Luiza, quando, aos 11 anos, conseguiu um feito que nem minha secretária havia conseguido: organizar minha biblioteca de CDs com um sistema de catalogação de gente grande. Tudo desenvolvido de forma intuitiva.

Sabia que aquelas qualidades, no ambiente corporativo, seriam muito consideradas.

Admirava também seu espírito de liderança como capitã dos times de futebol de salão e basquete da Escola Pacaembú, onde completou o ensino fundamental.

Lembro-me da Zizi Possi, cuja filha Luiza fazia parte do time, encantada com a garra a o espírito de liderança da minha Luiza.

Agora, pelo WhatsApp, ela envia para o pai e as irmãs um trabalho encontrado no seus arquivos, do planejamento dos jogos na Pacaembú. Ela estava no 3º ano, portanto tinha entre 9 e 10 anos.

No planejamento, ela pensa em todos os detalhes.

Primeiro, cria o marketing do time: Six Star of Basquete.

Depois, define a posição das jogadoras em campo.

Passa para a definição das cortes do uniforme: azul e verde.

Cria um hino para o time:

Olha lá no céu

Quem está surgindo

São as SIX STAR

Que vieram

Para ganhar!

Tenho certeza de que essa história de vir do céu ela tirou das Menininhas Superpoderosas, desenho popular na época.

O passo seguinte é passar as principais regras para o time.

A regra dos 3 segundos dentro do garrafão. Só a capitã podendo pedir intervalo quando o time adversário estiver com o seu lance livre.

Não se esquece da importância do estado de espirito do time:

LEMBRE-SE !!!

Você tem que se sentir grande para ter posse de bola.

Mire no quadrado da cesta

Tenha fé em você mesma !!!

Na sequëncia, os alertas: cuidado com faltas, com o seu passe de bola, com a marcação etc. E “discução” (com cedilha) com o juiz, que estava no 3º ano apenas,.,

Na sequência, alertas:

PREVINA-SE

Quando você estiver com a bola, e mesmo assim estiver marcada, coloque sua mão do lado da bola. MAS SEM ENCOSTA NELA para prevenir e pegada do outro jogador.

Preste atenção na bola e não na pessoa.

Não seja “fominha” com a bola e passe para alguém que não esteja marcada.

Se a Lia falar algo, não discuta com ela.

E, finalmente, o grito de guerra.

SEM VOCÊ, O TIME NÃO ANDA

Tempos depois, foi estudar no Colégio Galileu. Foi disputar um campeonato e lá fomos nós, os pais corujas, assistir.

Luizinha não era mais a capitã e estava aliviadíssima. No time havia várias jogadoras boas e ela não tinha mais a responsabilidade de segurar sozinha a onda do time.

Minha primeira caçulinha se tornou uma bela chefe de equipe, querida pelos colegas  e respeitada pelas chefias.

O que a Luiza fez foi intuitivo, não aprendeu na escola.

O planejamento do jogo comprovou que até nas tarefas mais prosaicas – como um campeonato de futebol ou de basquete na escola – pode ser motivo para a nova pedagogia, do ensino através de projetos. Basta uma política inovadora das diretorias pedagógicas, devidamente assimiladas e multiplicadas pelas políticas públicas.

 

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. Menina Super Poderosa

    O que você espera de um estudante do ensino básico e que a sua Luiza sempre teve, é um dom. E esperar que todos tenham é pedir muito.

    Dom, você sabe, nasce-se com ele. Se não se  usa perde-se, se sufocado corrompe-se , se mal utilizado, perverte e se desenvolvido, faz maravilhas.

    Vocês têm razão de “corujar” .Talvez tenham servido de exemplo.

    No mais, pedagogia, você sabe, é uma questão política e econômica.

    Dependendo do momento político que se vive é mais ou menos interessante termos cidadãos conscientes.

    Dependendo do interesse  econômico investe-se na formação que sirva a algum propósito de controle.

    Sobre as Meninas Super Poderosas, vejo como um dos desenhos mais geniais da animação moderna.

    Aliado aos Padrinhos Mágicos, veio dar um grande alívio aos desenhos de heróis violentos,  esquisitões e ao exagerado sexismo havido nos cartoons modernos.

    Do alto da minha infância tardia não durmo sem assistir a pelo menos um deles.

  2. Essa “grande novidade” da
    Essa “grande novidade” da pedagogia de projetos está toda lá no nosso querido Paulo Freire. Não é nenhuma invenção recente.

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