Visita Íntima: o tesão que incomoda, por Samuel Lourenço

Foto Advogado em Goiania

Visita Íntima: o tesão que incomoda

por Samuel Lourenço Filho

Presos transam, presos mantém relações sexuais seja com seus parceiros, cônjuges ou até com outros presos, seja em relação hetero ou homoafetiva. Visitantes recebem orientações do Serviço Social, realizam todo procedimento burocrático e gozam, em todos sentidos possíveis, da visitação íntima, que confesso aqui: nem sempre é uma visita para fins de relação sexual. O casal às vezes cansa e a visita íntima é um momento para dormir juntos apenas.

Não faz muito tempo, circulou na rede algo dito por um profissional da imprensa, recomendando visitação íntima entre figuras importantes da politica nacional. Enquanto preso, já vi o verdadeiro amor bandido, mas um amor presidenciável seria a primeira vez. E a questão é a seguinte: Qual o problema da visita íntima?

Mas antes de tudo, cabe a pergunta: o preso em questão tem um lugar específico para esse fim? A carceragem da Federal possui um espaço para esse tipo de visitação, reconhecido na Lei de Execução Penal? Nas cadeias, existem espaços anexos à prisão ou dentro da galeria onde presos possuem um horário reservado para a atividade sexual. Não seria o problema a Dilma ir ter uma visita intima com Lula, que não configura atividade sexual, a questão é se na carceragem possui a estrutura necessária, se a equipe técnica já conversou com ambos. Pois do contrário, não é assim, sair entrando e transando.

Lembro da burocracia que era para um casal poder ter um período de visitação intima na cadeia. Olha… A burocracia e todo procedimento era uma literal atrasa foda, uma empata transa, algo que parece ser feito para dificultar o momento particular do casal. Seja entre visitante e visitado ou presos de presídios distintos. Amigos meus, que foram presos com a esposa, conseguiam o “direito a transa” com um tempo de tranca.

Outra parada curiosa envolvendo a “visita íntima” era os remédios utilizados. Era muito azulzinho comercializado na cadeia. Enquanto o agente caça maconha na galeria, comprimidos para disfunção erétil é vendido clandestinamente a moda culha na prisão. Já vi preso consumir aquilo e a vista faltar e o cara andar “armado” na cela o dia todo, a gente ria, óbvio. Mas em geral, presos no ápice do culto à sua santa masculinidade, consumiam o remédio por medo de broxar.

Preservativos aromáticos, hidratantes dos mais variados, cremes… As vezes só uma roupa de cama bem limpa e a certeza de horas de sono em segurança e em paz. Nem tudo é só sexo.

Quando falta toda essa estrutura, a atividade é realizada em qualquer lugar improvisada, conhecida como ratão ou cabana. No pátio de visita, um canto é separado e uma cabana é montada. As vezes é o banheiro que fica separado. Uma mesa de concreto, é cercada por cobertas e um distanciamento assegura uma relação sexual rápida mas cheia de emoção, pois por conta da ilegalidade o guarda pode vir e acabar com tudo. Eis o empata aí.

Em questões homoafetivas existem presos que transam na cela, isso é algo muito restrito, um tanto quanto raro, mas acontece. O cara ou a mina não precisa de submissão à burocracia externa, mas passa por um crivo local. Todo mundo gosta de se meter na transa do outro, que foda!

Quando circulou a desrespeitosa recomendação de visita íntima,  fiquei a flanar por tudo o que narrei acima. Inclusive lembro de um filho que tinha visita intima com a mãe,  na verdade ele conversava com ela em particular, coisa que não dava pra fazer no pátio superlotado da carceragem. Para fins de uma boa conversa, atividade sexual, ou até mesmo uma boa dormida, a visita íntima é algo terapêutico. Talvez seja isso que falta ao moço que recomendou, não só sexo ou boa conversa, talvez um bom período de soneca na compahia de alguém lhe faça bem.

Do tempo que fiquei preso, todas as vezes que vi meus amigos retornarem da visita íntima, os vi voltarem aliviados. Talvez por um papo legal, fora da agitação da visita. Talvez por conta da atividade sexual ou até mesmo por dormirem em paz, afinal, nem tudo é sexo. No fim, é isso que deve incomodar alguns.

Samuel Lourenço Filho – Cronista, palestrante, egresso do Sistema Prisional, aluno de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social -UFRJ

Samuel Lourenço Filho

2 Comentários

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  1. Tá Feia a Coisa

    Ô, GGN!

    Não basta a baixaria do boechat da band, do jusias da foia, do noblat da globo, sem falar dos centenas ‘bocas-de-lôbo’, vomitando ofensas, difamações e asneiras, a tudo que diz respeito ao PT, Lula, Dilma e por aí segue, agora temos o GGN permitindo esse aproveitador de última hora, de novo tentando anabolizar suas experiências carcerárias, nas costas de Lula e agora de Dilma também,da forma mais que escabrosa, troglodita e nauseabunda. 

    Era só o que faltava, acordem, pois pra tudo tem um limite, a decência ética.   

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