Vivemos a distopia, por Henrique Matthiesen 

Transformamos a essencialidade da existência em meros objetos de consumo: afetos são consumo; sonhos são consumo; projetos são consumo; construções são consumo.

Vivemos a distopia

por Henrique Matthiesen 

Sem utopia a existência humana se apequena e se mediocriza tornando-se mera insignificância biológica. Relativiza-se o sentido perdendo horizontes e perspectivas. 

Mais do que uma discussão filosófica é importante examinar algumas constatações, apontar saídas, fazer reexames.

O grande escritor e pensador Frei Betto alenta-nos sobre a urgência e a gravidade do resgate utópico. Darcy Ribeiro, genial ser humano que mesmo diante das graves enfermidades de um câncer, jamais abandonou suas utopias; além de Paulo Freire, outro sonhador. 

Contudo foi Thomas More por meio de seu livro Utopia, de 1516, e inspirado pelas escritas de A República, de Platão, criou a concepção de uma sociedade “perfeita” de uma alta-civilização e a expressão tornou-se sinônimo de uma sociedade ideal.

Contemporaneamente coexistimos com a distopia. Transformamos a essencialidade da existência em meros objetos de consumo: afetos são consumo; sonhos são consumo; projetos são consumo; construções são consumo.

 Paralelamente a esta nova concepção distopica abandonamos o sentido da coletividade e personificamos a existência na presunção do culto ao eu. 

A clássica expressão O sonho acabou torna-se a centralidade dos usos e costumes desta nova geração prática, despolitizada, desenraizada e desutopizada inversamente das gerações advindas que se caracterizaram pelos sonhos e que, hoje, não são mais balizadoras pois não conseguem nem convencer, nem mobilizar, nem sensibilizar e muito menos romper esta lógica.

Vivemos uma profunda mudança de era, de paradigmas e de conceituações onde não dimensionamos a profundez destas mutações que dão um novo contorno civilizacional.

Contudo, verificamos que a distopia tem produzido abismos maiores de desigualdades, de irracionalidades, de desumanidades.

A doença do século XXI é a depressão e a perda paulatina da historicidade é a constatação inequívoca da desesperança e os sintomas mais agudos da distopia, seja política, cultural, social.

É preciso subverter esta lógica dominante de objetivar tudo em produto, em consumo em mercado.

A existência humana não é um produto. É sua vivência e não se pode reassumir em consumo, em estatísticas mercadológicas.

O resgate da utopia é essencial para rehumanizarmos a sociedade sem clichês, sem palavras de ordem carregadas de vazios, sem projetos personalistas.

A idéia de Thomas More, ao criar sua ilha da utopia, é uma utopia sim, mas uma boa utopia, afinal a utopia nos auxilia a andar para frente, a enxergar e buscar novos horizontes.

Henrique Matthiesen – Bacharel em Direito. Pós-Graduado em Sociologia.

Redação

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  1. Em 1847, Marx escreveu na obra Miséria da Filosofia:

    “Chegou, enfim, a época em que tudo aquilo que os homens tinham considerado como inalienável tornou-se objeto de troca, de tráfico, e pode ser alienado. É a época em que as próprias coisas que até então eram transmitidas, mas jamais trocadas; dadas, mas jamais vendidas; ganhas, mas jamais compradas — virtude, amor, opinião, ciência, consciência, etc. — tudo passou enfim para o comércio. É a época da corrupção geral, da venalidade universal ou, para falar em termos de economia política, a época em que todas as coisas, morais ou físicas, tornando-se valores venais, são levadas ao mercado para serem apreciadas pelo seu mais justo valor”. – Karl Marx

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