Caça às Bruxas, por Frederico Rochaferreira

Ora, todos que não rezam na cartilha político-ideológica de Bolsonaro são sumariamente punidos e humilhados.

Caça às Bruxas, por Frederico Rochaferreira

Tão logo assumiu o governo brasileiro, Bolsonaro deu início a um desastroso movimento de perseguição política-ideológico, como tinha prometido na campanha. Ainda candidato, Jair Bolsonaro anunciava que se eleito, implantaria uma perseguição semelhante à ditadura, isto é, aquele ou aquela que pensar diferente deve ir “para fora do país ou para a cadeia”.

E foi exatamente o que fez o deputado federal oposicionista Jean Wyllys, depois que Bolsonaro venceu as eleições. Diante das ameaças de morte que se intensificaram depois do resultado das eleições, Jean abriu mão do mandato e deixou o país, simbolizando os anos de chumbo que o Brasil viveu sob o regime militar.

A prisão arbitrária e ilegal do ex-presidente Lula, contestada por por juristas, organismos internacionais e autoridades de diferentes países também estava na pauta do candidato. Falando a manifestantes em São Paulo, Bolsonaro disse: “Seu Lula da Silva, se você estava esperando o Haddad ser presidente para assinar o decreto de indulto, vou te dizer uma coisa: você vai apodrecer na cadeia.”

Logo depois de ser eleito, Bolsonaro deu início ao movimento de caça às bruxas. Em novembro de 2018, atacou violentamente o programa cubano Mais Médicos, levantando suspeitas sobre a formação dos profissionais de saúde de Cuba, dizendo que o programa servia tão somente para “alimentar a ditadura cubana”. Face aos ataques e a ameaça de extinção do programa, o governo de Cuba encerrou as atividades no Brasil, iniciada em 2013 no governo Dilma e que já havia atendido mais de 63 milhões de brasileiros carentes, em locais distantes, onde os médicos brasileiros se recusam a ir.

Em nota, o governo cubano disse: “Não é aceitável que se questionem a dignidade, o profissionalismo e o altruísmo dos colaboradores cubanos que, com o apoio de suas famílias, prestam atualmente serviços em 67 países. Em 55 anos, foram cumpridas 600 mil missões internacionais em 164 nações, das quais participaram mais de 400 mil trabalhadores de saúde”.

Na área da Educação, Bolsonaro promoveu uma cruzada contra as universidades federais promovendo cortes de verbas, reduzindo investimentos na área de Humanidades e expurgando reitores cujo pensamento não fosse de extrema direita. Diante dos intensos protestos de estudantes e professores que tomou o país, chamou-os de “idiotas úteis”.

No Banco do Brasil, Bolsonaro interveio mandando demitir o diretor de marketing da instituição, furioso com uma peça publicitária que tinha a participação de atores negros e uma atriz transexual, fazendo juz à fama de racista e homofóbico que conquistou ao longo da vida pública.

Agindo sem escrúpulos, o Presidente ordenou a troca de comando do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, (Coaf) em função da investigação contra seu filho Flávio Bolsonaro , que foi apanhado num esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Rio e mandou demitir sumariamente o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, (INPE) pela divulgação de dados que apontavam intensa devastação da floresta amazônica em julho, 278% maior que o registrado no mesmo mês de 2018.

Nem mesmo o presidente da ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, que não compartilha com suas ideias, escapou. Primeiro, Bolsonaro atacou a memória de seu pai, morto durante a ditadura militar, por entender que os torturados e mortos na luta contra a ditadura militar, não são vítimas, são terroristas, depois mandou a Petrobras encerrar um contrato que a estatal tinha com o escritório de advocacia de Santa Cruz.

A caça ideológica atingiu também a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, onde foi realizado levantamento para identificar funcionários filiados a partidos políticos de oposição sob as ordens do ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, o mesmo que sob as ordens de Bolsonaro, demitiu o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que divulgou dados sobre o desmatamento da Amazônia.

Ora, todos que não rezam na cartilha político-ideológica de Bolsonaro são sumariamente punidos e humilhados. Até mesmo os órgãos anticorrupção como o Coaf, Receita Federal e Polícia Federal, que cruzaram o caminho de sua família sofreram intervenção imediata, ou seja, esse movimento de caça às bruxas é um atentado à estrutura democrática do país.

Redação

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