Para médicos, é fundamental que chapas de progressistas vençam as eleições dos CRMs

Luís Nassif conversou com os médicos Arruda Bastos e Mario Mamede sobre as eleições para os Conselhos Regionais de Medicina.

Luís Nassif em conversa com os médicos Arruda Bastos e Mário Mamede
Foto: Reprodução TVGGN

A TVGGN conversou nesta quarta (9) com os médicos Arruda Bastos e Mário Mamede sobre as eleições do Conselho Regional de Medicina (CRM). Durante o governo Bolsonaro, houve inconstitucionalidades, negação da pandemia, conivência com uso da cloroquina e um nítido apoio ao ex-presidente. A preocupação agora é que, com as eleições, voltem a ocupar cargos no CRM médicos que ignoraram a crise sanitária que o país enfrentou.

Mário Mamede, médico ortopedista envolvido nos movimentos de direitos humanos e saúde do Ceará, acredita que deixar o Conselho Regional de Medicina nas mãos da comunidade médica reacionária é reviver os tempos obscuros da pandemia, onde a ciência foi praticamente ignorada em nome de ideias políticas de extrema-direita.

“O que existiu foi uma saída do esgoto daquelas pessoas que eram de extrema-direita, reacionários”, diz Arruda Bastos, médico sanitarista a respeito dos médicos bolsonaristas.

Tanto Arruda quanto Mamede acreditam que, em relação às eleições, é fundamental que chapas de oposição ganhem voz e espaço para tentar juntar os cacos que o bolsonarismo deixou na saúde.

“O conselho [de medicina] não tem atribuição política de fazer campanha para um candidato a presidência, de divulgar portarias apoiando tratamentos sem a mínima comprovação científica. Isso não é papel de Conselho Federal de Medicina”, critica Arruda.

“Se na covid, como na época da pandemia do H1N1 nós tivéssemos um conselho voltado realmente para a saúde, para a ciência, não tinham morrido essa quantidade de pessoas”.

Arruda Bastos, oncologista, sanitarista e coordenador geral da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia (ABMMD)

“Toda essa destruição na medicina brasileira, o afloramento dessas pessoas reacionárias de extrema-direita surgiu com o golpe na presidente Dilma”, afirma Arruda.

“Como que o Conselho Federal [de Medicina] pode ser contra a vacina? Contra medicamento que tem comprovação científica e ser a favor do que não tem? Como é que pode ser contra o uso de máscaras?, questiona Arruda.

Aborto, cannabis e Sus

Para Mamede, as eleições regionais tocam em pontos profundos das demandas da população brasileira. O tratamento com cannabis para doenças degenerativas, o aborto legalizado e a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) não são pontos que podem mais passar despercebidos pela comunidade médica.

“Nós queremos enfrentar todas as grandes discussões que estão hoje na sociedade. É inevitável a discussão do uso terapêutico da cannabis. […] Tratar a questão do aborto como um problema grave de saúde pública é uma discussão inevitável, porque estão sendo perdidas vidas de mulheres, sobretudo mulheres pobres de periferias de cidades”.

Mário Mamede, médico ortopedista, militante dos direitos humanos e da saúde

Além disso, Mamede afirma que, para que a defesa do SUS seja feita de forma digna, é fundamental que os conselhos tenham em sua composição médicos progressistas, já que muitos não defendem o SUS por interesses privados, como é o caso dos planos de saúde.

“Quem foi que aguentou o tranco na pandemia, que promoveu todo o processo vacinal e de enfrentamento da epidemia do covid evitando o genocídio e uma mortalidade maior?, questiona Mamede se referindo ao SUS.

De acordo com Mamede, é importante que não só os médicos, mas a classe média “que muitas vezes critica o SUS”, entenda a importância de se ter um sistema único de saúde que possa atender de forma equilibrada toda a população.

Assista à entrevista a partir dos 58 minutos

Isadora Costa

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