Hoje cantariam as Sibilas: a ganância uma névoa espessa sobre o cognoscitivo

Refugiados climáticos

As Sibilas, nos tempos atuais, estariam escrevendo um poema sobre alvoroço do tempo e da dor que o céu despeja sobre a terra. “Estamos fazendo da Terra um lugar mais dinâmico e violento”, disse Bill McKibben, fundador de 350.org, uma organização que reúne ativistas para enfrentar a crise climática.

Dias atrás publiquei um artigo afirmando que ninguém, nenhum lugar, está preparado para enfrentar as mudanças climáticas cujas conseqüências são muito mais graves do que as vãs notícias da mídia, muito mais imprescindíveis os planejamentos de ações concretas para a reversão e sustentabilidade por parte dos organismos mundiais e dos governos regionais e muito mais radical as mudanças de hábitos e cultura das sociedades do que supõem os ambientalistas. Ninguém e lugar nenhum está preparado porque serão preciso muito mais do que leis para equacionar os milhares de problemas advindos das mudanças climáticas. Tudo o que temos são “aspirinas” que nem as dores conseguem mais mitigar.

Lendo um artigo de Amy Goodman, apresentadora de Democracy Now!” um noticiário internacional diário, nos EUA, publicado no Carta Maior, pesquei uma solução simples mas que a sanha do capitalismo e os interesses em jogo jamais permitiriam. Goodmam fala da sugestão de Tove Ryding, do Greenpeace, durante o seu discurso na Conferência Nansen sobre Mudança Climática e Deslocamento realizada em Oslo na semana passada, na qual especialistas de diferentes países se reuniram para trabalhar sobre o crescente problema dos refugiados climáticos. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Antonio Guterres, advertiu para duas ameaças: os desastres de evolução lenta, como as secas e a desertificação, que chegam a “um ponto de inflexão no qual a vida e o sustento das pessoas se encontram seriamente ameaçados a ponto de não terem outra opção que abandonar seus lares”, e “os desastres naturais que arrancam de seus lares grandes quantidades de pessoas em questão de horas”.

Segundo Goodman, “uma das principais preocupações é que se negará um refúgio seguro para esses milhões, ou talvez bilhões, que são ou serão deslocadas de suas casas. Como Naomi Klein, uma verdadeira Paula Revere, advertiu recentemente: “A mudança climática é a maior crise de todas, e meu temor é que, se não formos cuidadosos, se não adotarmos uma visão positiva sobre como a mudança climática pode fazer com que nossas economias e nosso mundo sejam mais justos, mais habitável, limpo e equitativo, então essa crise será explorada para militarizar nossas sociedades, para criar continentes fortificados”.

No seu discurso, Ryding disse: “estamos falando aqui, de fato, de milhões de postos de trabalho ecológicos, de transformar nossas sociedades em sistemas de energia seguros, estáveis e baseados em energia renovável e eficiência energética”.

Pois então, a partir dessa frase tive uma utópica idéia já formulada e reformulada por sonhadores, artistas, filósofos, ecologistas, hippies e outros mais: se criássemos milhares de pequenas estações de produção de energia ecológica, seja através do sistema eólico, ou solar, seríamos capazes de criar milhões de novos postos de trabalho; se voltássemos nossa produção de alimentos para o sistema orgânico, em vez do industrial, estaríamos implantando um grande sistema preventivo de saúde e ampliando a qualidade de vida; se houvesse uma preocupação real e fundamental em recuperarmos as matas ciliares, teríamos, com certeza, água de melhor qualidade, menos assoreamento e erosão nos campos  e talvez a nossa poesia não falasse tanto de incandescência do sol nas florestas, lágrimas abundantes escorrendo do céu em lamento sobre a terra, águas de março arrasando o verão. Mas tudo isso é utopia. Um poema incompreensível para cérebros estáticos.

Hoje as Sibilas cantam: “Há um fogo imenso corroendo campos e cidades; há um frio imponderável congelando a oportunidade das flores; um deserto crescente despejando multidões dos lares antigos. Porque a estupidez é teimosa e ignorante e a ganância uma névoa espessa sobre o cognoscitivo”. 

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador