Para que não se esqueça, para que não se repita… Alexandre Vannuchi Leme

Nesse dia, o estudante de Geologia da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Vannuchi Leme, o Minhoca, assim apelidado por seus amigos, foi preso e levado para as dependências do DOI-CODI/SP.

da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

No dia de hoje…

Em 16 de março de 1973, as forças repressivas da ditadura militar sequestraram e encarceraram um dos protagonistas do movimento estudantil brasileiro. Nesse dia, o estudante de Geologia da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Vannuchi Leme, o Minhoca, assim apelidado por seus amigos, foi preso e levado para as dependências do DOI-CODI/SP.

No cárcere, Alexandre foi torturado por cerca de dez agentes, que se se revezaram por dois dias e, conforme testemunharam outros militantes presos no mesmo período, já no dia 17 de março, Alexandre foi morto em razão das longas sessões de tortura. As celas vizinhas à que se encontrava foram evacuadas e seu corpo arrastado pelos corredores do DOI-CODI/SP.

Os policiais tentaram ludibriar os demais militantes presos anunciando que Vannuchi haveria se suicidado utilizando uma lâmina de barbear furtada da enfermaria.

A certeza da impunidade e o controle sobre as informações, permitiu aos agentes, dias depois, se orgulharem de exibir aos presos uma manchete de jornal que noticiava a morte de Alexandre como vítima de atropelamento por um caminhão durante uma tentativa de fuga durante um suposto encontro com companheiros. Segundo relatado por testemunhas detidas, um dos torturadores responsáveis pelo assassinato de Alexandre Vannuchi, regozijava-se ao afirmar: “Nós damos a versão que queremos! Nesta joça mandamos nós!”.

A falta de informações e as versões falsas da morte de Alexandre tornaram a dor da família Vannuchi Leme, fundamentalmente de seus pais, Egle e José, um martírio. Em 20 de março, a família soube por meio de um telefonema anônimo da prisão do estudante, o que fez seu pai ir até São Paulo buscar informações sobre o paradeiro de Alexandre. Os agentes de segurança, mesmo sabendo que Alexandre já estava morto, passavam informações desencontradas ao senhor José, de forma que o pai não conseguiu encontrar o local e nem mesmo confirmar a suposta prisão de Alexandre. Em meio à angústia que viviam por não terem informações sobre o paradeiro do filho, no dia 23 de março, leram no jornal a notícia que não gostariam de receber: Alexandre Vannuchi Leme havia morrido em decorrência das feridas causadas por atropelamento de um caminhão, um dia após a sua prisão.

Recebida a trágica notícia, a família procurou o IML/SP a fim de fazer o reconhecimento e então sepultar seu ente querido. A arbitrariedade e a crueldade das estruturas do Estado para com a família repetiu-se, pois foi informado que não tinham mais o corpo; que Alexandre já havia sido enterrado como indigente no cemitério Dom Bosco em Perus, São Paulo/SP.

Grupos de estudantes e a Igreja Católica se mobilizaram e protestaram em virtude do assassinato de Alexandre, das mentiras apresentadas pelo Estado e do sofrimento da família por não conseguir realizar o sepultamento de seu filho.

Apenas após dez anos da morte de Alexandre, é que a família obteve o direito de transladar os remanescentes ósseos para Sorocaba, sua cidade natal, e respeitado o direito de realizar o sepultamento digno.

A coragem de Alexandre Vannuchi Leme contra o terrorismo do Estado brasileiro jamais será esquecida, assim como a força e grandeza de seus pais e familiares que batalharam contra a mentira e a omissão das forças de segurança responsáveis pelo assassinato de seu filho. Egle e José, apesar da dor e da revolta, transformaram o luto em LUTA. Eles são um dos exemplos das milhares de famílias brasileiras que seguem firmes pelo direito à memória, à verdade e justiça pelos seus entes queridos.

“Para que não se esqueça, para que não se repita.”

Fonte: Relatório CNV e Livro DMV.

Redação

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