Sexta-feira, 13 de março de 2015, por Luciano Martins Costa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

do Observatório da Imprensa

Manifestações de rua: Sexta-feira, 13 de março de 2015

Por Luciano Martins Costa

Nesta data, movem-se na Avenida Paulista, em São Paulo, no Rio e em outras cidades, parcelas significativas do diversificado ativismo político que se forma à sombra da crise institucional criada e insuflada pela imprensa. Curiosamente, observa-se nos jornais o pipocar de manifestações pelo desarmamento dos espíritos e alguns apelos em defesa dos valores da democracia. O contexto lembra aquelas situações no pátio do recreio, quando os alunos mais velhos provocam brigas de meninos e depois se veem obrigados a apartar os contendores.

Os eventos desta data são apresentados, pela mídia, como um “esquenta” para o protesto contra a presidente da República, marcado para o domingo (15/3). Como se sabe, esse é o divisor de águas no processo em que a oposição busca conquistar com o barulho das ruas o poder que não obteve pelo voto.

Aparentemente, o único dos grandes diários que ainda deposita algumas fichas na aventura do impeachment é a Folha de S.Paulo, cujo braço digital, o UOL, atua abertamente no estímulo ao protesto, incentivando os participantes a registrar imagens do evento.

Como sabem muito bem os editores do jornal paulista, essa iniciativa pode fazer uma enorme diferença, dando ao protagonista anônimo a chance de se destacar na multidão e ver referendada sua opinião por uma instituição da imprensa. O registro, por um portal de jornalismo, de fotos e vídeos produzidos pelos manifestantes, é uma apropriação da iniciativa dos “mídia ninja” e funciona como um reconhecimento da validade moral de delírios golpistas.

Folha provavelmente está de olho na oportunidade de se apresentar como o “jornal do impeachment”: vai que funciona, e em seguida seu departamento de assinaturas pode sair para a colheita.

Globo oferece em editorial uma reflexão pela defesa das instituições, apontando que “não há espaço mais no Brasil para surtos de autoritarismo, não importa de onde venham”. Curiosamente, na série de reportagens sobre o escândalo chamado de SwissLeaks, iniciada quinta-feira (12/3) pelo jornal carioca, revela-se que uma das agitadoras dos protestos contra a presidente da República é beneficiária de uma das contas suspeitas no HSBC da Suíça, suspeita de ser alimentada pelas fraudes no metrô de São Paulo.

A sombra da violência

Empresários e economistas têm manifestado preocupação com o risco de que a crise política venha a contaminar a economia, num momento em que o governo admite mudanças em seu programa e uma série de medidas essenciais à superação das dificuldades entra em discussão no Congresso. Paralelamente, as negociações com o Parlamento se encaminham para uma circunstância em que os interesses do país podem ser objeto de chantagem por parte de dirigentes do Congresso ameaçados pelo inquérito que apura a corrupção na Petrobras.

Estado de S. Paulo, que leva em seu caderno de “Economia&Negócios” o segundo maior contingente de leitores entre empresários, executivos e investidores, logo após o especializado Valor Econômico, tem apresentado nos últimos meses um conteúdo mais equilibrado, o que dá ao leitor a sensação de que o jornal criou uma espécie de muro interno, protegendo o noticiário econômico do ambiente contaminado das tramas políticas.

Esta sexta-feira, 13, transcorre ainda à sombra de possíveis confrontos. Algumas potenciais fontes de violência estarão soltas nas ruas: de um lado, os bate-paus da Força Sindical, comandada diretamente pelo deputado Paulo Pereira da Silva (Solidariedade/SP), e os ativistas do movimento intitulado Revoltados Online, que já foram associados aos “black bloc”; do outro, os militantes da CUT e os aguerridos participantes do MST.

A Polícia Militar tentava, ao longo do dia, fazer valer um acordo para evitar que as massas se choquem. Enquanto isso, a Presidência da República repete o discurso sobre a legitimidade da divergência.

Embora a posição da chefe do Executivo pareça cândida demais diante da irresponsabilidade da oposição, acolhida e estimulada pelos principais veículos da mídia, a presidente Dilma Rousseff não pode cumprir outro papel: mesmo sob intenso bombardeio, ela tem o dever de preservar a Constituição.

Depois deste fim de semana saberemos se o Brasil amadureceu para a democracia ou se, mais uma vez, as forças obscurantistas irão protagonizar um retrocesso, com a cumplicidade da imprensa.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. Tá tudo dominado

    Tenho pavor de todo esse enfrentamento.

    O diálogo acabou. Esse ódio não tem mais remédio.

    Esses irresponsáveis estão cegando por muitas frestas , as poucas que ainda havia, o país.

    Algo gravíssimo está por acontecer.

     

    Falam tAnto de DilMa: Dilma é assim, Dilma é assado… Ela é culpada por isso ter chegado a esse nível de ódio …

    Não sei como ela tem suportado tanto pau-de-arara, tanto choque-elétrico, tanto …  nesses outros tempos.

    Torturadores de diversos matizes arrebentam com a dignidade, com a honra … de todo um PAÍS.

    Torço pra que eu esteja enganadíssima e nada do que estou prevendo ocorra.

    O ódio está vencendo. Por enquanto.

    1. Existe…

      Ué, e o “ativismo” do dia 15 não tem subsídios? Quem banca metade das verbas publicitárias das rádios e Tvs que hora conclamam o ativismo anti? 

      Olha só uns numerozinhos de 2012 sobre gastos do governo com a grande mídia… E ainda tem cara que vem aqui reclamar da merreca que o Nassif recebe da CEF…

      TVs

      Globo Comunicação e Participações S.A – 50.029.241,00

      Rádio e Televisão Record – 23.390.960,00

      TV SBT Canal 4 de São Paulo – 19.394.613,00

      Rádio e Televisão Bandeirantes – 6.328.810,00

      TV Ômega (RedeTV!) – 3.197.261,00

      Turner Broadcasting System Latin América – 1.204.555,00

      Associação de COM.ED. Roquette Pinto (TVE) – 1.027.887,00

      Globo Comunicação e Participações L.T.D.A – 833.803,00

      Globosat Programadora – 810.281,00

      Fox Latin American Channels Brasil – 728.587,00

       

      Rádios

      Rádio Panamericana (Jovem Pan) – 1.396.541,00

      Rádio Excelsior – 1.129.999,00

      Rádio Globo de São Paulo – 730.475,00

      Rádio 99 FM Stereo – 539.143,00

      Rádio SP-Um – 498.990,00

      Rádio e Televisão Bandeirantes – 498.301,00

      Rádio Transamérica Brasília – 419.723,00

      Kalua Comunicações e Serv. De Publicidade – 408.788,00

      Rádio Eldorado – 379.773,00

      Rede Católica de Radiodifusão – 349.394,00

       

      Jornais

      Infoglobo Comunicação e Participações – 927.474,00

      Estado de S.Paulo – 656.394,00

      Empresa Folha da Manhã – 585.051,00

      SP Publimetro – 259.275,00

      Sempre Editora – 249.444,00

      Correio Braziliense – 192.822,00

      Empresa Editora A Tarde – 182.985,00

      Valor Econômico – 164.017,00

      Editora Jornal do Commercio – 159.230,00

      Estado de Minas – 152.874,00

       

      Internet

      Microsoft Informática – 1.285.962,00

      Globo Comunicação e Participações – 952.950,00

      Universo Online (UOL) – 892.553,00

      Yahoo do Brasil Internet – 712.296,00

      Terra Networks Brasil – 651.662,00

      Fox Latin American Channels Brasil – 491.821,00

      Internet Group do Brasil – 444.632,00

      Editora Abril – 352.729,00

      O Estado de S.Paulo – 337.686,00

      Editora Globo – 137.448,00

       

      Revistas

      Editora Abril – 1.296.649,00

      Editora Globo – 479.060,00

      Três Editorial (Isto É) – 266.201,00

      Editora Confiança (Carta Capital) – 118.794,00

      Editora Escala – 99.444,00

      Editora Brasil 21 – 70.889,00

      Elifas Andreato Comunicação Visual – 66.666,00

  2. O ótimo é inimigo do bom!

    O ótimo é inimigo do bom!

    Não encontraremos entre nós a perfeição – haverá vaidades, idiossincrasias, orgulho, uma pitada de inveja – mas devemos buscar e defender a coerência e a consistência. Quem defende a mentira, manipula através dela e presta desserviços ao País e à Nação não é digno de condescendência. Não acredito que este seja o momento de abraçarmos e confraternizarmos, porque há quem queira destruir avanços e conquistas preciosos aos nossos corações e fruto de muito esforço e de sacrifícios seculares de extensa camada de nossa população. Há os vaidosos? Há. Há os oportunistas? Há. Há os tendenciosos? Também há. Mas ainda que não sejamos e nem atuemos de forma perfeita, há que se pensar em quem está defendendo o que é melhor para todos, ou pelo menos, para a maioria. Não é este o projeto defendido em novembro de 2014? Não estamos contra os “coxinhas”; não importa se o nome é este; somos “empadinhas”, para usar o mais fofo dos termos …  Estamos contra o que criou, alimenta, sustenta e apoia (sem promover) este ambiente, este esgarçamento, esta deterioração…  Sim, sim; não, não.

    Os desejos e interesses de todos são legítimos. Mas, há interesses e ações que atingem e podem beneficiar grandes parcelas da população, muitos que nunca foram percebidos antes como agentes sociais, como cidadãos e com os quais o país tem responsabilidades e um grande resgate a fazer, e salvaguardas a garantir. Milhares de pessoas perderam seus empregos recentemente, muitos não recebem, outros postergaram sonhos de uma vida mais estável… Então, depois que todos possamos nos chamar patrícios e cidadãos iguais perante TODAS as leis (não somente sob o tacão da polícia e a torturazinha na delegacia), podemos pensar em abrir a guarda e deixar que cada um siga seu caminho; confraternizar, entender as razões dos “coxinhas”, ser solidários com a perda de rumo de um jornalista que um dia podíamos chamar assim, com políticos que ouvíamos embevecidos e que hoje são poços de ressentimento, mesquinhez e muita, muita desfaçatez. Pessoas que jogaram suas biografias no lixo. A despeito de tudo que está acontecendo, podemos dizer isto da Presidenta? Que jogou sua biografia no lixo, como estes Senhores que se arvoram paladinos da justiça? Não; tomou medidas amargas e que nos desagradaram a todos, tem um temperamento nem sempre fácil, mas também ela está agindo, na medida de sua capacidade, discernimento e de suas responsabilidades, na defesa deste projeto. Não foi bom ? Em 2018 teremos novo pleito. Busquemos uma alternativa.

    Nada do que está acontecendo é randômico, aleatório, fruto das ações e decisões de cada cidadão, uma tendência social ou econômica. O que escolhemos fazer é nossa escolha mesmo; não transijo nisso. Mas o que está em volta, a nos conduzir, a nos anestesiar, a nos colocar, como neste momento, em campos opostos quando deveríamos estar atentos ao que vai ser dito nas manifestações destes dois dias, é podre, secularmente pernicioso, vil. Nos dois últimos dias assistimos a uma estarrecedora situação: o Sr. Barusco e na sequência o Sr. Gabrielli foram recebidos na CPI. O ladrão confesso foi tratado como um príncipe e a testemunha como um criminoso. Assistimos os louvores a Eduardo Cunha. Como não acreditar que interesses de monta e objetivos predatórios estejam em movimento para assalto e rapinagem ao nosso País com as situações estranhas, constrangedoras que temos presenciado cotidianamente nos últimos dois anos? E o que isto tem feito à Nação?  Há uma atmosfera de pesadelo; não sabemos se os pés nos faltarão ao dobrarmos a esquina. É nítido o sentimento de ameaça iminente.  E estamos aqui combatendo percepções e posicionamentos que no final das contas são convergentes.  Todos queremos que o projeto proposto frutifique;  mas antes ele precisa sobreviver a este ataque.  Simples assim.  É preciso estar atento para que o ótimo que estamos perseguindo não nos afaste da sobrevivência.

  3. Fora de hora?

    As manifestações de hoje devem apresentar uma presença razoável, e isto sem um pingo de ajuda da grande mídia, enquanto que as manifestações de domingo por ela ajudadas ficam na incógnita.

    O problema que vejo é na data. Para mim foi mais um erro marcar as de hoje para antes das do dia 15… A manifestação dos movimentos sociais, partidos apoiadores e sindicatos deveria ser após, pois dia 15 serviria como um termômetro e um estímulo… Em minha opinião mais um equívoco, como tem se tornado usual no momento da “cabeça petista” e seus apoiadores…

    Um abraço.

  4. Um aparte ao Vandré, sobre

    Um aparte ao Vandré, sobre seu  “Caminhando”,  

    A partir de uma visão dos nossos dias.

    “BEM VAMOS AGORA ,

    QUE ESPERAR NÃO É FAZER.

    QUEM FAZ FORA DE HORA

    NÃO ENCONTRA O ACONTECER..

     Caro Vandré; também estive la naquela noite, quando enfrentaste o “Sabiá.

     

     

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