Um Brasil desnudado após as eleições, por Saulo Barbosa

Ocorreram obstruções ilegais nas estradas e rodovias, nem crianças com câncer passavam, exceto se provassem que estavam em tratamento.

José Cruz – Agência Brasil

Um Brasil desnudado após as eleições

por Saulo Barbosa Santiago dos Santos

A partir de 2014 a esquerda sofreu sucessivas derrotas: o golpe contra Dilma, a prisão de Lula, a vitória de Bolsonaro e quatro anos no fascismo brasileiro. Não fizemos nada contra a lei como reação a tudo isso, pelo contrário, preferimos passar uma mensagem: “seremos a resistência, ninguém soltaria a mão alguém”. Neste regressivo governo, aprendemos com nossos erros, atualizamos e “nivelamos o jogo”, como disse Billy Bruto ao capitão pátria na série The Boys. Poucos países venceram o fascismo sem a necessidade de derramar sangue, como nosso povo não desiste nunca, fomos um deles.

Após o resultado das urnas, se o Brasil realmente tivesse uma direita conservadora, aceitaria a derrota, o presidente reconheceria o pleito eleitoral e começaria o período de transição. Mas estamos falando do fascismo, e como tal, só houve gritos de arruaceiros, agressões e revelia. Tentativas frustradas de golpe, uma PRF apequenada e desobediente, policiais militares prestando continência a bolsonaristas raivosos, guardas municipais, dentro dos seus limites legais, lutando para manter a integridade da constituição, e deputados já falando em impeachment de um governo que só começará em 2023. Perdedores vergonhosos fizeram um novo “capitólio” à moda Trump, só que  rodoviário. Onde estava a campanha de 2020 que diziam “Brasil não pode parar”, pior, pararam tudo em plena segunda-feira. Este povo trabalha?

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O Brasil pós eleições foi desnudado, ocorreram obstruções ilegais nas estradas e rodovias, nem crianças com câncer passavam, exceto se provassem que estavam em tratamento. Os desbravadores da liberdade pediam intervenção militar na porta de quartéis, no Paraná puseram um pneu no meio da rua, fizeram um círculo ao redor dele, se ajoelharam e começaram a cantar o hino nacional levantando as mãos para o alto, filhotes da ditadura faziam saudação nazista e toda uma hecatombe clamando para um deus inventado, talvez a intervenção que se precise, depois desses shows de horrores, é psiquiátrica.

O presidente derrotado, ao invés de resolver a balbúrdia tupiniquim propondo soluções pacíficas, preferiu passar 30 horas trancado sem fazer absolutamente nada. Lembrou Nero, sentado do alto do seu castelo vendo Roma ser consumida pelas chamas. O miliciano conseguiu superar o imperador romano, além de se omitir, vomitou asneiras em seu fúnebre e breve discurso pós eleições, maculou o processo eleitoral chamando-lhe de injusto, dando a entender que foi fraudado e por isso justificou as manifestações golpistas, criticou a esquerda e, por fim, não parabenizou e muito menos reconheceu a vitória de Lula.

Saulo Barbosa Santiago dos Santos – Guarda Civil, Professor de filosofia e Autista

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Redação

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