Boa Sorte, Meu Amor e outras histórias

O filme de Daniel Aragão, que estreia nesta sexta-feira em Salvador, dialoga com O Som ao Redor

Fala-se muito sobre o filme de Kleber Mendonça Filho, escolhido para representar o Brasil entre os concorrentes à indicação ao Oscar, mas é preciso lembrar de Boa Sorte, Meu Amor, de Daniel Aragão, outro filme pernambucano que estreia nesta sexta-feira (20) nos cinemas de Salvador e, em certo sentido, dialoga com O Som ao Redor.

Boa Sorte tem a ver com a volta às origens. Uma origem que de certa forma não interessa muito aos personagens de Kleber Mendonça, senão ao patriarca dono de um engenho e de quase todos os prédios da vizinhança do bairro em que se passa o filme. Raposa velha que é, por isso mesmo, desde o início, ele deveria estar atento aos sinais para que a força contrária, ‘em volta’, não lhe sobreviesse com o impacto de mil canhões, no final impactante e surpreendente de O Som ao Redor.

Daniel Aragão conta a história de Dirceu, um jovem que estaria bem na pele de um dos netos do patriarca de O Som ao Redor, mas ele, sim, está disposto ao encontro com o passado. Filho de latifundiários do sertão pernambucano, parece que nada fascina o rapaz, tudo o angustia, até que encontra Maria, a mulher por quem se apaixona, e se lança em uma angústia existencial pior ainda.

Mergulhado no vazio, em anticlímax quase permanente, Boa Sorte, Meu Amor e o personagem seguem alguns momentos lembrando o deslumbrante Tetro. Mas, ao contrário do filme de Francis Ford-Coppola, não desata os nós jamais. Tudo é uma questão de saber lidar com os tormentos nesse filme que nos pede tempo e paciência para absorver sua natureza encantada.

*Adalberto Meireles é jornalista, membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema – Abraccine. Edita o blog www.pontocedecinema.blog.br

Trailer de Boa Sorte, Meu Amor: http://www.youtube.com/watch?v=spi6pgHW_qI