As suspeitas sobre a CPI das Americanas, por Luís Nassif

Como a fraude teria passado em branco para três dos mais argutos investidores do mercado brasileiro?

Lojas Americanas seguem em atividade mesmo com recuperação judicial e rombo. Imagem: Flávya Pereira/Money Times

O fato da CPI das Americanas não ter identificado crimes, levanta vários indícios de crimes a serem identificados:

1. Quem impediu a convocação dos sócios controladores das Americanas.

2. Quem impediu o depoimento do ex-presidente Miguel Gutierrez.

3. Por que não trouxeram empresas de auditoria que, uma semana depois de apontarem inconsistências nos balanços, foram descontratadas pela empresa.

Não apenas isso.

Aqui mesmo, no GGN, mostrei um enorme conjunto de evidências de fraude, mal o escândalo estourou. E sem dispor de um centésimo do poder de levantamento de dados de uma CPI: apenas consultando o Google.

Alguns pontos que devem ter custado muito (esforço) para não serem explorados.

1. O que fez Sérgio Rial, anunciado como novo presidente da empresa no dia 22 de agosto, mas só assumindo no início de 2023? Como acreditar que só tomou contato com os problemas no dia da posse.

2. A contratação de Rial permitiu uma recuperação nos preços das ações. Quem comprou ações antes do anúncio, e quem vendeu após?

3. O que aconteceu na 4a Vara Empresarial do Rio de Janeiro, para acolher ações cujo foro correto seria São Paulo? Como explicar que o juiz tenha indicado o próprio advogado das Americanas como administrador judicial? Lembrando que é Sérgio Zveiter, irmão do desembargador Luiz Zveiter, de larga influência política no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Porque a CPI não aproveitou o episódio para investigações sobre a indústria da recuperação judicial que campeia nos tribunais fluminenses?

4. Os preparativos para o golpe

* Em 3.11.2021, deu-se o primeiro movimento. Houve a fusão das Lojas Americanas com a Americanas S/A e os controladores – a 3G – passaram a reduzir sua participação. Deixaram de ser controladores. Lemann e Telles pediram demissão do Conselho de Administração e Beto Sicupira passou a ser  “acionista de referência”. Eles abriram mão de parte das ordinárias, sem exigir prêmio. O normal, quando um acionista troca ordinárias por preferenciais, é ganhar algum prêmio pela troca. O 3G foi generoso e abriu mão do ágio. Sua participação acionária caiu para 29,2% na empresa combinada.

5. O golpe da “propaganda cooperada”. Trata-se de um sistema pelo qual o fornecedor dá um desconto no valor do produto vendido, em troca de uma exposição maior no no portal da empresa. Ora, toda a base da defesa dos donos da Americanas é que eles recebiam apenas as informações que iam para o Conselho de Administração, que eram as mesmas divulgadas para o mercado. Mas, como mostramos, os números eram tão descabidos que, durante apresentação do relatório, um analista do Morgan Stanley, bateu o olho e percebeu a fraude.

Como a fraude teria passado em branco para três dos mais argutos investidores do mercado brasileiro?

Portanto, o caso Americanas trraz mais um ponto a ser investigado: como todos esses elementos foram ignorados pela CPI?

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. Ué, Nassif, 90% (por baixo) dos “representantes do povo” nas casas legislativas chegam lá financiados por empresários, bilionários, banqueiros, especuladores, acionistas das Americanas, agronegócio, etc.,etc.,etc. Toda essa gente que, como se sabe, bancam as campanhas de deputados e senadores: “Vai, meu filho, toma essa grana, pague sua campanha, vá ser deputado ou senador, e vá lutar pelos direitos do povo.” Só dando risada. Brasil acima de todos, meu bolso acima de tudo. Quanto aos argutos investidores do Mercado não terem percebido a fraude, isso é tautologia, Nassif. Não há fraude no sistema financeiro, o sistema financeiro é, em si, uma fraude.

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