Brasil entra em nova etapa de desindustrialização, por Luís Nassif

Ocidente está entrando em nova desindustrialização. E a região mais ameaçada é o sul global, que nem conseguiu resistir à onda anterior.

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E um pequeno distribuidor do interior de São Paulo. Vender insumos para empresas do setor metalúrgico que, por sua vez, fornecem peças técnicas para a Volvo, Mercedes, Caterpillar. Seu cliente comprava R$ 1 milhão em equipamentos a cada três meses. Nos últimos meses, as compras baixaram para R$ 300 mil. Razão maior: importações da China.

Esse fenômeno está se espalhando por todo o país, e pelo mundo. Ontem, reportagem do Financial Times alertava para o fato da invasão de produtos chineses levar a um processo inédito de desindustrialização no Ocidente. Na reunião que manteve com Lula, o presidente americano Joe Biden alertou para o risco para a indústria automobilística representado pela importação de carros elétricos do Japão.

Como defensora intransigente do liberalismo, The Financial Times mostrou que grande parte dos países está adotando medidas defensivas contra a invasão chinesa, mas defendeu o livre comércio.

Vamos a uma análise da balança comercial em 2023, comparado com 2022.

A China foi responsável por 24,8% de aumento das importações de ferro e aço básicos, de 10,5% de motores elétricos, de 4,5% em bombas e compressores, de 9,6% de outras máquinas para uso geral e de 20,6% de outras máquinas para fins especiais.

Na outra ponta, aumentaram as compras de produtos brasileiros, mas essencialkmente extrativistas. Hoje em dia ela responde pór 76,3% das compras de soja, 79,7% de minério de ferro, 48% do processamento e conservação de carn3 e 48,9% da fabricação de polpa, papel e cartão.

Estados Unidos, União Européia, Índia, todas as grandes economias do mundo voltaram a utilizar tarifas de importação como proteção para sua indústria. Há um inconveniente: tarifas implicam em produtos mais caros, pressionando os preços internos.

Se a prioridade única continuar sendo o controle da inflação a qualquer custo, os objetivos poderão ser alcançados, com a economia finalmente encontrando a paz dos cemitérios.

Nesse modelo, ganham apenas as empresas offshore que se especializaram na importação de produtos, especialmente os chineses.

O Ocidente está entrando em uma nova etapa de desindustrialização. E a região mais ameaçada é o sul global, que sequer conseguiu resistir à onda anterior.

Daí, insisto: há a necessidade premente da constituição de um grupo de estudos para discutir a política monetária e as políticas de austeridade.

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Luis Nassif

2 Comentários

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  1. Na Divisão Internacional do Trabalho nosso papel é o de fornecer matérias-primas e alimentos para o Mundo Industrializado. O Mundo Industrializado quer fornecedores ou concorrentes? O que sempre falta nessa visão de que devemos (‘é preciso”, é a expressão sempre usada) deixar de ser fornecedores de commodities e matérias-primas, e nos transformarmos, nós mesmos, em países com indústria de transformação avançada, produtores de bens de capital e de alto valor agregado, é a consciência de nossa posição na Divisão Internacional do Trabalho, e da dificuldade que essa posição nos impõe. Aqueles que tentaram industrializar esse país pensaram poder enfrentar esses poderes estrangeiros (ou, talvez, fazer com que nossa nova e pretendida posição passasse desapercebida) tiveram, todos, um fim inglório. E seus sucessores, legítimos ou não, prontamente reassumiram a posição de subalternidade. Lula e Dilma tentaram, de certa forma, perseguir formas consagradas, e amplamente praticadas, de fazer prosperar o país; deu no que deu. Getúlio e Jânio são, até hoje, ridicularizados, por gregos e troianos, pelas menções a ‘forças ocultas’, ou ‘terríveis’, que adjetivo seja que queiram dar-lhes. Mas essas forças existem, todos sabemos quem são e como atuam, e sua própria prosperidade e posição no concerto das nações depende da manutenção de países ricos em recursos naturais de toda ordem em posição de fornecedores. Enquanto não resolvermos essa equação, iniciaremos, ciclicamente, períodos de industrialização que serão tolerados até um certo ponto, e depois abortados, geralmente sem grandes problemas, esforços, ou desgaste, para os respectivos médicos aborteiros. Que, como tais, condenarão fortemente tais atitudes intervencionistas (golpes, lawfare, o diabo), enquanto as praticam desavergonhadamente. E, por mais admiração que tenha por Lula, não o vejo como o líder, ou estadista, capaz de resolver essa questão. Conciliação nunca fez prosperar país algum, nesse mundo. Apresentar-se como cordeiro, e agir como lobo, sim. Essa é a História do Mundo.

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