De como Simplício comprou os dossiês secretos de dois partidos

De como Simplício comprou os dossiês secretos de dois partidos 2

    Ao sair da convenção petista, Simplício recebeu o rascunho de um programa de governo preparado pela corrente neutra. Notou que era muito parecido com o rascunho do programa que lhe foi apresentado na convenção tucana. Os dois falavam em incluir os excluídos, melhorar os serviços públicos e tornar o Estado mais eficiente; ambos eram decididamente a favor dos pobres sem hostilizar os ricos. Havia pequenas diferenças nas promessas, mas se alguém, como Simplício, esperasse definir seu voto a partir dos dois programas teria imensas dificuldades de escolha.

    Foi então que um marqueteiro, tendo confundido Simplício com um dirigente da ala jovem do partido, o chamou de lado e lhe ofereceu, por quantia módica, um dossiê completo sobre o programa de governo secreto dos tucanos. Garantia que era uma bomba superatômica que assegurava a vitória petista nas eleições. Embora ganhasse muito menos que um médico em área de fronteira, Simplício tinha em seu poder a indenização da CIA, de modo que achou justo limpar esse dinheiro sujo em nome da transparência partidária. Qual não foi sua surpresa, porém, quando, uma vez concluído o o primeiro negócio, o marqueteiro lhe ofereceu outro dossiê pelo mesmo preço. Era o programa de governo secreto do campo neutro petista.

    Simplício correu para debaixo de um poste para ler e comparar os dois. Ficou espantado. Eram idênticos. Apenas as assinaturas eram diferentes: o dossiê secreto dos tucanos vinha assinado pelo consultor M.N. O dos petistas, por A.P. No conteúdo, onde os tucanos falavam em radicalizar o processo de privatização, os petistas falavam em radicalizar as PPP. Os dois prometiam fazer renascer a ALCA. Simplício não sabia o que era ALCA, de sorte que teve de recorrer ao embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que ajudou a sepultá-la no primeiro Governo Lula:

    — É uma espécie de luta livre entre Débora Falabela e Mike Thyson, explicou o Embaixador, para quem só mesmo o pessoal da Fiesp podia acreditar em competição justa entre Estados Unidos e o resto da América Latina. 

    — Por que então o Palocci ficou tão interessado em acelerar a ALCA?, disse Simplício, que vira por acaso um telegrama do WikiLeaks revelando o interesse de Palocci, numa entrevista conjunta com o Secretário do Comércio e o Embaixador americano, em chefiar um GT para apressar o livre comércio do Brasil com os Estados Unidos. 

    — Porque a ala-que-ganha-dinheiro-fácil do PT entregou a alma ao diabo. Felizmente, fomos salvos por Lula, que recusou a sugestão e matou a ALCA, e pelo caseiro, que nos livrou do Palocci.

    — Mas parece que ele quer voltar, ponderou Simplício. Ele já voltou uma vez e não vai ser porque acumulou uma pequena fortuna fazendo lobby junto ao Governo que vão lhe barrar na porta do Ministério da Fazenda. A propósito, Mantega é tão incompetente que a ala-que-ganha-dinheiro-fácil do PT acha que Polocci já teve tempo suficiente para lavar o dinheiro que o pôs pela segunda vez na rua no início do Governo Dilma e voltar.

    Embora a sombra da ALCA ainda rondasse por perto, o eixo do documento tucano era o Programa de Privatização Integral do Ar, ou seja, o Propinar. O campo neutro petista propunha o Programa de Inclusão Social Eficiente do Ar, com ligeiras mudanças, garantindo que abaixo de uma determinada renda familiar todos teriam ar de graça. Havia uma leve insinuação de que as despesas de campanha, nos dois casos, poderiam ser bancadas pelo compromisso de adoção desses programas, que seriam devidamente abertos à concorrência internacional a partir da experiência com o pré-sal.

    Simplício estava chocado. “O povo está sendo enganado: abertamente prometem uma coisa e, por trás dos panos, preparam outra. Vou explodir com isso. Procurarei a “Veja” e a “TV Globo”, pois são especializadas em explodir escândalos e dossiês secretos.”

Redação

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