Haddad tem que mostrar a que veio, por Luis Nassif

Não se espera que Haddad peite o mercado e crie frentes inúteis de atrito. Mas tem que acenar com o novo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad – Foto: Divulgação

No governo Itamar Franco, o então Ministro da Fazenda, Paulo Haddad, foi alvo de um tiroteio intenso. Salvou-se graças a um assessor de imprensa, jornalista econômico de peso, que desarmava as bombas com informações pontuais e bem colocadas. E, especialmente, explicando a lógica de atuação do Ministro.

O Ministro da Educação Fernando Haddad, autor de uma obra meritória, sempre padeceu de problemas de comunicação. O mesmo aconteceu quando prefeito. Sendo um prefeito de reconhecimento internacional, saiu com a pior avaliação possível, pela absoluta incapacidade da opinião pública – através da mídia – entender o alcance de uma gestão que ia além das pontes e viadutos.

O mesmo ocorre agora, como Ministro da Fazenda.

Há um movimento público, de sua parte, de submissão às regras monetárias e fiscais. Pode ser estratégico ou não. Em entrevista ao Valor Econômico, André Lara Rezende atribuiu a essa timidez a iniciativa de Lula de se expor, em embates com o Banco Central a respeito do nível da taxa Selic.

Criou-se uma discussão inútil sobre metas de inflação, se aumenta 0,25, 0,50, mudanças que não alterariam em um milímetro a taxa Selic. Apenas reduziriam o estouro da meta pelo Banco Central.

Há um cadáver no meio da sala, que ninguém ousa ver: o sistema de metas inflacionárias e essa loucura de utilizar um preço fundamental da economia, o câmbio, como variável de ajuste. O uso indevido do câmbio foi peça fundamental para o país ter perdido o bonde da história. Em 1994, com a estabilização da economia, ao lado da China e da Índia o Brasil era a grande aposta de crescimento. Tinha dimensões continentais, uma grande população entrando no mercado de consumo, uma estrutura acadêmica respeitável e, ainda, indústrias competitivas.

Mês a mês, ano a ano, esse modelo, erroneamente chamado de “tripé virtuoso” – câmbio baixo, juros altos e cortes em despesas – foi desindustrializando o país, tirando o dinamismo da economia. E não houve um presidente capaz de cortar o nó górdio, nem FHC, que implantou a financeirização da economia, nem Lula 1 e 2. Houve uma pequena tentativa com Dilma, mas atropelada por problemas operacionais e por ataques implacáveis da mídia.

Lula 3 vai repetir a submissão a essa política irracional? Até agora, o único sinal de vida inteligente foi o anúncio do seminário preparado por Aloizio Mercadante, pelo BNDES, juntando pensadores para discutir as últimas ideias em relação ao combate à inflação.

Seria um jogo pensado, com Haddad contemporizando e Mercadante avançando? Poderia ser. Mas as críticas de André Lara à timidez de Haddad tiram essa esperança.

Tem-se, hoje em dia, um BC que não se importa com os juros da Selic e, menos ainda, com os juros do mercado; que não atua no mercado de taxas de juros, no câmbio, que não consegue imaginar outros instrumentos de contenção de preços que não seja o câmbio e os juros.

Nas próximas semanas, Haddad terá que mostrar a que veio. Uma simples mudança nas regras de ancoragem de expectativas, de novos modelos de controle fiscal não bastarão. Não se espera que peite o mercado e crie frentes inúteis de atrito. Mas tem que acenar com o novo e explicar minimamente qual a lógica que pretende imprimir à sua gestão. Ele é muito preparado, para se limitar a ser uma cópia de Antonio Palocci ou Henrique Meirelles.

Luis Nassif

11 Comentários

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  1. Poisé “seo” Nassif, sinceramente? Depois se várias eleições perdidas, inclusive essa última em que se via a má vontade em concorrer, está na hora de Lula escolher outro sucessor, tem uns bons aí, Boulos, alguns bons políticos do nordeste, Haddad é fraco, muito educado, sem sangue nos olhos, facilmente engolido por larápios da política…..e a explicação para a taxa de juros do Brasil serem pornográficas é uma só: o bc brasileiro ser independente….vejam se nos outros países tem algum trouxa dando metade do orçamento para parasitas abutres? Não tem ..

  2. Preparado ele é, não há dúvida. Deve ser um excelente professor. Mas, para o Ministério da Fazenda, ele já mostrou a que veio: ficar bem com todo o mundo. Inclusive e sobretudo com o poder de fato, também conhecido como mercado vadio, digo, financeiro, que vive de sugar as riquezas do país, sem produzir. Logo, é o homem errado, no lugar errado, na hora errada. Claro, para os que querem economia aquecida, pleno emprego, melhora das condições de vida do povo etc. Essas “besteiras” que fariam o bem do país.

  3. No Brasil temos 423 anos de “crescimento do bolo” e nenhum de repartição ao pobrerio, Bolsa Família e quetais são migalhas lançadas ao mais necessitados: metade do orçamento federal vai para ínfima parte de “investidores” brasileiros e estrangeiros; saqueiam o país com “privatizações” criminosas que “não serão revistas” . . . Campos petrolíferos, unidades de refino e empresas públicas que operam em áreas sem concorrência , alguns a escroques nacionais.
    Basta de timidez na condução do país por dirigentes à esquerda. Apenas republicanismo obsequioso com a alcatéia de “expertos” a saquear o país.
    O governo federal deixa ao “mercado” a dominância do discurso econômico e não tem um espaço de divulgação de suas ações. Lembro Brizola e suas palestras às sextas-feiras, os “tijolaços” a bater nos exploradores.
    Hoje o que temos são entrevistas e “debates” com economistas amigáveis e ausência de perguntas “difíceis”.
    Lula 3 e Haddad são “carne para moer” até por um hesitante presidente do Sindicato dos Bancos, vulgo BC.

  4. O Lara Resende mostrou didaticamente a incoerência das taxas de juros. É hora de Hadad falar grosso e deixar de ser educado. A inflação não baixa com o aumento da taxa de juros e ela alimenta os rentistas e fode o tesouro.

  5. Quando convidamos para um almoço , é lógico que conheçamos os convidados. Nesta mesa , os pratos e talheres deverão ser servidos de acordo com o apetite e destreza dos convivas , senão corre-se o risco de decepcioná-los . É o que ocorre com o Haddad de maitre !!!O Plano vitorioso foi o de Lula , simples , arroz e feijão , um garfo e faca. Servir salmão grelhado e trufas na sobremesa , deixará os convidados ” enfastiados” . O Maitre serve bem em restaurantes dos jardins e nunca deixará satisfeito o cliente do Mercadão , Praças , Ruas e Sarjetas do Brasil !!!

  6. Está havendo muita pressa nas críticas ao Haddad. Lara Resende não criticou a timidez de Haddad, claramente ele disse que Lula escolher Haddad, e também Tebet, para a economia justamente por conta deste temperamento. Lula também falou que assumiu a função de cobrar publicamente a redução de juros, tarefa que era de Alencar de vice. E este arranjo na composição do ministério não era nem sonhado antes da posse. É evidente que o jornalismo vagabundo vai primeiro ouvir suas vacas sagradas mercadoras de dinheiro. Mas o objetivo está sendo alcançado, o debate está lançado e os dogmas serão confrontados. As entrevistas de Lara Rezende e Mantega, hoje, estão sendo publicadas e terão que ser contestadas com argumentos, mercadoria que sábios não tem à disposição nas suas quitandas.

  7. Caro Nassif, eu penso que devemos ter toda atenção nos acompanhamentos com as decisões e comportamento de qualquer governo. Não tenho conhecimento técnico para discutir economia e muito menos para analisar todas as suas vertentes. Porém, após 4 anos de destruição de conquistas, de horror, de terror e de descaso com a democracia e o estado de direito, eu entendo que é cedo para tecer críticas ao que me parece ser, ainda, suspeição e não certeza. A direita fascista, golpista, corrupta e gananciosa continua ativa e tentando se reestruturar, para voltar com mais inferno: em mente, em intenção e em poder.
    Tenho lido muitas críticas da imprensa corporativas, que mais parecem uma trama orquestrada, e até (???) das mídias alternativas, que avalio como exageradas, para o pouco tempo de governo e de recuperação estrutural do país.
    Devemos discordar de todo erro que for verdadeiro, certo e comprovado, mas quando ainda se tratar de uma avaliação, eu me pergunto se poderia ser mais produtivo e menos incômodo, alertar primeiramente aqueles que tanto lutamos e nos empenhamos em trazer de volta para comandar o fortalecimento que todos queremos, tais como: da democracia, da justiça, do estado de direito, da soberania, do bem estar social, da segurança, da saúde, da educação, do trabalho, da religião, etc.
    Posso ter entendido errado, e me desculpo, mas fica o comentário.

  8. Se o problema do haddad é comunicação, esquece Seo Nassif

    problema na comunicação está no DNA do PT, que vive ainda na idade pré mimeografo.

  9. Depois do Golpe de 2016 e do Açougue chamado Lava-Jato, é tempo de Haddad, Lula 3,PT repetirem-se sempre: os celerados, que estão vivos e aparecem na Globo, farão qualquer coisa para Acusar, Impedir, Destruir, Lucrar, Sobreviver! Qualquer!

  10. PT nunca teve problema de comunicação, sempre foi um partido político escorraçado pela midia patriarcal, então nada de novo. Com o banco central independente o haddad tem a lenha e o alcool, mas não tem o fósforo, então tem de ficar no aguardo e negociar com os financistas, ou compra-los, o que provavelmente acontecerá. De uma coisa eu tenho certeza: passa pelas mãos do BNDES salvar as empresas de varejo virtual do Brasil, afinal a conta sempre sai do nosso bolso. A não ser que haddad e lula façam algo diferente.

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