Tarcísio de Freitas, a mais perigosa expressão do bolsonarismo, por Luís Nassif

Tarcísio repetiu a jogada de Paulo Guedes com precatórios, tirando dos pobres para entregar aos ricos

Poder 360

O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, é administrativamente medíocre. Mostrou no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), transformando-o em balcão de negócios para empresas ligadas a militares. Mostrou-se no Ministério de Infraestrutura de Bolsonaro, deixando as estradas federais na pior condição em décadas, segundo estudos da Confederação Nacional dos Transportes.

No governo de São Paulo tem colocado em prática o aprendizado com o bolsonarismo.

Primeiro, no campo dos grandes negócios ocultos.

No final do ano passado, repetiu a jogada de Paulo Guedes com precatórios, na melhor prática de como tirar dos pobres e entregar aos ricos. De um lado, deixou atrasar precatórios do estado – em geral precatórios alimentícios. De outro, fez aprovar uma lei permitindo o pagamento de ICMS com precatórios.

O jogo é simples. Apertado, o pequeno titular de precatórios vende seus direitos com enormes deságios – que chegam a 50%. O escritório de advocacia ou instituição financeira adquire e vende, depois, para empresas quitarem seus débitos em ICMS.

Foi o mesmo método adotado pelo ex-Ministro Paulo Guedes: de um lado, atraso no pagamento de precatórios; de outro, abertura para sua utilização em negócios públicos. É uma versão um pouco mais sofisticada da famosa “caixinha de Ademar”, utilizada pelo ex-governador Ademar de Barros.

O segundo ponto é no aparelhamento da Polícia Militar. Em editorial de hoje, após uma abertura elogiando Tarcísio, a Folha trata o fato como se fosse um mero caso de empreguismo na área pública. Não se deu conta que se trata de uma corporação armada, da qual foram expelidos todos os comandantes legalistas e aberto espaço para transformação uma corporação de Estado em uma milícia.

Os massacres de Guarujá precedem a milicialização da PM de São Paulo, da mesma maneira como ocorreu no Rio de Janeiro. E de modo semelhante ao da rebelião da PM do Ceará, contida de modo quase heróico por Cid Gomes.

A reação de Tarcísio às críticas – “não estou nem aí” – ou sua menção ao suposto apoio que recebeu de empresários da baixada santista demonstram claramente sua intenção. Sem controle algum do Ministério Público Estadual, sem limites impostos pela Justiça paulista, o que impedirá setores da PM de se aliarem a organizações criminosas, como ocorre no Rio de Janeiro?

A enorme burrice institucionalizada do país – e da mídia – impede qualquer análise prospectiva, mesmo em temas óbvios. O carro, sem freios, caminha em direção ao abismo, e ficam todos olhando, aparvalhados. Quando despenca é aquele frenesi: como aconteceu?

O terceiro ponto de Tarcísio foi tirar a gratificação de professores que trabalham em áreas críticas e, pior que isso, acabar com o apoio que o Estado dava a alunos com deficiência na rede escolar. Havia uma seleção de apoiadores, com cursos de pedagogia, incumbidos da assistência a todas as crianças com deficiência na sala de aula.

Um dos grandes avanços civilizatórios brasileiros – a educação inclusiva – foi transformado em ação familiar: família que quiser, tem que pagar pela pessoa que irá apoiar seu filho, sem ter a menor orientação sobre quem está apto ou não a apoiar.

Repito o que já disse em outros momentos: Tarcísio é a maior ameaça à democracia, maior até que Bolsonaro. Primeiro, por ser genuinamente oriundo do segmento militar. Depois, por não ter o histrionismo de Bolsonaro. Terceiro, porque terá o apoio de parte da mídia para convencer a população de que ele é dom Sebastião da Terceira Via.

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Luis Nassif

11 Comentários

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  1. Todos estes que aproximam-se da defesa explícita da ditadura são perigosos.
    O problema não está em nominá -Los e sim em identificar e combater as causas que produzem este tipo de gente,como,por exemplo, a mídia golpista.
    É sempre bom lembrar que,quando existe um governo que não é totalmente alinhado com eles,eles ficam os quatro anos desse governo lançando pré candidatos como balão de ensaio.
    Foram os Hucks,Dorias, Leites,Tebets e outros tantos e até mesmo o ex ocupante do Palácio do Planalto. Só não conseguiram seu intento porque do outro lado estava o presidente Lula e os detentores do poder econômico decidiram não arriscar e ficaram com o inelegível.
    Se essas causas não forem combatidas continuaremos a analisar sempre os perigosos e nunca o perigo.

  2. Parabéns pela análise certeira, como sempre!
    Antes fosse um delírio seu, mas, infelizmente, é um verdadeiro panorama catastrófico!

  3. Discordo, Nassif. Esse governador genérico eleito por Bolsonaro com ajuda do vácuo deixado pela implosão do PSDB Paulista é a lebre numa corrida de galgos. Ele não tem projeção nacional e dificilmente conseguirá isso na próxima eleição. O mais provável é que Tarcísio de Freitas dispute a reeleição, não sendo certo que ele conseguirá permanecer no cargo.

  4. O problema é que uma enorme demanda por tipos como Tarcísio e Bolsonaro, simplesmente porque o brasileiro é violento e adepto da violência. Segundo porque quem controla os meios de informação, sempre foram cúmplices de tipos assim, pois fazem o trabalho sujo, colocando pobres em seu devido lugar. Seja na cadeia ou melhor ainda, no cemitério.

  5. “Não se deu conta que se trata de uma corporação armada, da qual foram expelidos todos os comandantes legalistas e aberto espaço para transformação uma corporação de Estado em uma milícia.”
    Se deu conta sim Nassif. A Folha há muito é o porta voz do bolsonarismo mais estridente! Se é para atacar o PT e suas políticas públicas e sociais, não interessa o nome do gajo mas sim o que ele poderá render na próxima eleição.

  6. Nassif.
    Você esqueceu da dinheirama que será gasta com a mudança da administração do Estado de SP para o entorno do Palácio dos Campo Elísios.

  7. A mídia à brasileira deu aval a assassinatos na ditadura. Estão pouco se importando com assassinatos de policiais e apenas noticiam para manter o controle sobre o erário do estado, qualquer estado, cercam-no para garantir superávits e distribuições de dividendos a si mesmos, pois os governos, que são de ocasião, diferentemente de uma política de estado, ficam submetidos aos vitupérios que lançam, para medirem por pesquisas recorrentes a chantagem que promovem. O Brasil só tem saida via uma Constituinte, o que nunca acontecerá.

  8. O Filósofo e Geógrafo Milton Santos já vaticinara em 1997 sobre a necessidade de uma Constituinte o poder desagragador da globalização que não permite um projeto nacional que deve ser fomentado pelas forças políticas de base, como sindicatos, igrejas, etc…
    Infelizmente o pt, com outros partidos, emendou a emenda à Constituição para suprimir e esvasiar o art. 192, que limitava os juros a 1% ao mês. Com isso a os banqueiros dominaram todas as forças políticas, inclusive as de base. Hoje a selvageria é solta, vê-se os instituinção finaneira como a crefisa, por exemplo, que avança sobre pensões e aposentadorias com juros escorchantes em consignados que foram instituídos nos governos lula 1 e 2, numa verdadeira “democracia financeira” (entre o minuto 11’18” e 12’32” do vídeo), o congresso limita os juros dos cartões a 200% e ninguém se escandaliza. Só uma Constituinte nos salva!

    https://www.youtube.com/watch?v=xPfkiR34law

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