Câmara aprova contas de quatro governos em um dia para liberar rejeição à Dilma

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Eduardo Cunha, presidente da Casa, ignorou a manobra e ainda responsabilizou deputados anteriores pela “omissão” de não analisar os balanços
 
 
Jornal GGN – O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ignorou que a aprovação das contas de ex-presidentes pela Casa foi manobra para liberar a pauta para desaprovar a atual gestão. E reverteu a iniciativa, responsabilizando deputados de mandatos anteriores por “omissão”. 
 
“Nós estamos restabelecendo a normalidade. Seguimos o rito daquilo que não se fazia há 15 anos. Até 2000, se fez muito isso [votar a prestação de contas de presidentes], depois parou. Foi omissão daqueles que estiveram aqui [na Presidência da Câmara] e não colocaram para votar”, disse Cunha.
 
Essa será uma das principais ferramentas do presidente da Câmara, no segundo semestre, para pressionar como forma de retaliação, diante das investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) contra ele por suposto envolvimento na Operação Lava Jato.
 
Nesta quinta-feira (06), o Plenário aprovou em tempo recorde quatro projetos referentes a contas governamentais de três ex-presidentes: Itamar Franco (1992), Fernando Henrique Cardoso (2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2006 e 2008).
 
As contas de Itamar já haviam sido aprovadas pelo Senado, por isso, o Plenário rapidamente aprovou e promulgou. As de FHC e Lula foram aprovadas com ressalvas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e ainda precisam passar pelo crivo do Senado.
 
O balanço de Fernando Henrique referente a 2002 apresenta “superavaliação de restos a pagar” e outras 11 ressalvas. Para as contas de Lula, no exercício de 2006, foram 27 ressalvas, como o descumprimento de metas previstas na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), e no exercício de 2008, houve 16 apontamentos, como insconsistências nas demonstrações financeiras.
 
“Não podemos, de um lado, abandonar eternamente as contas sem apreciação, mas não podemos votar de maneira célere de forma que se confunda com uma disputa política”, disse o deputado Afonso Florence (PT-BA), nesta quarta-feira, quando o assunto virou polêmica entre os parlamentares.
 
Houve quem defendesse abertamente a análise das contas de Dilma o quanto antes, para a sua rejeição e possibilidade de impeachment da presidente. “Caçar o mandato de quem trai o povo brasileiro é dever democrático”, disse o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), posicionamento compartilhado por José Carlos Aleluia (DEM-BA) e Bruno Araújo (PSDB-PE).
 
O tucano líder da Minoria defendeu a rejeição ds contas de 2014: “botou pra baixo do tapete a sujeira que hoje a gente descobre”, disse, apelando para a população: “quem paga a conta é o povo brasileiro”.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Estão nos chamando de otários

    Estão nos chamando de otários na cara dura. Pelo menos, eu não vou sair na rua no dia 16 para agradecer por isso.

  2. Isso não legitima as pedaladas dos governos anteriores?

    A aprovação dessas contas não legitima como aceitáveis as pedaladas dos governos anteriores? Juridicamente, isso não seria um precedente para aceitar as de Dilma como normais, conforme argumenta a sua defesa?

  3. Como diria o saudoso

    Como diria o saudoso professor Raimundo da “Escolinha”: foi vap-vupt!

    Espanta a cara-de-pau e a irresponsabilidade desses deputados citados ao justificarem a pressa: “caçar(sic) o mandato de quem trai o povo brasileiro é dever democrático”. 

    Que “povo”, seus cara-de-pau, digo, cara-pálidas? O maior “dever democrático” é respeitar os princípios da democracia. 

  4. Gostaria de ver as contas dos

    Gostaria de ver as contas dos deputados e senadores serem auditadas, principalmente aquelas em que um parlamentar pagou R$7.500,00 no seu jantar de aniversário com a família em um restaurante e debitou as despesas no senado.

  5. Pau que bate em Chico

    Enquanto havia acordo e governabilidade (leia-se: grana para aprovar reeleições, cargos  para pintar e bordar em repartiçoes e estatais,), enquanto não havia uma Lava Jato e um Brindeiro engavetador da república,  enquanto a viabilização dos interesss da nação dependia da  satisfazer a voracidade de interesses contrários, enquanto era conveniente…

  6. Não é golpe, tá?

    Então, né? Se não isso não é golpe então porque aprovar tão rápido assim as contas de 4 campanhas, a mais antiga de 23 anos?

    De repente, o Presidente da Cãmara, ilibado e probo que é, resolve dar celeridade na aprovação das contas e quer que acreditemos que não há mais nada além?

    Aham, OK. Caímos nessa.

  7. Alguns caciques da oposição

    Alguns caciques da oposição estão apostando alto no “quanto pior melhor”.

    Ocorre que, pela primeira vez na história desse país, se tiver que correr sangue, desta vez “o sangue será AZUL”.

    Gringo 

  8. Dever democrático uma ova.

    Dever democrático uma ova. Coxinhismo, golpistmo, falta de aceitação da democracia, com ajudinha de ministro do TCU que já foi flagrado em conversações privadas com tucanos. 

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