do Come Ananás
por Hugo Souza
Na última quinta-feira, 8, o general da reserva, senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão conclamou os atuais comandantes das Forças Armadas a reagirem à investigação policial-judiciária que vem desembaraçando o fio da conspiração golpista de 2022 e início de 2023.
No embalo desse desnovelo, a imprensa brasileira vem se debruçando sobre falas da época da trama golpista feitas, por exemplo, por Jair Bolsonaro e Braga Netto, falas que “agora fazem sentido”, diz a imprensa, como se não dissessem tudo sobre o andamento do golpe já naquela ocasião, quando, porém, eram tidas como “enigmáticas”.
Até aqui, porém, ninguém se animou para revisitar o que disse Mourão a Bolsonaro em um evento na Aman no dia 27 de novembro de 2022, altura em que, sabe-se agora, a intenção de decretar estado de sítio e GLO com intervenção no TSE esbarrava no refugo dos comandantes do Exército e da Aeronáutica nos últimos sarrafos do percurso golpista.
Naquele dia, Bolsonaro aparecia em público pela primeira vez desde 1º de novembro, quando reuniu a imprensa no Palácio da Alvorada não para reconhecer a derrota para Lula, dois dias antes, mas para dizer que “os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral”.
E mais não disse em público ao longo de todo mês de novembro. No dia 27, então, como Bolsonaro continuasse calado, Mourão instigou-o nestes termos no palco da formatura de cadetes da Aman:
“Você não vai falar para o seu povo, não? Abre o jogo!”.
Feita fora dos microfones, mas flagrada em vídeo, a fala de Mourão foi decifrada com leitura labial.
Mourão, por seu (co)turno, nega que tenha dito aquelas palavras a Bolsonaro. O general afirma que apenas encorajou Bolsonaro a tirar fotos com apoiadores. O que o general Mourão nega ou afirma, no entanto, não costuma ter relação com a verdade. Agora mesmo, após o PSOL pedir sua cassação por incitação das Forças Armadas contra o STF e a Polícia Federal, Mourão afirmou que “é e sempre será legalista”.
Logo ele, o “paquita da ditadura” que foi exonerado da chefia do Comando Militar do Sul em 2015 por conclamar colegas de farda ao “despertar da luta patriótica” contra a então presidenta Dilma Rousseff.
Outro fio que a imprensa brasileira nunca se animou para puxar é o da relação algo estreita entre o general Hamilton Mourão e a terrorista Ana Priscila Azevedo, digamos que a mais famosa entre os anônimos que atacaram a Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023.
No dia 8 de janeiro de 2023, aliás, Mourão chamou o ataque de “anarquia” e queria GLO. Dois dias depois, com o DF sob Intervenção Federal e enterrada a última quimera do golpismo – o golpe via GLO decretada pelo próprio Lula – , o general chamou a prisão dos “anarquistas” – Ana Priscila entre eles – de “desumana e ilegal”.
Hugo Souza é jornalista
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
Leia mais:
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
A baixa estatura do general Mourão só é superada por sua baixíssima estatura moral. Mourão se mostra um sujeito covarde e abjeto, que não consegue sustentar a própria palavra.
Somente uma estrutura institucional arcaica, falida e esvaziada de utilidade social, como as FORÇAS ARMADAS brasileiras para dar espaço a este tipo de “gente ressentida e inútil”.