As críticas ao resgate do Banco Espírito Santo em Portugal

Enviado por Paulo F.

Do Diário de Notícias de Lisboa

A hidra

por BAPTISTA-BASTOS

Um espectro percorre Portugal: é o espectro da pobreza, da miséria moral, da fraude, da mentira, do embuste, da indecência, da ladroagem, da velhacaria. Este indecoro do BES foi o destapar do fétido tacho da pouca-vergonha. Os valores mais rudimentares das relações humanas pulverizaram-se. Já antes haviam sido atingidos por decepções constantes daqueles que ainda acreditavam na integridade de quem dirige, decide, organiza. Agora, o surto alcançou a fase mais sórdida. Creio que, depois de se conhecer toda a extensão desta burla, algo terá de acontecer. Com outra gente, com outros padrões, não com estes que se substituem, num jogo de paciências cujo resultado é sempre o mesmo. Mas esta afirmação pertence aos domínios da fé, não aos territórios das certezas.

O Dr. Carlos Costa revelou ter avisado a família Espírito Santo de que ia ser removida. Na TVI, Marques Mendes, vinte e quatro horas antes, anunciara o cambalacho. Já destituído, Ricardo Salgado e os seus estabeleceram três negócios ruinosos para o banco, abrindo o buraco da vigarice para quase cinco mil milhões de euros. Quem são os outros cúmplices, e quais as razões explicativas de não estarem na cadeia?

Enquanto o País mergulha num atoleiro, o Dr. Passos nada o crawl, com esfuziante aprazimento, nas doces águas algarvias. Há dias, afirmou que os contribuintes não serão onerados com as aldrabices dos outros. Mas já foi criado um chamado Fundo de Resolução, com dinheiro procedente, de viés, do nosso próprio dinheiro, embuçado na prestação de um grupo de bancos. Quanto ao extraordinário Dr. Cavaco, o reconhecimento generalizado da sua inutilidade como medianeiro de conflitos, e conivente com o que de mais detestável existe na sociedade portuguesa, converteu-se num lugar-comum.

Foi o “sistema” que criou esta ordem de valores espúrios. Este poder dissolvente fez nascer, por todo o lado, a ideia do facilitismo, oposta às regras da convivência que estruturaram os princípios da nossa civilização, dando-lhe um sentido humano. Tudo é permitido, e esta noção brutal, inculcada por “ideólogos” estipendiados ou fanatizados concebeu as suas próprias regras. A impunidade nasce do “sistema”, e Salgado é o resultado, não a causa, o resultado de um aproveitamento imoral estimulado pelas fórmulas dessa ordem de valores. Surpreendemo-nos com o comportamento de quem assim foi educado, porém temos de estudar e de analisar aquilo que os explica.

O “sistema”, em cuja origem está a raiz do mal, não carece de “regulação”, exactamente porque a “regulação” nada resolve e apenas prolonga a crise sobre a crise. O capitalismo sabe e consegue simular a sua própria regeneração. Mas é uma hidra que se apoia em referências na aparência inexpugnáveis, realmente falaciosas. Enfim: o nosso dinheiro está à guarda de ladrões.

Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. BES

    Paulo F.,

    A matéria pode ser amis explicativa.

    Qua a manobra tem um jeitão de trampolinagem das boas, não há dúvida, afinal, um buraco de 5 bilhões de euros encontrado num banco particular não é pouca coisa, e o mais interessante é que ninguém foi preso ou levado a se explicar a respeito do rombo espetacular.

    Parece que a tal mágica salvadora, se já fosse do conhecimento geral há uns anos, teria sido a tábua de salvação de Calmon de Sá, Magalhães Pinto, Adrade Vieira, Nasser e tantos outros malandros brasileiros travestidos de banqueiros.

     

  2. Banco Espírito Santo

    Lembro que o Banco Espírito Santo era o proprietário do Banco Boavista  e deu um calote nos Clientes de vários de seus fundos quando o real foi desvalorizado pelo governo Fernado Henrique Cardoso.O Boavista tinha  fundos  do próprio banco aplicados em dólar futuro e repassou o prejuizo para os fundos de renda fixa(sem riscos) dos clientes.Até hoje ninguem explicou como foi feita a operação pois a BMF estava fechada e as ofertas de venda teriam que ser feitas em pregão aberto ao público.

    O Banco Central sabia do crime cometido(apurado pelos Fiscais em Relatórios) e permitiu que o crime e o Boavista fossem vendidos ao Bradesco(crime não pode ser vendido).O Cacciola recorreu ao Proer e se mandou com o dinheiro que era dos Clientes.O FonteCindan também se estrepou.O Banco do Brasil tentou fazer a tramoia mas foi descoberto e pagou todo mundo.Consta que eram os bancos citados que seguravam a cotação do dólar a pedido do governo.

    Quando comprou o cadáver do Boavista ,o Bradesco acabou como sócio do Espírito Santo-hoje está pagando pelos pecados. 

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador