Impressões da assembleia
por Industrial observador da FIESP
Isto lembra a fábula do “Lupus et agnus” do Esopo. Nela, o lobo acusa o cordeiro de sujar a água do córrego onde ambos estavam bebendo e, mesmo com o cordeiro alegando que isso era impossível, por ele estar a jusante do lobo, este último o ataca. Na Fiesp, os bolsonaristas da turma do Skaf, decidiram tirar o Josué da presidência mesmo sem nenhum motivo que justificasse a medida. O ridículo chegou ao ponto de, na assembleia, alguns destes representantes de sindicatos, acusarem o Josué de fazer a apologia do Marx, citando uma mostra realizada no espaço cultural da Fiesp. Na realidade, se tratava de uma retrospectiva do paisagista Burle Marx e não do filósofo alemão.
Destes quase 50 sindicatos, que votaram pela destituição do Josué, mais da metade não representa, na prática, nenhuma base industrial e, apenas, se valem de um sistema arcaico e ultrapassado de representação, herdado do Estado Novo, e que foi construído para o governo manter o controle do movimento sindical. Os trabalhadores foram os primeiros a reagir contra a tutela do Estado, já na década de 80, ao fundar a CUT que, sintomaticamente, foi considerada ilegal pelo governo. Na indústria, alguns setores formaram associações nacionais e se afastaram das entidades que fazem parte do sistema federativo, oriundo do Estado Novo.
Entretanto, a indústria, mesmo trinta anos após os trabalhadores terem fundado suas centrais, ainda não foi capaz de construir uma central única, ou seja, uma Associação Nacional de Associações Industriais, capaz de propor e defender modelos de desenvolvimento, e políticas industriais e de tecnologia, e de dialogar com o governo de igual para igual, em nome do setor como um todo. Ao contrário do agro, ou do setor financeiro, que centralizaram suas demandas, a indústria fala com o governo através de duas dúzias de associações nacionais, onde cada uma defende seus interesses mais imediatos, sem uma visão de conjunto. O resultado desta falta de unidade de ação pode ser visto na reforma tributária, onde a indústria, apesar de ser a maior interessada no caso, nunca chegou a uma proposta comum ao setor.
O fato dos setores industriais mais representativos terem voz própria e acesso ao governo, fez com que as Federações da Indústria fossem ocupadas, de forma crescente, pelo baixo clero, interessado em defender interesses paroquiais ou pessoais, e se transformando, em sua maioria, as federações em feudos ou capitanias hereditárias.
O grande pecado do Josué foi tentar alterar este modelo ineficiente, fazendo com que a voz da indústria voltasse a ser ouvida. Ao fazer isso ele mexeu nos interesses pessoais dos dirigentes destes pequenos sindicatos, que se vangloriam, perante seus associados, de fazer parte do poder, por terem algum cargo na Fiesp, e por serem amigos do presidente da entidade.
Assim, independentemente da anulação desta assembleia, e da tentativa de golpe, a lição que fica é a absoluta necessidade de modernizar a representação política da indústria, se quisermos que o setor industrial volte a ser um ator importante, e não um simples espectador, do desenvolvimento brasileiro.
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A FIESP é dos SKAFs….e o SKAF, digno representante dos donos de Barracões vazios para locação……
Se deram o golpe no governo federal, por que não na Fiesp? Por que não na paróquia para derrubar o vigário? Por que não no clube do Bolinha? Importante é ser “conservador nos costumes e liberais na economia”, seja lá o que tamanha patacoada posse significar.
É da crise que surge a oportunidade. Talvez seja o momento de independência e organização da indústria sob a liderança do Josué.
A indústria brasileira acabou em 93-94, com a URV e o real. Após isso, há uma queda crescente. A desnacionalização é a chave. Ao lado disso, houve o fim de uma geração de donos de indústrias. Os Ermírio de Morais se afastaram do setor industrial e foram ou para o agro ou para o setor financeiro. O lado industrial do Itaú ou acabou ou perdeu importância no grupo. Basta consultar a história das famílias que detiveram poder na FIESP desde o fim dos anos 40. Poucas restam como proprietárias de suas empresas. Isso, infelizmente, pode ser estendido para MG, RJ ou RS. Em Minas, a FIEMG é presidida por um bolnarista raiz, negacionista de vacinas, apoiador de Zema. Os herdeiros políticos de José Alencar, que dominavam a entidade, perderam a eleição em 2019. Nossa atual burguesia industrial está em processo de extinção. Todos querem viver de renda, de aluguel de galpões a aluguel de partidos políticos ou entidades sindicais.