O Pobre e o “Posto Ipiranga”
por Jorge Alberto Benitz
No Globonews, outro dia, se armou e infelizmente se desarmou logo uma boa discussão. Como sempre peguei o bonde andando, isto é, já estava em curso a polêmica. Otávio Guedes comentando a fala de posse da Tebet defendeu que ela poderia limpar a barra suja do liberalismo que com Paulo Guedes, encarnando o liberalismo no governo Bolsonaro, ficou mais conhecido por não gostar, ter nojo de pobre. Foi uma abordagem inteligente e malandra para não bater de frente com o colega liberal do grupo, Daniel Sousa, e ao mesmo tempo demonstrar que na agenda do liberalismo o pobre só entra como incomodo ou como burro de carga.
Daniel Sousa, que não é filho do Betinho como erradamente pensei durante muito tempo, liberal de carteirinha entrou na discussão depois dizendo que não é bem assim, que o liberalismo bla bla bla se preocupa com o pobre desde que bla bla bla.
Lembrei que até o pessoal da escola de Chicago do Milton Friedman aceita a ideia da bolsa- família, mas de forma temporária como lembrou meu filho economista. Para quem não sabe Milton Friedman é um dos principais gurus, senão o principal, da direita mundial. Durante a ditadura de Pinochet ele não só o elogiou como teve seus alunos e admiradores, os “Chicago Boys”, como condutores da economia chilena onde implantaram um regime econômico em que, por exemplo, tanto o pobre como a classe media eram ferradas dia e noite, pois, “não havia seguro de saúde universal, seguro-desemprego, gratuidade no ensino superior, nem pilares solidários no sistema de previdência” Entre as medida s adotadas por Pinochet, houve o fim de um fundo previdenciário coletivo, como o INSS brasileiro, e a transformação do SNS em SNSS (Sistema Nacional de Serviços de Saúde), um órgão que fornecia 27 serviços de saúde de forma autônoma.
A propósito, o Posto Ipiranga, digo o Paulo Guedes andou dando aula por lá durante a ditadura Pinochet convidado pelos Chicago Boys, seus iguais. Ele é da mesma escola ultraliberal, estudou em Chicago e pretendia implantar aqui o mesmo modelo econômico. Felizmente, não conseguiu apesar de ter privatizado o que deu por trinta dinheiros. Dinheiro que não se sabe para onde foi destinado. Talvez, para o orçamento secreto comandado pelo Centrão.
Lembrei agora de uma palestra dada por Gustavo Franco aqui em Porto Alegre no Hotel Embaixador. O Seminário já tinha começado e subiu ao palco aquele pequeno sujeito – verticalmente prejudicado, como dizem os politicamente corretos – com uma valise James Bond enorme. Nela, provavelmente, carregava seu ego gigantesco. Liberal de quatro costados, foi capaz até de encetar um estudo tentando levar Machado de Assis para o lado do liberalismo tacanho dele quando se sabe que ser liberal nos tempos do fim do império e da república velha e de Machado, era como ser de progressista e democrata hoje e até de esquerda, mas…. essa é outra discussão. O que quero assinalar da palestra dele usando power point cheio de imagens e tabelas, onde sempre ao se referir ao trabalho humano, usava o termo fator humano. E sempre o fator humano era colocado como custo, isto é, o ser humano no liberalismo somente entra como elemento que mais atrapalha do que contribui para o bom desempenho da economia. Quanto menos representar melhor para a boa performance econômica. A não ser no papel de consumidor….E de “fator humano” de baixo custo.
Jorge Alberto Benitz é engenheiro e escritor.
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